sexta-feira, 3 de julho de 2020

VINGT-UN ROSADO, UMA PERSONALIDADE NORDESTINA



                                                                     Vingt-un 


Por Benedito Vasconcelos Mendes*

 

        O Engenheiro Agrônomo, historiador e Professor Jerônimo Vingt-un Rosado Maia é a maior personalidade na área cultural de Mossoró, de todos os tempos. Vingt-un, pelo seu pendor para fazer o bem e por seu espírito empreendedor na área educacional e cultural, foi uma daquelas pessoas raras, que só aparece na Terra de tempos em tempos. Seu idealismo, sua extraordinária capacidade de trabalho, sua determinação e sua admiração por tudo ligado à educação, à cultura, às artes e as ciências fizeram Vingt-un um ser humano especial. Dedicou toda a sua vida para dotar Mossoró de boa infraestrutura educacional, científica e cultural, o que fez com que, hoje, Mossoró seja considerada a “Capital Cultural do Semiárido”. Em Mossoró, idealizou e criou a biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte, o Museu Municipal Lauro da Escóssia, a Coleção Mossoroense (tipo de editora criada para estimular e divulgar escritores regionais), a Escola Superior de Agricultura de Mossoró - ESAM, hoje UFERSA - Universidade Federal Rural do Semiárido e outras entidades culturais. Como historiador, escreveu o primeiro livro sobre a história de Mossoró. Pertenceu a diversas academias de letras e institutos históricos de vários Estados do Nordeste e seu valor foi reconhecido ainda em vida, quando recebeu muitos diplomas, prêmios e comendas de diversas instituições científicas, culturais e de ensino brasileiras. Nasceu em Mossoró no dia 25 de setembro de 1920 e morreu no dia 21 de dezembro de 2005. O nome Vingt-Un corresponde em francês ao número vinte e um, último da série da numeração dos filhos feita, quase sempre em francês, pelo patriarca Jerônimo Rosado. Quase todos os filhos tinham como prenome o nome do pai – Jerônimo - e muitas de suas filhas, o da mãe – Isaura -, antes da numeração. 1. DESCENDÊNCIA FAMILIAR. Embora pertencesse à tradicional e destacada família política potiguar - família Rosado - Vingt-Un fez opção pela vida cultural, dedicando todo o seu tempo e o seu entusiasmo ao engrandecimento das artes, da cultura e das ciências. Os pais de Vingt-Un, farmacêutico e industrial Jerônimo Rosado, 1861-1930, natural de Pombal – PB, e Izaura Maia, nascida em Catolé do Rocha - PB, viveram e criaram seus filhos em Mossoró. Seu pai foi Intendente e três dos seus irmãos foram prefeitos de Mossoró. Dos seus três irmãos políticos, Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia foi Governador do Estado do Rio Grande do 1Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor. Membro Efetivo da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Academia Mossoroense de Letras, Instituto Cultural do Oeste Potiguar, Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do Centro Cultural dó Ceará. Norte, Jerônimo Dix-Huit Rosado Maia foi Senador da República e Jerônimo Vingt Rosado Maia foi Deputado Federal, além de todos eles terem sido também prefeitos de Mossoró. Atualmente, vários de seus familiares ainda permanecem na militância política, mantendo assim a tradição da família. 2. O CIDADÃO. Vingt-Un Rosado casou-se com a mineira e também ex-professora da antiga ESAM - Escola Superior de Agricultura de Mossoró, América Fernandes Rosado Maia, que conheceu quando estudava agronomia em Lavras - MG e com quem teve cinco filhos: Maria Lúcia Fernandes Rosado do Amaral, Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia Sobrinho, Lúcia Helena Rosado da Escóssia, Isaura Ester Fernandes Rosado Rolim e Leila Fernandes Rosado. Vingt-Un fez seus estudos do primeiro grau em Mossoró, no Ginásio Diocesano Santa Luzia e o curso pré-universitário no Colégio Osvaldo Cruz, em Recife - PE. Seu curso superior foi realizado em Minas Gerais, quando estudou Engenharia Agronômica na então Escola Superior de Agricultura de Lavras - ESAL, hoje Universidade Federal de Lavras. Logo que se formou, voltou para a sua terra natal, onde realizou um gigantesco trabalho cultural, educacional e científico. Amigo leal, tolerante, cordial, prestativo e solidário. Sabia fazer amigos e preservar as boas amizades, pela convivência agradável que proporcionava, devido à sua simplicidade, à sua afabilidade