ENTREVISTA DE LÚCIA ROCHA, CO-AUTORA DA BIOGRAFIA DE OSEAS LOPES, O CARLOS ANDRÉ, PARA MÁRIO GERSON, DA GAZETA DO OESTE:
1 – Como
começou a ideia do livro?
Desde que
conheci Oseas Lopes, quando produzi o programa Mossoró de Todos os Tempos, vi
que ele era dono de uma trajetória de sucesso na música brasileira, tanto como
cantor, compositor e produtor musical, incluindo dentre seus trabalhos como
produtor, grandes intérpretes, a começar pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Dominguinhos,
Fagner, algo que eu desconhecia. Como jornalista e me achando uma pessoa bem
informada, que não sabia desse feito dele, passei a incentivá-lo a escrever sua
história. Fui surpreendida também com a confissão dele, de que um primo meu, o
radialista Canindeh Alves, havia sido seu descobridor, aquele que ouviu sua voz
enquanto passava numa rua e o convidou a fazer um show de aniversário da Rádio
Tapuyo. Oseas era apenas um rapaz de 17 anos de idade, pintor de carroceria de
caminhão, que cantava enquanto exercia sua atividade profissional. Esse fato é
excepcional. E único.
2 – Você já
vinha estudando o assunto ou a pesquisa tomou ainda mais forma quando da
proposta em ajudá-lo na confecção da obra?
Mesmo
morando em São Paulo sempre procurei ler tudo a respeito da terra e do
Nordeste. Em São Paulo frequento até hoje o Centro de Tradições Nordestinas, que
é um recanto do Nordeste, onde a gente encontra o melhor da gastronomia
nordestina e ouve o melhor da música nordestina, lá a música do Trio Mossoró é
executada por outras bandas, por exemplo. Conheço quase todo o repertório do
Trio Mossoró e lia tudo a respeito dele, como fã. Oseas Lopes me era familiar
pelo fato de que tocou e cantou na casa do meu avô materno, sanfoneiro, quando
eu tinha apenas cinco anos de idade e essa imagem é muito presente em minha
vida e na de quem lá estava. Foi levado por Canindeh Alves, que queria fazer um
agrado no avô, então com mais de 80 anos de idade. Profissionalmente, a partir
desse contato para a produção e gravação do Mossoró de Todos os Tempos e agora
organizando a história de Oseas e de seus irmãos, Hermelinda e João Batista -
João Mossoró - surpreendi-me com o volume de informações que encontrei nas
redes sociais, no Google, em sites e blogs especializados em música regional e
até mesmo em livros, onde eles têm um lugar de destaque, como pioneiros do
ritmo forró de boa qualidade na região Sudeste.
3 – Como
está sendo esta nova experiência?
Por diversas vezes Oseas me chamou para
ajudá-lo na feitura desse livro, eu dizia a ele, como digo a outros
mossoroenses de destaque lá fora, vão escrevendo, vão se lembrando do que
passaram e coloquem no papel, por enquanto estou ocupada com outros trabalhos,
não desmerecendo nenhum talento da terra, lógico, mas como profissional eu
tenho compromissos com clientes em São Paulo, para onde me mudei no inicio de
1991, então são 22 anos de convivência e relacionamento profissional com
pessoas que precisam do meu trabalho e preciso sobreviver na profissão que
escolhi para não ser mais um jornalista reclamando de má remuneração. De lá
para cá, tudo o que fiz relacionado a Mossoró, foi muito mais na base da paixão
pelas coisas da terra do que pela sobrevivência profissional. Então, Oseas foi
escrevendo ele mesmo sua trajetória, já que faz uso do computador para troca de
mensagens e a gente faz isso desde 2006, quase que diariamente. Em dezembro, eu
estava fora quando o professor e escritor Almir Nogueira me ligou convidando-me
a fazer parte do projeto do livro de Oseas. Naquele momento aceitei, já passei
umas orientações para Almir sobre a logística desse trabalho, a ser
desenvolvido por nós três, no que vem dando certo. Em meados de janeiro quando
retornei a Mossoró, comecei a organizar o texto, pois Oseas é compositor e
músico, não um escritor. E escrever livros é diferente, ele sabe fazer música.
