Vanda
Maria Jacinto
Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa
v.m.j@hotmail.com
Nada mais sublime de que
a família reunida em torno da mesa posta para refeições. Os costumes podem até
mudar de família para família, mas a socialização sempre acontece, nem que seja
pelos comentários curiosos sobre uma receita nova ou algo visto nas redes
sociais ou na tevê.
O ritual exercido na hora
das refeições vai muito além do que o processo de ingerir os alimentos. É nesse
momento que se ensina aos rebentos os bons hábitos alimentares e de como nos
devemos nos portar nessa hora sagrada. Pelo menos foi como aprendi e repassei
para os meus.
Impossível nesse instante
não voltar no tempo. Quando criança, na hora das refeições, de sagrado, só as
boas intenções. Mal agradecíamos pelos alimentos e tudo virava uma verdadeira
festa. Minha mãe teve dez filhos com diferença mínima nas idades; daí, imagine
o fuzuê! Eu sou a segunda mais velha. Era um tal de não gosto disso, põe só
isso, ou frita um ovo para mim – lógico que essa era eu, enjoada, não gostava
de quase nada das misturas que minha mãe fazia. Mas, vivíamos felizes.
As conversas, para o
desgosto do meu pai, eram infindas e muito animadas, o que não lhe permitia
manter um diálogo mais sério com a minha mãe.
Os assuntos mais variados possíveis, as risadinhas, enredos de brigas, castigo na escola, brinquedo quebrado, nota baixa, quem ia lavar a louça, a vez de quem enxugá-las, e por aí iam as nossas fanfarrices de criança.
Os assuntos mais variados possíveis, as risadinhas, enredos de brigas, castigo na escola, brinquedo quebrado, nota baixa, quem ia lavar a louça, a vez de quem enxugá-las, e por aí iam as nossas fanfarrices de criança.
Eu, sonsa, sempre ficava
caladinha, só ouvindo; e, mesmo assim, às vezes sobrava para mim. Embora muitos
de nós já soubéssemos nos servir sozinhos, minha mãe é quem fazia os nossos
pratos para que não houvesse exageros. Começava sempre pelos menores e ia
subindo a escadinha. Eu era a penúltima – para o meu azar –, pois sempre gostei
de saborear a comida ainda fumegando, e quando chegava a minha vez já estava
morna. Esse era um dos motivos de ficar calada, ou comia ou falava, porque boca
cheia e conversa, nunca foi uma boa combinação!
Na alimentação, de tudo
tinha um pouco, mas nada era desperdiçado. Minha mãe sempre foi muito criativa
na cozinha. Sobras de arroz viravam bolinho; sobrava carne, na outra refeição
tinha picadinho com batata e assim por diante. Andei muito nas redondezas lá de
casa, atrás de cambuquira – broto da rama de abóbora –, para a minha mãe fazer
uma boa fritada.
Esse tempo se prolongou
durante vários anos e, embora os assuntos fossem mudando, os costumes não.
Fui a primeira dos dez
filhos a se casar. Chorava diariamente com saudades desses momentos, do
burburinho na hora das refeições.
Acostumada a ajudar minha mãe a cozinhar, sofri um bocado até descobrir as medidas certas de alimento para duas pessoas. Depois, fui ajustando as quantidades com a chegada dos filhos. Hoje, estou me readaptando, pois os filhos seguem seus rumos e novamente estamos só, os dois. O que não me impede de fazer pratos mais elaborados, já conhecidos e inventar outros. Mas confesso, adoro casa cheia, mesa repleta de comidas gostosas e guloseimas na sobremesa – que acontece agora, quando os filhos vêm nos visitar. O bom mesmo em tudo isso é o preparo de cada prato, em que cada um vai mostrando suas habilidades e, no final, tudo fica muito bonito e gostoso!
Acostumada a ajudar minha mãe a cozinhar, sofri um bocado até descobrir as medidas certas de alimento para duas pessoas. Depois, fui ajustando as quantidades com a chegada dos filhos. Hoje, estou me readaptando, pois os filhos seguem seus rumos e novamente estamos só, os dois. O que não me impede de fazer pratos mais elaborados, já conhecidos e inventar outros. Mas confesso, adoro casa cheia, mesa repleta de comidas gostosas e guloseimas na sobremesa – que acontece agora, quando os filhos vêm nos visitar. O bom mesmo em tudo isso é o preparo de cada prato, em que cada um vai mostrando suas habilidades e, no final, tudo fica muito bonito e gostoso!
Geralmente, esses
encontros acontecem em datas específicas como dia das mães, dos pais, Páscoa,
aniversários, Natal e Ano Novo.
A conversa no entorno da
mesa se estende até onde vão os nossos pensamentos. Por vezes, acabam nas
recordações da infância. Cada um tem uma história melhor do que a do outro.
A reunião da família nas
refeições é um ritual que deve ser mantido a todo custo. Aproxima-nos cada vez
mais e nos ensina o melhor da convivência.
Esses dias de crise
mundial têm favorecido em muito a integração familiar. Que possamos internalizar
esse aprendizado e levá-lo para o nosso viver. Daqui a alguns anos, passando
uma dessas datas festivas na casa de algum filho ou neto, teremos mais esse
capítulo da história da família para relembrar à mesa.
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