quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

LIVRO SOBRE O TRIO MOSSORÓ


    
  Minha História: de Oseas Lopes, Trio Mossoró a Carlos André.   
 Autores: Oseas Carlos Andre, Almir Nogueira e Lúcia Rocha


Entrevista de Lúcia Rocha, co-autora, a Mário Gerson, do caderno cultural da Gazeta do Oeste, Mossoró, em junho de 2014, por ocasião do lançamento do livro Minha História: de Oseas Lopes a Carlos André, em co-autoria com Oseas Lopes e Almir Nogueira. Livro com 212 páginas, publicado pela Fundação Vingt-un Rosado e faz parte da Coleção Mossoroense, com o apoio da COSERN, Petrobras, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Lei Câmara Cascudo e Governo Federal.   

              

Como começou a ideia do livro?

Quando produzi o programa Mossoró de Todos os Tempos, vi que Oseas Lopes era dono de uma trajetória de sucesso na música  brasileira, como cantor, compositor e produtor  musical, incluindo dentre seus trabalhos como produtor, grandes intérpretes, a começar pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, dentre outros, algo que eu desconhecia. Como jornalista e me achando uma pessoa bem informada, que não sabia desse feito dele, passei a incentivá-lo a escrever sua história. Fui surpreendida também com a confissão dele, de que um primo meu, o radialista Canindé Alves, havia sido seu descobridor, aquele que ouviu sua voz enquanto passava numa rua e o convidou para fazer um show no aniversário da Rádio Tapuyo. Oseas era apenas um rapaz de dezessete anos de idade, pintor de carroceria de caminhão, que cantava enquanto exercia sua atividade profissional. Esse fato é excepcional. E único.  

Você já vinha estudando o assunto ou a pesquisa tomou ainda mais forma quando da proposta em ajudá-lo na confecção da obra?

Mesmo morando em São Paulo sempre procurei ler tudo a respeito da terra e do Nordeste. Fora isso, viajava constantemente por todo o país, acompanhando artistas, primeiro Mara, depois a banda Raça Negra e testemunhei o quanto o forró é executado em emissoras de
 rádio. Uma vez, entrando na Rádio Farroupilha, a maior audiência de Porto Alegre estava tocando Eliane, a rainha do forró. Fiquei surpresa.   Em São Paulo, frequento até hoje o Centro de Tradições Nordestinas, que é um espaço enorme, que cabe mais de dez mil pessoas, uma espécie de recanto do Nordeste, onde a gente encontra o melhor da gastronomia nordestina e ouve o melhor da música nordestina, lá a música do Trio Mossoró é executada por outras bandas, por exemplo. Conheço quase todo o repertório do Trio
Mossoró e lia tudo a respeito dele, como fã. Oseas Lopes me era familiar pelo fato de que tocou e cantou na casa do meu avô materno, sanfoneiro, quando eu tinha apenas cinco anos de idade e essa imagem é bem presente em minha vida e na de primos e tios que lá estavam. Foi levado por Canindé Alves, que queria fazer um agrado ao avô, à época, com mais de oitenta anos de idade. Então, desde criança trago essa coisa de música, sempre fui ligada tenho como referência meu avô, que tocava e cantava o repertório de Luiz Gonzaga. Profissionalmente, a partir desse contato para a produção e gravação do Mossoró de Todos os Tempos e agora organizando a história de Oseas e de seus irmãos, Hermelinda e João Batista - João Mossoró - surpreendi-me com o volume de informações que encontrei nas redes sociais, no Google, em sites e blogs especializados em música regional e até mesmo em livros, onde eles têm um lugar de destaque, como pioneiros do ritmo forró de boa qualidade na região Sudeste, repertório com grandes compositores, como João do Vale,  ainda hoje tido como um dos maiores compositores que este país já teve e foi João do Vale o padrinho do primeiro LP do trio, ele foi aquele que pegou Oseas pelo braço e foi atrás de gravadora, enfim. Se não fosse o encontro com João do Vale durante uma entrevista numa rádio, certamente não haveria história para contar.   

Como está sendo esta nova experiência?