Eu, não. Tem jornalista que escreve maravihosamente bem, mas se não estudar,
não capacitar para ser escritor, não será um bom escritor. Tem que ter um bom
vocabulário, ser um bom leitor. O professor Almir é responsável por todo o
material produzido por Oseas Lopes, como cantor, compositor, produtor musical e
passou a pesquisar, conseguir capas, fotos, enfim. Oseas sempre participando de
tudo, numa troca de ideias e informações via e-mail. Nesse período esteve duas
vezes em Mossoró, quando nos reuníamos o dia inteiro, almoçávamos, inclusive.
Uma vez que o texto que ele mandou estava organizado, em ordem cronológica para
melhor situar o leitor, para que este não se perdesse na história, como
realmente aconteceu, passei a pesquisar e encontrei farto material publicado
nos grandes jornais do Rio de Janeiro, fotos e fatos que aconteceram que nem
Oseas lembrava mais, como por exemplo, a participação dele no programa Os
Trapalhões, onde atuou cantando uma música enquanto Didi e seus companheiros
faziam uma bagunça em cena. Também descobri que a Rede Globo havia lançado uma
séria de LPs com a trilha sonora de Os Trapalhões e para nossa surpresa no
primeiro LP, uma faixa do Trio Mossoró e mais uma vez, Oseas nem lembrava mais.
Fora outras informações que completam a história dos três irmãos, se não fosse
esse trabalho de garimpar na internet e com contatos de Mossoró, Natal, São
Paulo e Rio de Janeiro, jamais esse livro sairia completo. A gente corre até o
risco de deixar de fora alguma informação relevante, como expliquei, na
internet, há um volume imensurável de informações sobre os irmãos de Mossoró
que no início dos anos 60 ousaram levar o nosso forró para o Rio de Janeiro. À
época, Oseas tinha 21 anos de idade, Hermelinda 15 e João Batista 13 anos.
4 – Comente
um pouco sobre o Trio Mossoró...
O Trio Mossoró começou como que uma
brincadeira aqui em Mossoró, a partir do convite de Canindeh Alves para Oseas
se apresentar na comemoração do primeiro aniversário da Rádio Tapuyo, em 1º de
maio de 1956. Como se saiu bem, cantou apenas duas músicas e, de tão aplaudido,
logo foi contratado para ser cantor exclusivo da rádio, ou seja, não poderia
cantar na Rádio Difusora, a pioneira da cidade, que tinha programas de
auditório. Oseas era filho de um despachante do porto de Areia Branca, muito fã
de Luiz Gonzaga, que passou a investir no filho, comprou sanfona, arrumou
professor e esse rapaz ousou partir para vôos mais altos, tentar a sorte no Rio
de Janeiro, onde Luiz Gonzaga imperava no forró, ao lado de Marinês, de Campina
Grande, ou seja, pessoas daqui do Nordeste que foram e se deram bem, isso
motivou o rapaz que achava Mossoró pequeno para seus sonhos.
