terça-feira, 27 de setembro de 2022

SOBRE A BIOGRAFIA DO TRIO MOSSORÓ




Capa do livro. Pedidos pelo whatsapp 84-99668.4906


ENTREVISTA DE LÚCIA ROCHA, CO-AUTORA DA BIOGRAFIA DE OSEAS LOPES, O CARLOS ANDRÉ, PARA MÁRIO GERSON, DA GAZETA DO OESTE:

1 – Como começou a ideia do livro?

Desde que conheci Oseas Lopes, quando produzi o programa Mossoró de Todos os Tempos, vi que ele era dono de uma trajetória de sucesso na música brasileira, tanto como cantor, compositor e produtor musical, incluindo dentre seus trabalhos como produtor, grandes intérpretes, a começar pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, algo que eu desconhecia. Como jornalista e me achando uma pessoa bem informada, que não sabia desse feito dele, passei a incentivá-lo a escrever sua história. Fui surpreendida também com a confissão dele, de que um primo meu, o radialista Canindeh Alves, havia sido seu descobridor, aquele que ouviu sua voz enquanto passava numa rua e o convidou a fazer um show de aniversário da Rádio Tapuyo. Oseas era apenas um rapaz de 17 anos de idade, pintor de carroceria de caminhão, que cantava enquanto exercia sua atividade profissional. Esse fato é excepcional. E único.   

2 – Você já vinha estudando o assunto ou a pesquisa tomou ainda mais forma quando da proposta em ajudá-lo na confecção da obra?

Mesmo morando em São Paulo sempre procurei ler tudo a respeito da terra e do Nordeste. Em São Paulo frequento até hoje o Centro de Tradições Nordestinas, que é um recanto do Nordeste, onde a gente encontra o melhor da gastronomia nordestina e ouve o melhor da música nordestina, lá a música do Trio Mossoró é executada por outras bandas, por exemplo. Conheço quase todo o repertório do Trio Mossoró e lia tudo a respeito dele, como fã. Oseas Lopes me era familiar pelo fato de que tocou e cantou na casa do meu avô materno, sanfoneiro, quando eu tinha apenas cinco anos de idade e essa imagem é muito presente em minha vida e na de quem lá estava. Foi levado por Canindeh Alves, que queria fazer um agrado no avô, então com mais de 80 anos de idade. Profissionalmente, a partir desse contato para a produção e gravação do Mossoró de Todos os Tempos e agora organizando a história de Oseas e de seus irmãos, Hermelinda e João Batista - João Mossoró - surpreendi-me com o volume de informações que encontrei nas redes sociais, no Google, em sites e blogs especializados em música regional e até mesmo em livros, onde eles têm um lugar de destaque, como pioneiros do ritmo forró de boa qualidade na região Sudeste.

3 – Como está sendo esta nova experiência?

      Por diversas vezes Oseas me chamou para ajudá-lo na feitura desse livro, eu dizia a ele, como digo a outros mossoroenses de destaque lá fora, vão escrevendo, vão se lembrando do que passaram e coloquem no papel, por enquanto estou ocupada com outros trabalhos, não desmerecendo nenhum talento da terra, lógico, mas como profissional eu tenho compromissos com clientes em São Paulo, para onde me mudei no inicio de 1991, então são 22 anos de convivência e relacionamento profissional com pessoas que precisam do meu trabalho e preciso sobreviver na profissão que escolhi para não ser mais um jornalista reclamando de má remuneração. De lá para cá, tudo o que fiz relacionado a Mossoró, foi muito mais na base da paixão pelas coisas da terra do que pela sobrevivência profissional. Então, Oseas foi escrevendo ele mesmo sua trajetória, já que faz uso do computador para troca de mensagens e a gente faz isso desde 2006, quase que diariamente. Em dezembro, eu estava fora quando o professor e escritor Almir Nogueira me ligou convidando-me a fazer parte do projeto do livro de Oseas. Naquele momento aceitei, já passei umas orientações para Almir sobre a logística desse trabalho, a ser desenvolvido por nós três, no que vem dando certo. Em meados de janeiro quando retornei a Mossoró, comecei a organizar o texto, pois Oseas é compositor e músico, não um escritor. E escrever livros é diferente, ele sabe fazer música. Eu, não. Tem jornalista que escreve maravihosamente bem, mas se não estudar, não capacitar para ser escritor, não será um bom escritor. Tem que ter um bom vocabulário, ser um bom leitor. O professor Almir é responsável por todo o material produzido por Oseas Lopes, como cantor, compositor, produtor musical e passou a pesquisar, conseguir capas, fotos, enfim. Oseas sempre participando de tudo, numa troca de ideias e informações via e-mail. Nesse período esteve duas vezes em Mossoró, quando nos reuníamos o dia inteiro, almoçávamos, inclusive. Uma vez que o texto que ele mandou estava organizado, em ordem cronológica para melhor situar o leitor, para que este não se perdesse na história, como realmente aconteceu, passei a pesquisar e encontrei farto material publicado nos grandes jornais do Rio de Janeiro, fotos e fatos que aconteceram que nem Oseas lembrava mais, como por exemplo, a participação dele no programa Os Trapalhões, onde atuou cantando uma música enquanto Didi e seus companheiros faziam uma bagunça em cena. Também descobri que a Rede Globo havia lançado uma séria de LPs com a trilha sonora de Os Trapalhões e para nossa surpresa no primeiro LP, uma faixa do Trio Mossoró e mais uma vez, Oseas nem lembrava mais. Fora outras informações que completam a história dos três irmãos, se não fosse esse trabalho de garimpar na internet e com contatos de Mossoró, Natal, São Paulo e Rio de Janeiro, jamais esse livro sairia completo. A gente corre até o risco de deixar de fora alguma informação relevante, como expliquei, na internet, há um volume imensurável de informações sobre os irmãos de Mossoró que no início dos anos 60 ousaram levar o nosso forró para o Rio de Janeiro. À época, Oseas tinha 21 anos de idade, Hermelinda 15  e João Batista 13 anos.