e, acima de tudo, à extrema fidelidade que dispensava aos amigos. Tinha uma capacidade enorme de compreender as pessoas que lhe eram caras. Foi uma das melhores figuras humanas que conhecemos. Tivemos o privilégio de ser-lhe seu amigo por 35 anos, de 1970, quando chegamos em Mossoró, até 2005, quando ele morreu. A admiração que tínhamos pelo seu caráter e pelo seu trabalho cultural solidificou a afinidade no relacionamento que tivemos e proporcionou a profunda amizade que cultivamos, sendo ele, inclusive, padrinho de batismo do meu filho, Francisco Milton Mendes Neto. Como administrador, era sério, honesto, competente, conciliador e amigo. Honrou e dignificou todos os cargos públicos que ocupou. Exerceu, pela segunda vez, o cargo de Diretor da ESAM com muito equilíbrio, procurando sempre a pacificação, a convivência harmoniosa e amistosa da família esamiana. Chefe de comportamento sereno, humilde e fidalgo, procurava resolver os problemas afetos aos seus subordinados da maneira mais humana possível. Na defesa dos interesses maiores da ESAM, soube, como poucos, transigir, conciliar, buscar o entendimento. Era vocacionado para administrar os contrários. Soube se comportar com dignidade nos momentos difíceis, atuando com sabedoria e firmeza na solução dos problemas graves da instituição. Foi conciliador e sereno no trato das questões polêmicas, mas também soube ser enérgico para vencer as crises. A determinação, a coragem e a altivez com que exerceu o poder nas horas de dificuldades, aliadas à generosidade, à abnegação, à humildade e à compreensão com que dirigiu o dia a dia da ESAM, cativou a amizade e a admiração de quase todos aqueles que faziam, à época, a Escola Superior de Agricultura de Mossoró. Possuía o desprendimento, a grandeza de caráter e o espírito público de estadista. Como amigo, como chefe e como idealista era um exemplo de dignidade e honradez. No trabalho, não se cansava na perseguição de seus propósitos. Ainda hoje, Vingt-Un nos ensina com sua lição de vida. Como cidadão, a vida de Vingt-Un foi uma aula de civismo, de humanismo e de idealismo. Sua marcante personalidade, sua extraordinária capacidade de trabalho e sua determinação fizeram com que ele sempre trilhasse os caminhos do pioneirismo com muito idealismo e sabedoria, conseguindo realizar, quase sempre, o que tinha planejado. Em tudo que fazia procurava dignificar os valores morais e culturais. Sempre tinha o trabalho cultural, que desenvolvia como um sacerdócio, e o culto aos valores morais e intelectuais como hábito. Sua presença, devido à forte personalidade que possuía, sensibilizava o interlocutor, inibindo os mal-intencionados e despertando um sentimento de admiração nas pessoas detentoras de caracteres bem formados. Enfim, Vingt-Un foi um homem íntegro, lutador, sábio e bom. À semelhança dos monges virtuosos, entregou sua vida, com total desprendimento das riquezas materiais, ao trabalho reconfortante do engrandecimento da cultura e da ciência e do aprimoramento das virtudes espirituais. 3. O INTELECTUAL Vingt-Un foi um intelectual de fama nacional, engenheiro agrônomo, professor, jornalista, paleontólogo, historiador e escritor de renome regional. Sua maior virtude foi o idealismo que possuía e que foi capaz de transformar sonhos, aparentemente impossíveis de serem concretizados, em realidades. Realizou vários de seus ideais, dentre eles a fundação da Escola Superior de Agricultura de Mossoró e da Coleção Mossoroense. A ESAM, sonhada por ele desde a década de 1940, e inaugurada em 1967, é hoje uma das mais importantes universidades brasileiras, já tendo ministrado o melhor curso de engenharia agronômica do Norte e do Nordeste do Brasil. Dentre as entidades brasileiras que editam livros, sem fins lucrativos, a Coleção Mossoroense é uma das que se destacou pela agressividade de sua programação editorial, já tendo editado mais de 4.000 títulos. De todas as instituições culturais nordestinas, a Coleção Mossoroense é a que editou o maior número de obras relacionadas com as secas, que ocorrem periodicamente na região Nordeste do nosso País. Vingt-Un foi um cientista de valor reconhecido, tendo, inclusive, sido homenageado por renomados paleontólogos, que usaram o seu sobrenome, “Rosado”, para batizar seis novos táxons de fósseis descobertos na Chapada do Apodi, no