Pouco tempo
depois que chegou ao Rio de Janeiro, passou a cantar em programas de auditório
da Rádio Nacional e Rádio Mayrink Veiga, que comandavam a audiência, num Rio de
Janeiro onde o rádio era mais forte do que o novo veículo, a televisão. Ao
sentir que estava na hora de chamar os irmãos, João e Hermelinda, com que vinha
se apresentando em Mossoró nos últimos tempos, com a chegada deles no Rio de
Janeiro, encontrou em João do Vale, grande compositor maranhense, o padrinho
que precisavam para gravar o primeiro disco e, com a música Carcará, que tempos depois lançou Maria
Bethânia, eles atingiram o ápice da carreira, vencendo o Troféu Euterpe, então a
maior premiação da música popular brasileira, num grande evento no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de estrelas da MPB. Mossoró soube desse
feito muitos anos depois, porque naqueles anos 60, não havia a comunicação de
hoje, o Trio Mossoró nunca contou com o trabalho de divulgação de uma
assessoria de imprensa, algo raro naquele tempo. No início dos anos 70, o forró
foi perdendo espaço no Rio de Janeiro e em São Paulo para outros ritmos, como
Jovem Guarda, por exemplo, então o trio foi extinto e Oseas Lopes adotou o nome
artístico de Carlos André e gravou um LP em 1974, que vendem até hoje, mais de
2 milhões de discos, com a música que ficou famosa por Quebra Mesa, ainda bastante executada em todo o Nordeste. Os outros
irmão até hoje também cantam em carreira solo. Hermelinda chegou a gravar
música romântica com o nome Ana Paula, mas voltou para o forró. E João Batista
adotou o nome João Mossoró e ficou no Rio de Janeiro, onde se apresenta
cantando forró.
5 – Qual a
contribuição do trio para a música nordestina? Existe outra obra que fala sobre
isso?
Recentemente foi lançado o livro O Fole Roncou, de Carlos Marcello, o
mesmo autor da biografia de Renato Russo. E o Trio Mossoró tem destaque com
fotos dos integrantes e de algumas capas dos seus LPs, além de trinta páginas
de texto dedicadas a trajetória deles. Esse livro conta toda a história do
forró e já indico para quem gosta do gênero, é a maior prova de que o Trio
Mossoró contribuiu para a música nordestina. O Dicionário Cravo Albim, de
Música Popular Brasileira também registra a história dos irmãos mossoroenses e
outras publicações nordestinas e do Rio Grande do Norte registram a
contribuição deles, não somente como intérpretes, como compositores, pois todos
os integrantes são compositores, por exemplo, João Mossoró tem letras lindas
gravadas por artistas de relevância nacional. Hermelinda é autora de um grande
sucesso de Elba Ramalho, como Toque de
Fole, algo que eu não sabia, por exemplo. Os irmãos inspiraram outras
bandas e trios no mesmo estilo musical, sem sombra de dúvidas e até mesmo a
pessoas do sexo feminino, porque antes de Hermelinda passar a integrar o Trio
Mossoró, o pai relutou, porque era do sexo feminino, no que Canindeh Alves, que
havia sugerido ela ingressar na carreira artística, na mesma hora demoveu seu
Messias, pais dele, porque Canindeh alegou que sua então namorada Ivanilda
Linhares, trabalhava com ele na rádio. E Hermelinda honrou sua família, sua
vida pessoal, porque era por demais assediada por outros artistas e
apresentadores, mas nunca cedeu, nunca se envolveu com ninguém em troca de
marketing de projeção pessoal. O autor de O
Fole Roncou comenta esse assédio.
6 – Quem
está envolvido no projeto do livro, fora você e Oséas?
É o professor Almir Nogueira, diretor da
Biblioteca Municipal Ney Pontes, historiador, autor de outros livros sobre
Mossoró. Agora que conclui a minha parte, ele está já envolvido com a
diagramação e supervisionando tudo, desde capa, legendas das fotos e tudo o que
envolver a parte gráfica. Oseas é nosso parceiro e é bom trabalhar com ele,
super obediente, tem consciência de que tem uma bela história e que ela está em
boas mãos.
7 – Pretende
lançar quando? Como?
