Vanda
Maria Jacinto
Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa
v.m.j@hotmail.com
O isolamento obrigatório me fez,
literalmente, perder a noção do tempo. Na terça-feira, assustei-me quando uma
pessoa conhecida me desejou uma “ótima quinta-feira!”
Quatro e meia da manhã ainda está
escuro, mas o canto dos galos já anuncia que o dia não tarda. Logo mais a
barulheira se instalará, pois eles, os galos, dividem o habitat com outras aves
e parecem fazer questão de acordar a todos indistintamente.
No céu surgem nesgas de luzes
afogueadas que são visíveis, principalmente por causa das nuvens que se formam
no horizonte e, com isso, as refletem para o nosso planeta. Um verdadeiro
espetáculo! A aurora inicia a sua “amostração” multicolorida, despertando a
natureza para a devida recepção ao astro maior! Será que ela - a aurora - sabe
que a sua razão de ser se deve ao esplendor do astro-rei?
Automaticamente comparo os momentos,
na chegada e na partida dos raios solares, dividindo o nosso mundo em dia e
noite. Não nego o fato de gostar mais do entardecer. Nada mais preguiçoso do
que ver o sol se pôr e com ele deixar seguir tudo o que não foi possível fazer
até ali. Essa sensação me deixa bem! No entanto, nesses últimos tempos tenho
mudado a rotina, aliás, não apenas eu, mas o mundo todo.
Mudanças de hábitos de longas datas
vão acontecendo, simultaneamente, sem que se reflita, mas apenas siga as
determinações urgentíssimas; sim, porque tudo é muito rápido! A pandemia que
assola o mundo chegou sem pedir licença, aboletou-se no nosso sossego e, de
repente, o desassossego aflorou no planeta.
Assustada, eu? Assustadíssima,
insegura, preocupada com tudo e com todos.
O excesso de informações me deixa
louca; e, por mais que procure o que fazer dentro de casa, sobra tempo
suficiente para ouvir e pensar tolices. Mesmo porque os noticiários não falam
em outro assunto que não o Covid-19. E olha que sou uma pessoa altamente
produtiva e sensata, mas mediante a consciência de que sou do grupo de risco,
isso, por si só, já complica tudo!
Já arrumei gavetas, organizei os
álbuns de fotos, limpei armários, deletei, no notebook, arquivos que perderam
suas importâncias, inventei receitas culinárias; enfim, ando agitadíssima!
Enquanto estou aqui rabiscando o
pensamento, lembro-me de que anos atrás a preocupação era o ócio no
pós-aposentadoria. No entanto tirei de letra, descobri mais tempo para me
dedicar à leitura, procurei me envolver mais na produção literária e foi dando
certo!
Mas nada se compara a este momento,
ele é sui generis. O problema não é ficar em casa e, sim, não sair dela.
Adoro estar em casa, mas, pelo fato de cercearem o meu direito de ir e vir,
estou deveras chateada. Ainda bem que o meu lado Pollyana lentamente volta à
ativa. Pensando bem - e já que em casa tudo vai estar em ordem - será
interessante perceber novos produtos nas gôndolas dos supermercados; sim,
porque quando tudo voltar ao normal restarão aqueles produtos que nunca nem
sequer olhei um dia. Pense como será legal redescobrir o prazer de olhar,
calmamente, as vitrines das lojas. Ah! Isso realmente não tem preço.
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