      Por diversas vezes Oseas me chamou para ajudá-lo na feitura desse livro, eu dizia a ele, como digo a outros mossoroenses de destaque lá fora, vão escrevendo, vão se lembrando do que passaram e coloquem no papel, por enquanto estou ocupada com outros trabalhos, não desmerecendo nenhum talento da terra, lógico, mas como profissional tenho compromissos com clientes em São Paulo, para onde me mudei no inicio de 1991, então, são mais de vinte anos de convivência e relacionamento profissional com pessoas que contam com o meu trabalho e preciso sobreviver na profissão que escolhi para não ser mais um jornalista reclamando de má remuneração. De lá para cá, tudo o que fiz relacionado a Mossoró, foi muito mais na base da paixão pelas coisas da terra do que pela sobrevivência profissional. Então, Oseas foi escrevendo ele mesmo sua trajetória, já que faz uso do computador para troca de mensagens e a gente faz isso desde 2006, quase que diariamente. Em dezembro, eu estava fora quando o professor e escritor Almir Nogueira me ligou convidando-me a fazer parte do projeto do livro de Oseas. Naquele momento aceitei, passei umas orientações para Almir sobre a logística desse trabalho, a ser desenvolvido por nós três, no que vem dando certo. Em meados de janeiro quando retornei a Mossoró, comecei a organizar o texto, pois Oseas é compositor e músico, não um escritor. E escrever livros é diferente, ele sabe fazer música. Eu, não. Sei escrever livros. Tem jornalista que escreve maravilhosamente bem, mas se não estudar, se não capacitar para escrever livros, não será um bom escritor. O leitor de livro é mais exigente do que o leitor de jornal. Então, o escritor tem que ter um bom vocabulário, ser um bom leitor. O professor Almir é responsável por todo o material gráfico do que foi produzido por Oseas Lopes, como cantor, compositor, produtor musical e passou a pesquisar, conseguir capas, fotos, enfim. Oseas sempre participando de tudo, numa troca de ideias e informações via e-mail. Nesse período esteve duas vezes em Mossoró, quando nos reuníamos o dia inteiro, almoçávamos, inclusive. Uma vez que o texto dele estava copidescado por mim, em ordem cronológica para melhor situar o leitor, para que este não se perdesse na história, passei a pesquisar e encontrei farto material publicado nos grandes jornais do Rio de Janeiro, fotos e fatos que aconteceram que nem Oseas lembrava mais, como por exemplo, a participação do Trio Mossoró no programa Os Trapalhões, onde atuou cantando uma música enquanto Didi e seus companheiros faziam uma bagunça em cena. Também descobri que a Rede Globo havia lançado uma série de LPs com a trilha sonora de Os Trapalhões e, para nossa surpresa, no primeiro LP, há uma faixa do Trio Mossoró e mais uma vez, Oseas não lembrava. Fora outras informações que completam a história dos três irmãos. Se não fosse esse trabalho de garimpar na internet e com contatos de Mossoró, Natal, São Paulo e Rio de Janeiro, jamais esse livro sairia completo. A gente corre até o risco de deixar de fora alguma informação relevante, como expliquei, na internet, há um volume imensurável de informações sobre os irmãos de Mossoró que no início dos anos 1960 ousaram levar o nosso forró para o Rio de Janeiro. À época, Oseas tinha vinte e um anos de idade, Hermelinda tinha quinze e João Batista, apenas treze anos. A irmã vai velha, Laurinha, também foi fazer companhia a eles e tomar conta do apartamento que o pai alugou e acompanhava os irmãos menores em shows e programas de rádio e televisão. 

Comente um pouco sobre o Trio Mossoró.

