sexta-feira, 20 de agosto de 2021

PROTEÇÃO OU ACESSÓRIO?



                                                                    Vanda Jacinto


Vanda Maria Jacinto

Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa

v.m.j@hotmail.com

      Por mais incrível que possa parecer, ando sem tempo para muitas coisas. Por isso, aproveito minhas caminhadas diárias, para pôr em ordem as ideias soltas…
      Foi assim, enquanto arrumava a máscara no rosto, que me questionei sobre esse tão precioso acessório unissex, “modelito” 2020/2021. Será ele passageiro, como tantos outros aderidos anteriormente? Ou será que veio para ficar?
      O que sei é que, desde o início dos tempos, quando a instigante serpente conseguiu mudar os rumos do paraíso, foram surgindo as mais variáveis vestimentas e os acessórios ganharam vida, passando a integrar nossas indumentárias. Uma folha de parreira aqui, um ossinho no cabelo ali, um cinto marcando a cintura, uma fivela no cabelo, uma argola para realçar o pescoço, um batom para embelezar o sorriso; e, assim, vamos nos enfeitando na efêmera passagem por esta vida.
       Impressionante como somos influenciados pelos modismos. Não importa se a moda-estação não combina com a nossa região geográfica, o negócio é estar “antenado” com as novas tendências. Um exemplo claro disso é o uso de calças jeans apertadas – principalmente em lugares muito quentes, como a nossa cidade –, mesmo sabendo que não faz bem à saúde, é frequente o seu uso. Aliás, quanto mais apertada a calça, mais a moda ganha força!
       Assim acontece em inúmeras situações. Acho que, propositadamente, os modismos não vêm acompanhados de bula, sabe, mostrando os efeitos colaterais de suas práticas. Tipo: brincos grandes e pesados podem rasgar a orelha; cuidado com os batons com chumbo na fórmula – podem acarretar problemas nos lábios –; os óleos corporais, tão perfumados e propagados, não hidratam a nossa pele. As tendências de moda de roupa acompanham as estações, portanto, segui-las fielmente é usá-las por tempo determinado e não para todo o sempre ou até que sirva para alguém... E, assim, a carruagem anda...
       Agora, um modismo que está em alta já há algum tempo, e tão cedo não nos deixará, é o culto à “aparência jovem”. Esse veio para ficar! A longevidade sempre foi algo que inquietou o ser humano, enquanto “ser vaidoso”. Os avanços nessa área têm sido alarmantes. Plásticas cirúrgicas, atividades físicas, aplicações de produtos “milagrosos”, alimentação balanceada, complementos vitamínicos, só para citar alguns dos muitos cuidados que se vêm tendo. Com isso, a média de vida tem aumentado e, junto a tudo isso, a ideia (ainda que falsa) da eterna juventude.
        Foi-se o tempo em que uma senhorinha de cinquenta anos tinha como passatempo debulhar o terço pela manhã, tarde e noite; além, é claro, de fazer mimos de tricô ou crochê para toda a família. O mesmo acontecendo com seu companheiro, que, também, mudou totalmente a rotina. Não se vê mais os senhorzinhos nas praças, voltados para os jogos de tabuleiros, ou jogando conversa fora numa roda de amigos. No entanto, as pistas de caminhadas e academias estão abarrotadas deles.
         A prática de atividades aeróbicas e de musculação por pessoas da “melhor idade” toma boa parte dos espaços fitness. Não mais querem se ocupar de trabalhos manuais. A moda da vez é: pilates, ioga, hidroginástica, musculação, caminhadas, pedaladas etc. Essas estão entre as suas atividades preferidas.
         Como tudo tem dois lados, até certo ponto isso é bom. Todavia, quando o bom senso deixa de funcionar, a coisa pega! Quando o exagero sobe à cabeça, fica difícil contornar a situação. Lembro-me de um episódio que até hoje me faz rir… Uma senhora de oitenta e quatro anos, toda encarquilhada, chegou à academia exigindo um programa de musculação. Na melhor das intenções, o professor quis mostrar, como opção, a atividade de hidroginástica, mas ela, de pronto, mal olhou o grupo e foi logo dizendo: “Não! Isso é coisa para velho!” Então é isso, às vezes o pensamento e a vontade andam muito à frente da lógica!
          Mas, voltando ao nosso assunto primeiro…
          A máscara de proteção, seja ela caseira ou não, estou convicta de que a usaremos para todo o sempre, lógico que, em alguns casos específicos, não tão frequentemente como está sendo hoje. Mas, o alerta deve permanecer. Assim como o uso obrigatório dos cintos de segurança nos carros, que foi uma luta para nos acostumarmos, acredito que com as máscaras também vai se repetir a história. Eu mesma, de início, vivia esquecendo, não conto as vezes em que voltei chateada do meio do caminho, para pegá-la; no entanto, agora, não saio sem que a coloque!
           No momento, as máscaras caseiras – hoje produzidas em larga escala –, não mais para suprir a falta das industrializadas, mas acompanhando as tendências de modelos e estampas, é o acessório mais propagado. Combinar a máscara com o look da vez é a melhor pedida. A diversidade de cores, modelos e materiais, é infinita! É bom poder tornar leve e divertido algo que se tornou obrigação e salvação para muitos. 
          Pode até ser exagero de minha parte, mas já vejo, nas vitrines das lojas, os manequins com máscaras combinando com o figurino em exposição.
          Como proteção ou acessório, o importante é usá-la. E proteção nunca cai de moda.
          Fique em casa. Mas se for sair, use a máscara! 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

