Por Ângela Rodrigues
angelargurgel@gmail.com
"O sábado foi feito por causa do homem,
e não o homem por causa do sábado”.
Saudades
do ar do sábado, mas especificamente, do último sábado do mês. Ele tinha cheiro
de poesia, gosto de amizade. Sabor de alegria. Era o nosso sábado. Um sábado
para tomar café com os amigos do grupo literário Café&Poesia. E, de súbito,
eles saíram de nosso calendário. Ninguém nos avisou que doeria tanto. Ou quanto
tempo demoraria essa “quarentena”.
Não nos preparamos para ficar sem “nosso
sábado”, sem as palestras, as rodas de conversas, o canto de Tony Silva, a
presença querida e poética de nosso Poeta Maior – Antônio Francisco. Não
estávamos prontos para ficar sem nossas manhãs literárias. Sem nossos
companheiros e convidados. Chegamos a acreditar que seria rápido. Estávamos errados.
Continuamos em isolamento
social. O amanhã ainda não chegou. Estamos presos ao agora. E o
nosso agora é feito de incertezas, insegurança. Bendita seja a arte que nos ajuda
nessa travessia. Abençoados sejam todos que participam do Café&Poesia que
nesse tempo de isolamento tem usado as redes sociais como uma alternativa para
“nossos encontros”. Nosso grupo de WhatsApp tem sido nosso lugar de conversas,
poesia, informações e diversão.
O nosso café virtual. Nosso ponto de encontro. Diariamente
somos brindados com o “Vamos poetizar o nosso dia?” de Vanda Jacinto, a
postagem do Evangelho feita por Dr. Marcos Araújo, a Meditação da palavra por
Pe. Manoel Guimarães, o Santo do Dia, por Raí Lopes, que também posta o link da
página dois do Jornal DeFato, onde alguns membros do grupo escrevem
quinzenalmente. Além dessas postagens diárias temos, vez por outra, as
sensacionais recitações de Dom Marcelo, que traduz nossos poemas para o
espanhol e os recita na língua de Cervantes.
Os maravilhosos recortes poéticos
de Flávia Arruda com seu ensaio boudoir, a poesia de Célia Medeiros, Dulce
Cavalcante, Ieda Chaves, Kalliane Amorim, Lília Sousa, Margareth Freire,
Marlene Maia, Riz Silva, Socorro Gurgel, Vanja Reis, cordel de Aldaci de França
e Sergio Rubens, as apresentações de Paulo Caldas Neto no piano e os áudios de
Raí Lopes ao violão.
Estamos com saudades dos vídeos de Dr. João Paulo de
Medeiros tocando sua guitarra. Parece muito? Ainda não acabou, tem os
exercícios/desafios que rendem belos textos. Já escrevemos sobre rede, mesa,
pia, pandemia. Eriberto Monteiro traz as notícias da Fundação Vingt-Um Rosado, Clauder
Arcanjo e David de Medeiros aparecem esporadicamente com notícias sobre novos
lançamentos e divulgação de nossas publicações.
Não importam se eles estão no
Norte, Sul, Sudeste ou Nordeste (precisamos encontrar alguém do Centro-Oeste
para juntar-se a nós), se aparecem todo dia ou não, todos são notas importantes
dessa imensa sinfonia poética. Além dos assuntos locais ainda compartilhamos textos
de autores da literatura nacional/mundial e celebramos a vida e as conquistas
dos amigos. Nossas festas de aniversário duram o dia inteiro. Começam a
meia-noite e vão até o último segundo do dia.
Nosso grupo tem de tudo um pouco
e muita, muita brincadeira. E assim, entre orações, poesias, informações e
muito humor vamos enfrentando esse distanciamento e acreditando que a
literatura, somada a fé e a amizade, pode nos ajudar a atravessar esse período,
mesmo que para isso precisemos atravessar a imensidão do espaço e transcender
os limites geográficos. Encontramos, na poesia e amizade, uma forma de, mesmo distantes,
continuarmos perto um do outro.
Esse
interesse comum nos mantém juntos, apesar de separados fisicamente. Enquanto perdurar
essa pandemia vamos continuar nos cuidando e alimentando nossas almas com esses
encontros nos espaços virtuais e sonhando com o dia que voltaremos a nos
encontrar para um café com muitas risadas, abraços, tapiocas, poesia e tudo
mais que temos direito. Somos gratos
pela presença da arte em nossas vidas, sabemos que ela não nos dá (todas) as respostas,
mas nos ajuda a formular perguntas que dizem muito sobre nós mesmo, o outro e
tudo que nos cerca.
Ela nos permite alcançar outros mundos, desbravar outros
caminhos e ajuda a perceber as “coisas banais” que se transformam em matéria
prima para nosso ofício de burilar palavras, lapidar versos e desenhar poesia
nessa íngreme paisagem de um cotidiano afetado por um monstro invisível que tem
revelado o pior e o melhor das pessoas. Se
“o sábado
foi feito por causa do homem” nós fizemos o Café&Poesia para (re)significar
os sábados daquele que gostam de arte, esse farol que nos ilumina e não deixa a
vida escurecer. Ela nos salva e nos liberta.
É nosso barco, nosso porto, nossa âncora
e nosso mar. Confesso, não está sendo fácil conviver com essa pandemia, mas sem
a poesia, essa arte capaz de “dizer o indizível, exprimir o inexprimível e
traduzir o intraduzível” e a amizade desse grupo, certamente seria muito mais
difícil. Vida longa ao Café&Poesia! Esse espaço tão plural e tão cheio de
vida.
Ângela tem o dom de nos encantar com suas poesias, mesmo falando em prosa - e sobre um assunto cheio de nostalgia -, sobre o que nos causa, por exemplo, essa pandemia. E ela discorre, maravilhosamente, sobre a criatividade dos seus pares, nesses tempos de isolamento. Belo texto. Uma pena qualificada.
ResponderEliminar