      O Trio Mossoró começou como que uma brincadeira aqui em Mossoró, a partir do convite de Canindé Alves para Oseas se apresentar na comemoração do primeiro aniversário da Rádio Tapuyo, em 1º de maio de 1956. Como se saiu bem, de tão aplaudido, logo foi contratado para ser cantor exclusivo da rádio, ou seja, não poderia cantar na concorrente Rádio Difusora, a pioneira da cidade, que tinha programas de auditório também. Oseas era filho de um despachante do porto de Areia Branca que era fã de Luiz Gonzaga e depois desse show na rádio, passou a investir no filho, comprou sanfona, arrumou professor e esse rapaz ousou partir para vôos mais altos, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, onde Luiz Gonzaga imperava no forró, ao lado de Marinês, de Campina Grande, ou seja, pessoas daqui do Nordeste que lá estavam se dando bem, isso motivou o rapaz que achava Mossoró pequeno para seus sonhos. Chegando ao Rio de Janeiro, passou a cantar em programas de auditório da Rádio Nacional e Rádio Mayrink Veiga. Ao sentir que estava na hora de chamar os irmãos, João e Hermelinda, com quem vinha se apresentando em Mossoró nos últimos tempos. Em seguida, encontrou em João do Vale, grande compositor maranhense, o padrinho que precisavam para gravar o primeiro disco e, com a música Carcará, que tempos depois lançou Maria Bethânia como cantora, eles atingiram o ápice da carreira, vencendo o Troféu Euterpe, então, a maior premiação da Música Popular Brasileira, num grande evento no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de estrelas da MPB. Mossoró soube desse feito tempos depois, porque naqueles anos 1960, não havia a comunicação de hoje. O Trio Mossoró nunca contou com o trabalho de divulgação de uma assessoria de imprensa, algo raro naquele tempo. No início dos anos 1970, o forró foi perdendo espaço no Rio de Janeiro e em São Paulo para outros ritmos, como a Jovem Guarda, por exemplo. Então, o trio foi extinto, Oseas Lopes adotou o nome artístico de Carlos André e gravou um LP em 1974, que vendeu até hoje, mais de dois milhões de discos, com a música que ficou famosa como Quebra Mesa, ainda bastante executada em todo o Nordeste. Os outros irmão até hoje também cantam em carreira solo. Hermelinda chegou a gravar música romântica com o nome Ana Paula, mas voltou para o forró. João Batista adotou o nome João Mossoró e ficou no Rio de Janeiro, onde se apresenta cantando forró e fados portugueses. 

Qual a contribuição do trio para a música nordestina? Existe outra obra que fala sobre isso?

      Recentemente foi lançado o livro O Fole Roncou, de Carlos Marcello, o mesmo autor da biografia de Renato Russo. E o Trio Mossoró tem destaque com fotos dos integrantes e de algumas capas dos seus LPs, além de trinta páginas de texto dedicadas a trajetória deles. Esse livro conta toda a história do forró e já indico para quem gosta do gênero, é a maior prova de que o Trio Mossoró contribuiu para a música nordestina. O Dicionário Cravo Albim, de Música Popular Brasileira também registra a história dos irmãos mossoroenses e outras publicações nordestinas e do Rio Grande do Norte registram a contribuição deles, não somente como intérpretes, como compositores, pois todos os integrantes são compositores, por exemplo, João Mossoró tem letras lindas gravadas por artistas de relevância nacional. Hermelinda é autora de um grande sucesso de Elba Ramalho, como Toque de Fole, algo que eu não sabia, por exemplo. Os irmãos inspiraram outras bandas e trios no mesmo estilo musical, sem sombra de dúvidas e até mesmo a pessoas do sexo feminino, porque antes de Hermelinda passar a integrar o Trio Mossoró, o pai relutou, porque era do sexo feminino, no que Canindé Alves, que havia sugerido ela ingressar na carreira artística, na mesma hora demoveu seu Messias, porque Canindé alegou que sua então namorada Ivanilda Linhares, trabalhava com ele na rádio. E Hermelinda honrou sua família e a vida pessoal, pois era por demais assediada por outros artistas e apresentadores, mas nunca cedeu, nunca se envolveu com ninguém em troca de marketing de projeção pessoal. O autor de O Fole Roncou comenta esse assédio. Outra referência sobre o Trio Mossoró, é que Tom Jobim ouvia em casa o LP do Trio Mossoró e comentou com João do Vale que a melhor música que ele havia ouvido é A Lavadeira e o Lavrador, gravada pelos irmãos mossoroenses. Oseas encontrou Nana Caymmi num estúdio e esta se derreteu de elogios ao Trio Mossoró. Recentemente Kydelmir lançou livro sobre Luiz Gonzaga e o Rio Grande do Norte e, é claro, fala desse momento em que Oseas produziu o Rei do Baião, bem como quando Hermelinda e João o acompanharam em alguns shows, antes de sair o primeiro LP do Trio Mossoró. Outro fato interessante, é que a música do Trio Mossoró era executada na França. Jaime Hipólito confessou a Oseas que ouviu numa rádio de Paris.              

Quem está envolvido no projeto do livro, fora você e Oseas?