Estado do Rio Grande do Norte. Para marcar o aniversário de 70 anos de Vingt-Un, o grande zoólogo brasileiro, José Cândido de Melo Carvalho, homenageou-o com uma nova espécie patronímica de Hemíptero (Ordem de insetos). Historiador respeitado, escritor de linguagem objetiva e de estilo inconfundível, publicou mais de 120 livros e cerca de uma centena de plaquetas, se somarmos as obras de sua autoria, coautoria e as coletâneas organizadas por ele. Foi sócio da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Academia Norte-rio-grandense de Ciências, Academia Mossoroense de Letras, Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), Academia Sobralense de Estudos e Letras, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Instituto Cultural do Oeste Potiguar, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, além de numerosas outras entidades culturais e científicas do Brasil e do exterior. Foi Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Professor Emérito da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Primeiro Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Paleontologia, Primeiro Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Nematologia, Primeiro Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Algaroba e Sócio Honorário da Academia Cearense de Farmácia. Recebeu o Diploma de Amigo da Cultura do Conselho Estadual de Cultura do Ceará, Medalha do Mérito da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais de Pernambuco e várias outras comendas de instituições culturais brasileiras. Para marcar a passagem dos 70 anos de Vingt-Un, várias homenagens foram organizadas por instituições culturais de diversos Estados brasileiros, como as que ocorreram em João Pessoa, Natal, Fortaleza, Brasilia, Rio de Janeiro, Crato e Mossoró. Em João Pessoa, diversos eventos culturais foram realizados pela Universidade Federal da Paraíba, Fundação Casa de José Américo, Academia Paraibana de Letras, Conselho Estadual de Cultura, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e Grupo José Honório Rodrigues, para comemorar o septuagésimo aniversário de Vingt-Un. Em Fortaleza, uma exposição de fotografias e de livros da Bibliografia da Seca, da Coleção Mossoroense, foi organizada no Salão Nobre do Náutico Atlético Cearense para homenageá-lo. Na solenidade de abertura da referida exposição, representantes de diversas instituições culturais cearenses estiveram presentes. Em Brasilia, o Centro Norte-rio-grandense de Brasília, o Correio Brasiliense e a Fundação Ozelita Cascudo Rodrigues lhe prestaram significativa homenagem, quando foi preparado no Salão de Exposição do Edifício Edilson Cid Varela, sede do complexo de comunicação (jornal, rádio e TV) do Correio Brasiliense, uma mostra representativa dos livros da Coleção Mossoroense. Na abertura da solenidade, destacadas personalidades do mundo cultural brasiliense prestigiaram o evento. No Rio de Janeiro, o Centro Norte-rio-grandense daquela cidade, com apoio de outras entidades, organizou um ato cultural, também com exposição de livros da Coleção Mossoroense. Em Natal, os 70 anos de Vingt-Un foram lembrados, de maneira efusiva, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela Academia Norte-rio-grandense de Letras, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e pela Fundação José Augusto. Por ocasião do I Simpósio de Geologia sobre a Bacia do Araripe e Bacias Interiores do Nordeste, realizado na cidade cearense de Crato, o professor Vingt-Un foi homenageado na sessão solene de abertura do referido simpósio pelos seus 70 anos de vida. Em Mossoró, a Academia Norte-rio-grandense de Ciências, a Academia Mossoroense de Letras, o Instituto Cultural do Oeste Potiguar, a Escola Superior de Agricultura de Mossoró, a Loja Maçônica Jerônimo Rosado, a Fundação Ozelita Cascudo Rodrigues, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, o Núcleo Mossoroense da União Brasileira de Escritores e a Fundação Guimarães Duque prepararam uma semana de eventos culturais para comemorar os 70 anos de Vingt-Un. Essa semana comemorativa culminou com a XVI Noite da Cultura, tradicional reunião cultural da Loja Maçônica Jerônimo Rosado, que anualmente homenageia o criador e editor da Coleção Mossoroense. Naquele ano, foram lançados por Vingt-Un Rosado na XVI Noite da Cultura 280 títulos editados pela Coleção Mossoroense, nos últimos doze meses que antecederam a data. Aquelas comemorações , feitas em várias cidades brasileiras, demonstraram o mérito cultural deste mossoroense que se tornou nome nacional. 