ESSA OU AQUELA? A PRIMEIRA OU A ÚLTIMA?




Vanda Maria Jacinto

Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa

E-mail: v.m.j@hotmail.com

       Uma vez por ano, quando da visita ao oftalmologista - para consulta de rotina - passo por aperreios bem peculiares à situação. 
        Na sala de espera já começo a me angustiar. Nunca sei se vou acertar os questionamentos que ele – o oftalmologista – me faz durante a consulta...

Não sei, mas não te incomoda quando o profissional fica mudando aquelas lentes, e te perguntando: essa ou aquela? A primeira ou essa? Essa última ou a segunda? Fico toda perdida. São tão parecidas que nunca consigo distingui-las!

Diante de tanta modernidade, fico me questionando se ainda não inventaram algo mais eficaz...  Sinceramente, considero essa metodologia ultrapassada e deficiente. Não é possível que ainda não tenham inventado algo melhor e mais prático.

Sem ter como adiar esse momento anual, o jeito é enfrentá-lo...

Por não ter escolhido adequadamente o meu último corretivo, para a minha visão deficiente, cá estou eu sofrendo a mesma fobia. Movida pela estética, adquiri uma armação com hastes brancas. Em pouco tempo, estavam tingidas de vinho, conforme a cor das minhas madeixas. Assim sendo, bem antes da famigerada consulta, tive que me submeter ao incômodo de outra, pois incoerente seria trocar somente a armação.

Após a decisão tomada, encaminhei-me para o consultório. Enquanto aguardava a vez, fiquei imaginando como agiria durante a consulta. Seria sincera dessa vez, diria que não me sinto bem com aquelas mudanças de lente e aproveitaria para solicitar outro jeito. Com certeza, ela iria me atender...

De repente, a atendente falou num tom que só as atendentes de consultórios oftalmológicos conseguem:

Dona Vanda, pode entrar.

Depois de justificar o motivo antecipado da minha estada ali, sentei-me na cadeira própria e, acreditem, fiquei muda. E o processo teve início. Essa ou essa? A primeira ou a última? A última ou a segunda?

Enfim, apenas balbuciei que nunca acertava as lentes, o que pelo jeito não afetou em nada, pois ela prosseguiu a sua rotineira consulta.

Saí desolada da clínica, porém, mesmo assim, fui para a ótica. Adoro escolher a armação – momento lúdico para mim!

Armação escolhida, novo processo de medição não sei de que – outra coisa que nunca sei qual a serventia –, mas me submeti.

Dias passados me ligaram da ótica avisando que os óculos haviam chegados. Fui o mais rápido possível!

Assim que peguei o meu novo corretivo visual, me decepcionei. Havia novamente feito uma escolha errada, as suas hastes também tinham detalhes em branco, mas já era tarde; e isso não foi tudo. Não conseguia enxergar nitidamente com os novos óculos. Algo estava errado.

Medidas e conferências foram feitas e nada de se achar o problema. De volta ao consultório, a atendente também confirmou a receita. Estava tudo certo.

Depois de muita peleja, voltei à ótica e mandei trocar as lentes pelo mesmo grau dos óculos antigos.

Depois do caso passado, toda feliz, verificando no espelho, todos os ângulos possíveis e imagináveis – com os novos óculos, fiquei sabendo que a única diferença entre as receitas estava exatamente na mudança ocorrida no “eixo”, resultante daquele processo lá do início do texto... Essa ou aquela? A primeira ou a última?

Portanto, fique esperto, ou melhor, de olho bem aberto, quando for à uma consulta no oftalmologista, e nunca permaneça nas dúvidas em relação àquelas lentes!

Eu? Já estou preocupada com a minha próxima consulta...