      É o professor Almir Nogueira, diretor da Biblioteca Municipal Ney Pontes, historiador, autor de vários livros sobre Mossoró. Agora que conclui a minha parte, ele está já envolvido com a diagramação e supervisionando tudo, desde capa, legendas das fotos e tudo o que envolve a parte gráfica. Oseas é nosso parceiro e é bom trabalhar com ele, obediente, é consciente que tem uma bela história e que ela está em boas mãos. Mas é chorão para falar de momentos que quer esquecer ou quando lembra da família que tanto colaborou para o sucesso deles, os pais e irmãos.  


Pretende lançar quando? Como?

       Essa parte sobre lançamento está, especialmente, sob a responsabilidade de Almir. Como eu disse no início, sou bastante ocupada com outras tarefas até fora do estado, meu compromisso com eles foi a parte do texto, organizar, pesquisar e dar o texto final. Mas acredito que no final de maio, antes mesmo do evento Mossoró Cidade Junina. Porque sugeri a Oseas fazer um lançamento durante todo o mês de junho, nos grandes eventos juninos do Nordeste. Como ele mora em Recife, poderá aproveitar o calendário de eventos juninos em Pernambuco, na capital e interior e estados vizinhos, como Campina Grande, Assú, Fortaleza, enfim, onde houver um evento público em que possa encaixar na programação, seria muito bom que ali estivesse ele com disposição para sessões de autógrafos. Depois vamos planejar lançamentos no Centro de Tradições Nordestinas, de São Paulo e Rio de Janeiro. Em agosto, Oseas estará participando juntamente com Carlos Marcello, autor de O Fole Roncou, da Feira do Livro de Mossoró, no que vai enriquecer o conteúdo desta feira, isso me agradou bastante. Talvez seja um momento único na vida de Oseas onde a cidade poderá valorizar mais ainda o seu trabalho, o seu histórico, pois o rádio de Mossoró o prestigia bastante. Talvez Oseas seja um dos poucos talentos musicais deste país onde sua música seja executada com freqüência em sua terra natal, algo incomum em outras cidades. Como boa ouvinte de rádio posso garantir que não há um dia em que eu não ouça a voz de Oseas Lopes, seja no Trio Mossoró ou como Carlos André. Mesmo que eu esteja ausente da cidade, pois acompanho a programação local através do Iphone, onde quer que esteja.        

Você acredita que Mossoró reconheceu o valor desse trio?

        Na medida em que a cidade tinha informações vindas do sucesso da região Sudeste, sim. Em 1965, a Rádio Rural trouxe os irmãos do Trio Mossoró, como celebridades, segundo Oseas. Eles vieram de avião, inclusive, ele trouxe a família, esposa e filhos, com todas as despesas pagas pela rádio, ficaram no melhor hotel da cidade, no caso, Esperança Palace Hotel.  Com certeza, o poder público da cidade recebeu melhor outros artistas, pois sabe-se de homenagens que foram feitas a artistas de outras cidades. Os integrantes do Trio Mossoró só vieram receber reconhecimento pelo poder público em 2009, através de projeto de uma vereadora que nem da cidade é, no caso a hoje prefeita Cláudia Regina.  A gente enxerga melhor o sucesso dos outros do que dos nossos conterrâneos, mesmo com toda tecnologia, com redes sociais, acho que hoje, Mossoró não sabe dos talentos da terra, não que não valorize. Mas a nossa imprensa só dá destaque quando alguém daqui chega a participar de um programa de televisão exibido em rede nacional, por exemplo. A Titina Medeiros, que fez sucesso na Globo, com uma novela recentemente é um exemplo claro. Precisou ir ao programa do Faustão para a imprensa de Natal chamar a atenção do poder público. Eu pergunto: onde estava a imprensa de Natal quando essa moça começou a se destacar em Natal, fazendo teatro? Por que chamar o poder público? A imprensa por si só pautando a moça, faria com que o poder público tomasse conhecimento desse talento. Enfim. Vi gente começar em São Paulo, ralar bastante, gente até do Nordeste e só merecer o destaque em sua cidade, quando não há mais nenhuma saída, a não ser reconhecer que são pessoas especiais, nasceram para a arte e assim seja. Não é uma situação de Mossoró. Há vinte anos, em Salvador, as rádios tocavam raramente Bethânia, Caetano e Gal, e quando tocavam, era sempre à noite. Precisou estourar o axé em São Paulo e Rio de Janeiro para a própria Bahia, que é um celeiro de talentos, passar a executar a música baiana. Dá gosto você estar em Salvador e encontrar um Compadre Washington guiando um Mercedes conversível, coisas que antes não se via, por exemplo. Quero ainda ver um Reynaldo Bessa ser reconhecido em sua cidade, prestigiado quando faz um show e a mídia divulga, repercute, dá espaço para ele. Em São Paulo, ele lota os espaços públicos e faz parte da agenda cultural da prefeitura. Sua música é executada em FMs que tocam MPB. Espero, sinceramente, que o mossoroense leia o nosso livro de Oseas Lopes e que saiba o quanto ele foi importante para a carreira de muita gente, inclusive.  Porque são essas pessoas que dizem em seus depoimentos.          