4. O IDEALISTA DA CULTURA Pensamos que, em lugar nenhum e em tempo algum, existiu alguém com tanto entusiasmo, com tanta determinação, com tanta dedicação, com tanto idealismo e com tanta paixão pelas letras, pelas artes e pelas ciências, iguais aos do Professor Vingt-Un Rosado. Era impressionante, e até comovente, observar o trabalho que foi dedicado por este homem à ESAM, sua maior obra e fonte de sua maior satisfação. Vingt-Un sempre sonhou com a criação de museus, bibliotecas, faculdades, institutos de pesquisa e outras instituições congêneres. Muitos desses sonhos foram realizados graças ao seu trabalho, entusiasmo e persistência. Seu maior sonho, no entanto, foi a criação da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, concretizado 23 anos depois, e à qual dedicou boa parte de sua vida. Para as coisas da ESAM, não havia canseira nem tarefa ruim, somente dedicação, amor e paixão. Quase tudo que a UFERSA é hoje deve boa parte ao seu passado, construído por Vingt-Un Rosado. Na então ESAM, cada laboratório, cada sala de aula, cada prédio, cada congresso científico realizado teve o seu trabalho. Difícil é encontrar alguma coisa na UFERSA, feita no tempo da antiga ESAM, que não tenha tido a sua participação, a sua colaboração. A Coleção Mossoroense, idealizada, fundada e editada por ele, é uma de suas criações que tem grande divulgação em nível nacional. Essa coleção já editou mais de 4.000 títulos e é responsável pela edição da maior bibliografia sobre secas do País. Desde a sua criação em 1949 até a morte de Vingt-Un em 2005, a Coleção Mossoroense teve como editor o próprio fundador. A Fundação Guimarães Duque é uma instituição que vem dando significativo apoio à pesquisa e à cultura no âmbito da ESAM/UFERSA. De 1978, quando foi fundada, até a aposentadoria de VingtUn na ESAM, em 1991, foi presidida por seu idealizador Vingt-Un Rosado. Essa fundação foi a mantenedora da Coleção Mossoroense por muitos anos. A Fundação Guimarães Duque foi criada no lugar do Instituto Guimarães Duque de Pesquisas da Caatinga - IGDPEC, instituição idealizada por Vingt-Un, mas que não chegou a ser criada. Em 1948, quando Dix-Sept Rosado era Prefeito Municipal de Mossoró, Vingt-Un iniciou um revolucionário movimento cultural que resultou na criação de várias entidades. Mais tarde, esse movimento foi cognominado de “Batalha da Cultura” e dele nasceram a Biblioteca Pública Municipal de Mossoró (1948), o Museu Municipal de Mossoró (1948), o Boletim Bibliográfico (1948), a Coleção Mossoroense - Séries A, B e C (1949), o Curso de Antropologia Cultural (1953), a Biblioteca Infantil de Mossoró e as Noites da Cultura (1973). Na cidade de Governador Dix-Sept Rosado, quando esta era ainda Distrito do Município de Mossoró, Vingt-Un ajudou a fundar a Biblioteca Pública e a Biblioteca infantil. Desde a época de estudante, Vingt-Un tinha uma verdadeira veneração por bibliotecas. Quando cursava o primeiro grau no Ginásio Diocesano Santa Luzia , foi bibliotecário da Biblioteca Cônego Estevam Dantas daquele estabelecimento de ensino. O Padre Jorge O’Grady de Paiva, então diretor daquele ginásio, deu o seu testemunho do zelo que o estudante Vingt-Un tinha por aquela biblioteca. Disse ele: “O acadêmico Vingt-Un Rosado, ex-aluno deste educandário, que tanto soube honrar ao Grêmio Literário “Santa Luzia”, de cuja biblioteca foi notável organizador, durante anos, acaba de oferecer à mesma dois importantes livros, dos quais se salienta “O Esperado”, do grande vulto brasileiro - Plínio Salgado”. Estudante em Lavras - MG, Vingt-Un foi bibliotecário da Biblioteca do Centro Acadêmico de Agronomia da Escola Superior de Agricultura de Lavras. Mais tarde, essa biblioteca passou a ter o seu nome, em reconhecimento aos seus relevantes serviços a ela prestados. Quando servia ao Exército, como soldado, na Companhia Escola de Engenharia, em Deodoro - Rio de Janeiro, doava o seu soldo à biblioteca daquela incorporação militar, para a compra de livros e periódicos. Idealizou e ajudou a criar, várias outras bibliotecas, como a Biblioteca Orlando Teixeira da antiga ESAM, Biblioteca