Essa parte sobre lançamento está,
especialmente, sob a responsabilidade de Almir. Como eu disse no inicio, sou
muito ocupada com outras tarefas até fora do estado, meu compromisso com eles
foi a parte do texto, organizar, pesquisar e dar o texto final. Mas acredito
que no final de maio, antes mesmo do evento Mossoró Cidade Junina. Porque
sugeri a Oseas fazer um lançamento durante todo o mês de junho, nos grandes
eventos juninos do Nordeste. Como ele mora em Recife, poderá aproveitar o
calendário de eventos juninos em Pernambuco, na capital e interior e estados
vizinhos, como Campina Grande, Assu, Fortaleza, enfim, onde houver um evento
público em que possa encaixar na programação, seria muito bom que ali estivesse
ele com disposição para tardes/noites de
autógrafos. Oseas estará participando juntamente com Carlos Marcello, autor de O Fole Roncou, da Feira do Livro de
Mossoró, no que vai enriquecer o conteúdo desta feira, isso me agradou
bastante. Talvez seja um momento único na vida de Oseas onde a cidade poderá
valorizar mais ainda o seu trabalho, o seu histórico, pois o rádio de Mossoró o
prestigia bastante. Talvez Oseas seja um dos poucos talentos musicais deste
país onde sua música seja executada com frequência, algo incomum em outras
cidades, com seus conterrâneos. Como boa ouvinte de rádio posso garantir que
não há um dia em que eu não ouça a voz de Oseas Lopes, seja no Trio Mossoró ou
como Carlos André. Mesmo que eu esteja ausente da cidade, pois acompanho a
programação local através do Iphone, onde quer que esteja.
8 – Você acredita que Mossoró reconheceu o
valor desse trio?
Na medida em que a cidade tinha informações
vindas do sucesso da região Sudeste, sim. Em 1965, a Rádio Rural trouxe o Trio
Mossoró, como celebridade, segundo Oseas. Vieram de avião, inclusive ele trouxe
a família, esposa e filhos, com todas as despesas pagas pela rádio, ficaram no
melhor hotel da cidade, no caso, o Esperança Palace Hotel. Com certeza, o poder público da cidade
recebeu melhor outros artistas, pois sabe-se de homenagens que foram feitas a
artistas de outras cidades. Os integrantes do Trio Mossoró só vieram receber
homenagem pelo poder público em 2009, através de projeto de uma vereadora que
nem da cidade é, no caso a hoje prefeita Cláudia Regina. A gente enxerga melhor o sucesso dos outros
do que dos nossos conterrâneos, mesmo com toda tecnologia, com redes sociais,
acho que hoje, Mossoró não sabe dos talentos da terra, não que não valorize.
Mas a nossa imprensa só dá destaque quando alguém daqui chega a participar de
um programa de televisão exibido em rede nacional, por exemplo. A Titina Medeiros,
que fez sucesso na Globo, com uma novela recentemente é um exemplo claro. Precisou
ir ao programa do Faustão para a imprensa de Natal chamar a atenção do poder
público. Eu pergunto: onde estava a imprensa de Natal quando essa moça começou
a se destacar em Natal mesmo, fazendo teatro? Por que chamar o poder público? A
imprensa por si só pautando a moça, faria com que o poder público soubesse
desse talento. Enfim. Vi muita gente começar em São Paulo, ralar muito, gente
até do Nordeste e só merecer o destaque em sua cidade, quando não há mais
nenhuma saída, a não ser reconhecer que são pessoas especiais, nasceram para a
arte e assim seja. Não é uma situação de Mossoró. Há vinte anos, garanto que em
Salvador, as rádios tocavam muito raramente Bethânia, Caetano e Gal, sempre à
noite. Precisou estourar o axé em São Paulo e Rio de Janeiro para a própria
Bahia, que é um celeiro de talentos, passar a executar a música baiana. Dá
gosto você estar em Salvador e encontrar um Compadre Washington guiando um Mercedes
conversível, coisas que antes não se via, por exemplo. Quero ainda ver um
Reynaldo Bessa ser reconhecido em sua cidade, prestigiado quando faz um show e
a mídia divulga, repercute, dá espaço para ele. Em São Paulo, ele lota os
espaços públicos e faz parte da agenda cultural da prefeitura.
Espero,
sinceramente, que o mossoroense leia o nosso livro de Oseas Lopes e que saiba o
quanto ele foi importante para a carreira de muita gente, inclusive.
9 – Comente um pouco sobre sua carreira...