Comente um pouco sobre sua carreira

        Sou formada em Ciências Sociais na UERN e Comunicação Social na UFRN. Ainda  estudante de jornalismo tive experiência profissional fazendo reportagens especiais, no O Mossoroense e no extinto Dois Pontos, de Natal. Por causa do meu bom texto, fui chamada por Osair Vasconcelos, para a TV Cabugi. Ao final do curso, pedi demissão e Osair tentou me demover da ideia de ficar na Cabugi. Desembarquei no TJ Brasil, no SBT, em São Paulo. No TJ recebi um convite irrecusável para cuidar da carreira de Mara Maravilha e ser diretora de palco do programa dela, também no SBT. Foi tudo rápido e foi ótimo atuar no show business. Como jornalista, pude constatar que 80% do que é publicado sobre a indústria de entretenimento é fantasia, para não dizer, mentira. Dois anos depois, tive que dar um tempo e retornei a Mossoró para acompanhar tratamento médico de mamãe, que estava com depressão, à época. Em Mossoró, fui chamada para abrir a sucursal da TV Ponta Negra e capacitar os profissionais contratados. Oito meses depois, retornei para São Paulo, decidida em não mais trabalhar em regime de 24 horas, como vinha fazendo com Mara. Então, fui assessorar a banda Raça Negra, que à época vendia um milhão e meio de discos por ano. Uma experiência maravilhosa, onde comecei a pensar na possibilidade de escrever um livro com a história deles, muito bonita. Ainda devo esse livro a Luiz Carlos. A banda Raça Negra foi perdendo alguns componentes, então passei a acumular a assessoria de um empresário palestrante. Foi quando comecei a desenvolver no computador a história da empresa dele, de cosméticos. Ele só soube disso quando estava pronto, foi meu primeiro livro. Criei gosto pela coisa, participei de um curso para escritores e não perco as palestras de biógrafos na Bienal do Livro de São Paulo, nem na Feira do Livro de Mossoró. De lá para cá, venho escrevendo livros na condição de ghost writer - escritor fantasma - que me dá suporte financeiro. Desse empresário, já foram mais de dez livros sobre vendas e motivação. Faço isso como hobby, pois quando a gente faz o que gosta, tudo é lazer. Posso dizer que desde que me graduei em jornalismo nunca mais trabalhei, vivo eternamente de férias. Só sei que o povo não está de férias quando passo em frente a um colégio e vejo pais esperando os filhos. Retornando a Mossoró para acompanhar tratamento médico de mamãe - que tem síndrome de pânico - escrever livros passou a ser minha principal atividade profissional. Em Mossoró já escrevi alguns, o mais interessante foi o de um empresário que não quis lançar. A proposta dele foi deixar para os seus descendentes sua história. Ao final do trabalho, ele gostou tanto do resultado, que me gratificou com um cheque. Não me devia mais nada, mas fez questão. Para Mossoró, acho que é algo raro. Esse cliente é uma pessoa muito especial. Provou que é um grande empresário, que honra sua história de sucesso e pessoal. Este ano tenho mais dois livros a lançar, espero que um deles na próxima feira do livro. São projetos meus. Devo registrar que em 2005 lancei em São Paulo e em Mossoró, o Catadora de Sonhos, que sabe-se lá como, chegou na França e mereceu reportagem no Le Monde. Já recebi convite de três escolas, de São Paulo e Salvador para fazer uma nova edição de Catadora de Sonhos, numa linguagem infanto-juvenil, para ser adotado como livro didático. Ainda não consegui tempo e também não é fácil escrever para essa turma. Acho-me uma grande incentivadora de escritores. Participo do desenvolvimento de livros de algumas pessoas em São Paulo. Nos próximos dias encontrarei pessoalmente com cinco deles, mas esse trabalho a gente desenvolve pela internet, que é uma excelente ferramenta de trabalho.