Raimundo Nonato da Silva, da Fundação Guimarães Duque, Biblioteca do Hospital Francisco Menescal, do antigo Instituto Brasileiro do Sal, entre outras. A criação do Museu Municipal de Mossoró e dos outros quatro museus que criou na ESAM demonstra bem o interesse pela preservação dos fatos históricos e pelo aprendizado científico. O Museu de Paleontologia Vingt-Un Rosado, o Museu de Geologia Antônio Campos, o Museu de Zoologia e o Museu da Memória da ESAM, todos criados na Escola Superior de Agricultura de Mossoró, sob sua inspiração e colaboração, atestam-lhe a convicção da importância dessas instituições para o aprimoramento cultural e científico dos seus usuários. Seu carinho e a sua dedicação a essas casas de ciência e cultura se fortaleceram quando ele morou no Rio de Janeiro, no período em que presidia o Instituto Brasileiro do Sal. Naquela época, ele visitava, com frequência, o Museu Nacional e lá fez importantes e sólidas amizades com vários de seus pesquisadores, o que lhe valeu a Vice-presidência da Sociedade dos Amigos do Museu Nacional. Difícil é encontrar alguma entidade cultural ou científica criada em Mossoró, na segunda metade do Século XX, que não teve a sua participação no processo de fundação. A criação do Instituto Cultural do Oeste Potiguar - ICOP, da Academia Mossoroense de Letras - AMOL, da Academia Norte-riograndense de Ciências - ANOCI, do Núcleo Mossoroense da União Brasileira de Escritores e da Sociedade Cultural e Recreativa dos Engenheiros Agrônomos de Mossoró - SCREAM teve a participação ativa de Vingt-Un Rosado. Além de sua contribuição para a organização das três instituições idealizadas pelo professor Benedito Vasconcelos Mendes - AMOL, ANOCI e SCREAM, Vingt-Un foi ainda o primeiro presidente destas três entidades, por indicação de seu idealizador. A Escola Superior de Agricultura de Mossoró, nos primeiros anos de sua existência, notabilizou-se pelos congressos científicos nacionais que realizou. Esses eventos divulgaram, no Brasil e no exterior, o nome da ESAM e possibilitaram a visita, a seu campus central, de importantes figuras do mundo científico, de praticamente todos os Estados brasileiros e de muitos outros países. Antes da criação da ESAM, Vingt-Un já tinha ajudado a realizar, em Mossoró, dois congressos em nível nacional: a XV Assembleia da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1960) e o II Congresso Brasileiro de Paleontologia (1961). A ESAM sediou o XXV Congresso Nacional de Botânica (1974), VIII Congresso Brasileiro de Fitopatologia (1975), II Congresso Brasileiro de Florestas Tropicais (1976), V Encontro dos Malacologistas Brasileiros (1977), III Reunião Brasileira de Nematologia (1978), XVIII Congresso Brasileiro de Olericultura (1978), I Congresso Brasileiro de Agrometeorologia (1979), VII Congresso Brasileiro de Zoologia (1980), X Reunião Brasileira de Nematologia (1986) e o II Simpósio Brasileiro sobre Algaroba (1987). A organização de quase todos esses conclaves em âmbito nacional teve a participação minha e do Professor VingtUn. O I Curso de Atualização em Nematologia (5 a 23 de janeiro de 1981), idealizado e coordenado por mim, só foi possível graças a seu apoio. Este curso de Pós-graduação foi de grande significação para a Nematologia Vegetal brasileira, haja vista que este curso foi ministrado pelos maiores expoentes da Nematologia nacional e todos os seus alunos já possuíam mestrado. Esse depoimento é fruto do conhecimento que temos sobre a vida de Vingt-Un Rosado, adquirido pela convivência quase diária de 35 anos de amizade ininterrupta. Não nos detivemos em detalhes de sua vasta obra literária, tampouco de sua vida em particular. Analisamos apenas alguns aspectos de sua vida pública, quando o interpretei à ótica tridimensional do saber, do idealismo e da capacidade realizadora. Esta é a visão que temos deste homem extraordinário, que soube viver crescendo moralmente, espiritualmente e intelectualmente. A maior obra de Vingt-Un é seu exemplo de vida. 

* Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor. Membro Efetivo da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Academia Mossoroense de Letras, Instituto Cultural do Oeste Potiguar, Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do Centro Cultural dó Ceará

 

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