Sou formada em Ciências Sociais na UERN e
Comunicação Social na UFRN. Ainda como estudante de jornalismo tive experiência
profissional fazendo reportagens especiais, no O Mossoroense e no extinto Dois
Pontos, de Natal. Por causa do meu bom texto, fui chamada por Osair Vasconcelos,
para a TV Cabugi. Ao final do curso, desembarquei no TJ Brasil, no SBT, em São
Paulo. No TJ recebi um convite irrecusável para cuidar da carreira de Mara
Maravilha e ser diretora de palco do programa dela, também no SBT. Foi tudo
muito rápido e achei interessante atuar no show business. Dois anos depois,
tive que dar um tempo e retornei a Mossoró para acompanhar tratamento médico de
mamãe, que estava com depressão à época. Em Mossoró, fui chamada para abrir a
sucursal da TV Ponta Negra e capacitar os profissionais contratados. Oito meses
depois, retornei para São Paulo, decidida em não mais trabalhar em regime de 24
horas, como vinha fazendo com Mara. Então, fui assessorar a banda Raça Negra,
que à época vendia um milhão e meio de discos por ano. Uma experiência
maravilhosa, onde comecei a pensar na possibilidade de escrever um livro com a
história deles, muito bonita. Ainda devo esse livro a Luiz Carlos. Ainda no
Raça Negra, passei a assessorar um empresário palestrante. Foi quando comecei a
desenvolver no computador a história da empresa dele, de cosméticos. Ele só
soube disso quando estava pronto, foi meu primeiro livro. Criei gosto pela
coisa, participei de um curso para escritores e não perco as palestras de
biógrafos na Bienal do Livro de São Paulo. De lá para cá, venho escrevendo
livros na condição de ghost writer - escritor fantasma - que me dá suporte
financeiro. Faço isso como hobby, pois quando a gente faz o que gosta, tudo é
lazer. Posso dizer que desde que me graduei em jornalismo nunca mais trabalhei,
vivo eternamente de férias. Só sei que o povo não está de férias quando passo
em frente a um colégio e vejo pais esperando os filhos. Retornando a Mossoró
para acompanhar tratamento médico de mamãe - que tem síndrome de pânico -
escrever livros passou a ser minha principal atividade profissional. Em Mossoró
já escrevi alguns, o mais interessante foi o de um empresário que não quis
lançar. A proposta dele foi deixar para os seus descendentes sua história. Ao
final do trabalho, ele gostou tanto do resultado, que me gratificou com um
cheque. Não me devia mais nada, mas fez questão. Para Mossoró, acho que é algo
raro. Esse cliente é uma pessoa muito especial. Provou que é um grande
empresário, que honra sua história de sucesso e pessoal. Este ano tenho mais
dois livros a lançar, espero que um deles na próxima feira do livro. São
projetos meus. Devo registrar que em 2005 lancei em São Paulo e em Mossoró, o
Catadora de Sonhos, que sabe-se lá como, chegou na França e mereceu reportagem
no Le Monde. Acho-me uma grande incentivadora de escritores. Participo do
desenvolvimento de livros de algumas pessoas em São Paulo. Nos próximos dias
encontrarei pessoalmente com cinco deles, mas esse trabalho a gente desenvolve
mesmo pela internet, que é uma excelente ferramenta de trabalho.
10 – Como
Oséas está encarando relatar essa história de sua vida e, ao mesmo tempo, da
vida do Trio Mossoró?
Acho que ele
está fazendo isso para contar aos seus conterrâneos o seu feito, de menino
sonhador, quando morava na beira do rio Mossoró, onde funcionou há algum tempo
o Colégio Geo. Em cima do muro ele e dois amigos dividiam seus sonhos. Ele
seria cantor famoso, um deles jogador e o outro da aeronáutica. Todos
realizaram seus sonhos. Houve momentos no livro em que mandei e-mails para
Oseas, pedindo mais detalhes de alguns fatos que ele achava irrelevante, por
exemplo, e que nos aprofundamos e rendeu bons capítulos. Observa-se que Oseas
foge ao assunto família, acho que por causa de três tragédias que ele viveu. A
perda de dois irmãos, com menos de 30 anos de idade. O primeiro, Edson, o irmão
mais bonito que ele diz que teve, em acidente numa plataforma da Petrobras, em
Macau. Acidente presenciado por outro irmão, companheiro de trabalho, Cocota,
que veio a ser assassinado com arma branca, aos vinte e poucos anos. Ele afirma
que era o mais talentoso para a música,
morto numa festa de despedida quando ia se juntar aos irmãos no Rio de Janeiro.