Como Oséas está encarando relatar essa história de sua vida e, ao mesmo tempo, da vida do Trio Mossoró?

Acho que ele está vendo como uma oportunidade para contar aos seus conterrâneos o seu feito, de menino sonhador, quando morava na beira do rio Mossoró, onde funcionou há algum tempo o Colégio Geo. Houve momentos no livro em que mandei e-mails para Oseas, pedindo mais detalhes de alguns fatos que ele achava irrelevante, por exemplo, e que nos aprofundamos e rendeu bons capítulos. Observa-se que Oseas foge ao assunto família, acho que por causa de três tragédias que ele viveu. A mais conhecida foi com o irmão Cocota, que veio a ser assassinado com arma branca, aos vinte e poucos anos. Ele afirma que era o mais talentoso para a música, morto numa festa de despedida quando ia se juntar aos irmãos no Rio de Janeiro. Encontrei detalhes sobre esse assassinato em jornais da época e inclui, lógico. Na cabeça dele, essa história é dirigida para os conterrâneos, mas esse livro vai ter um público mais abrangente, em nível Nordeste e, por que não dizer, Brasil? Quem mais descreve sua trajetória são os amigos artistas que enviaram depoimentos, gente como Luiz Vieira, Michael Sullivan, Zé Messias, o jurado mais famoso do Brasil; Cláudio Fontana, Alcymar Monteiro, Fernando Mendes, Bartô Geleno, dentre outros. Fagner se dispôs a ler o livro para então escrever algo, sendo assim, irá prefaciar o livro, tem vínculos fortes com Oseas, já gravou música de sua autoria, Orós II. São pessoas para quem Oseas produziu discos e deu oportunidades em gravadoras, à época em que foi diretor delas.                

Considerações finais.

Em Mossoró e região, há muitas histórias interessantes que merecem o registro em livro, mas, infelizmente, as pessoas não valorizam o quanto deveriam. O poder público poderia também investir nisso, ou pelo menos, incentivar. Penso em desenvolver ao longo do tempo,
 outras biografias de gente de Mossoró ou que a adotou como sua cidade e aqui cresceu, desenvolveu-se e ganhou destaque profissional em alguma área. Gostaria muito de escrever a biografia de Bartô Galeno, por exemplo, a gente já vem há um tempinho conversando sobre isso. Mantenho sempre contato com ele e sei do seu sucesso a partir de São Paulo e Rio de Janeiro.   Gostaria de escrever sobre o ator Antonio Ysmael, bem como Elizeu Ventania. Porém, fica a pergunta: para quem vou vender o livro de Elizeu Ventania? Livro é caro, livro dá trabalho e, costumo dizer, livro pesa muito. Tente embarcar com uma caixa de livros para lançar em outra cidade e saberá. Lamento, profundamente, o momento que vem passando a Fundação Vingt-un Rosado, como lamento o acervo de Dorian e de Raibrito, homens que enquanto vidas tiveram, batalharam pela nossa cultura, nossa história, foram documentaristas e historiadores de um passado bem recente, deram sua contribuição e hoje ignorados, não apenas pelo poder público, mas pelos que fazem a cidade. Quantos já leram suas obras? São riquíssimas. Não me canso de relê-los. O livro Memórias de Um Retirante, de Raimundo Nonato, obra publicada por Vingt-un, é melhor do que Os Sertões e Vidas Secas, juntos. Essa falta de incentivo ao autor local desestimula o surgimento de novos pesquisadores e historiadores. No entanto, permanecem bem vivos no meu cotidiano, em minha biblioteca. Desenvolvi meu texto lendo Dorian Jorge Freire, algo que nenhuma faculdade ensina. Imagino como sua família abriu mão de um mínimo de conforto enquanto o pai colecionava livros caros.  Onde estão os livros de Dorian, a hemeroteca de Raibrito e a obra de Vingt-un, minha gente?   

Contatos com Lúcia Rocha, co-autora do livro: 84 - 99668.4906
E-mail: luciaro@uol.com.br
Instagram: @luciarochareal
Youtube: Lúcia Rocha Real
Facebook: Lúcia Rocha Real



                             Trio Mossoró com os co-autores Lúcia Rocha e Almir Nogueira