A terceira tragédia foi um acidente de moto com um filho, em Niterói, ainda
adolescente, que teve parte da perna amputada e foi tão dramático extrair isso
de Oseas, que preferi não incluir no livro. Por incrível que pareça, Oseas quis
contar sua história para os conterrâneos, mas esse livro vai ter um público
ampliado, em nível Nordeste e, por que não dizer, nacional, já que estará em
breve nas estantes de todo o país. Quem mais descreve sua trajetória são os
amigos artistas que enviaram depoimentos, gente como Luiz Vieira, Michael
Sullivan, Zé Messias, o jurado mais famoso do Brasil; Cláudio Fontana, Alcymar
Monteiro, Fernando Mendes e Raimundo Fagner, que se dispôs a ler o livro para
então escrever algo, sendo assim, sugeri que seu texto irá para o prefácio e
será bem-vindo, pois já colocou voz há alguns anos numa música de Oseas, Orós.
São pessoas para quem Oseas produziu discos. Lamento o estado de saúde de
Dominguinhos, também produzido por Oseas.
11 –
Considerações finais...
Em Mossoró e região, há muitas histórias
interessantes que merecem o registro em livro, mas infelizmente, as pessoas não
valorizam o quanto deveria, concluindo que o poder público que poderia investir
nisso, não o faz e nem incentiva. Penso em desenvolver ao longo do tempo,
outras biografias de gente de Mossoró ou que a adotou como sua cidade e aqui
cresceu, desenvolveu-se e ganhou destaque profissional em alguma área. Gostaria
muito de escrever a biografia de Bartô Galeno, por exemplo, a gente já vem há
um tempinho conversando sobre isso. Mantenho sempre contato com ele e sei do
seu sucesso a partir de São Paulo e Rio de Janeiro. Se alguém duvidar, é só
passar em alguns locais em São Paulo e Rio de Janeiro e ver faixas anunciando seus
shows. Mas em Mossoró, cidade que ele adotou aos dez anos de idade, o sucesso
dele chegou através de Fausto Silva, o Faustão, tanto criticado como
apresentador, mas que tem o dom de pesquisar e garimpar esses talentos.
Gostaria de escrever sobre Elizeu Ventania e tenho que correr contra o tempo,
porque as pessoas que conviveram mais com ele estão partindo. Porém, fica a
pergunta, para quem vou vender o livro de Elizeu Ventania? Livro é caro, livro dá trabalho e, costumo
dizer, livro pesa muito. Tente embarcar com uma caixa de livros para lançar em
outra cidade e saberá. Lamento, profundamente, o momento que vem passando a
Fundação Vingt-un Rosado, como lamento o acervo de Dorian e de Raibrito, homens
que enquanto vidas tiveram, batalharam pela nossa cultura, nossa história,
foram documentaristas e historiadores de um passado bem recente, hoje ignorado,
não apenas pelo poder público, mas pelos que fazem a cidade. Quantos já leram
suas obras? São riquíssimas. Não me canso de relê-los. O livro Memórias de Um Retirante, de Raimundo
Nonato, obra publicada por Vingt-un, é melhor do que Os Sertões e Vidas Secas,
juntos. Desenvolvi meu texto lendo Dorian Jorge Freire, algo que nenhuma
faculdade ensina. Imagino como sua família abriu mão de um mínimo de conforto
enquanto o pai colecionava livros caros.
Maio de 2013
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