4 – Comente um pouco sobre o Trio Mossoró...

      O Trio Mossoró começou como que uma brincadeira aqui em Mossoró, a partir do convite de Canindeh Alves para Oseas se apresentar na comemoração do primeiro aniversário da Rádio Tapuyo, em 1º de maio de 1956. Como se saiu bem, cantou apenas duas músicas e, de tão aplaudido, logo foi contratado para ser cantor exclusivo da rádio, ou seja, não poderia cantar na Rádio Difusora, a pioneira da cidade, que tinha programas de auditório. Oseas era filho de um despachante do porto de Areia Branca, muito fã de Luiz Gonzaga, que passou a investir no filho, comprou sanfona, arrumou professor e esse rapaz ousou partir para vôos mais altos, tentar a sorte no Rio de Janeiro, onde Luiz Gonzaga imperava no forró, ao lado de Marinês, de Campina Grande, ou seja, pessoas daqui do Nordeste que foram e se deram bem, isso motivou o rapaz que achava Mossoró pequeno para seus sonhos.

Pouco tempo depois que chegou ao Rio de Janeiro, passou a cantar em programas de auditório da Rádio Nacional e Rádio Mayrink Veiga, que comandavam a audiência, num Rio de Janeiro onde o rádio era mais forte do que o novo veículo, a televisão. Ao sentir que estava na hora de chamar os irmãos, João e Hermelinda, com que vinha se apresentando em Mossoró nos últimos tempos, com a chegada deles no Rio de Janeiro, encontrou em João do Vale, grande compositor maranhense, o padrinho que precisavam para gravar o primeiro disco e, com a música Carcará, que tempos depois lançou Maria Bethânia, eles atingiram o ápice da carreira, vencendo o Troféu Euterpe, então a maior premiação da música popular brasileira, num grande evento no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de estrelas da MPB. Mossoró soube desse feito muitos anos depois, porque naqueles anos 60, não havia a comunicação de hoje, o Trio Mossoró nunca contou com o trabalho de divulgação de uma assessoria de imprensa, algo raro naquele tempo. No início dos anos 70, o forró foi perdendo espaço no Rio de Janeiro e em São Paulo para outros ritmos, como Jovem Guarda, por exemplo, então o trio foi extinto e Oseas Lopes adotou o nome artístico de Carlos André e gravou um LP em 1974, que vendem até hoje, mais de 2 milhões de discos, com a música que ficou famosa por Quebra Mesa, ainda bastante executada em todo o Nordeste. Os outros irmão até hoje também cantam em carreira solo. Hermelinda chegou a gravar música romântica com o nome Ana Paula, mas voltou para o forró. E João Batista adotou o nome João Mossoró e ficou no Rio de Janeiro, onde se apresenta cantando forró. 

5 – Qual a contribuição do trio para a música nordestina? Existe outra obra que fala sobre isso?

      Recentemente foi lançado o livro O Fole Roncou, de Carlos Marcello, o mesmo autor da biografia de Renato Russo. E o Trio Mossoró tem destaque com fotos dos integrantes e de algumas capas dos seus LPs, além de trinta páginas de texto dedicadas a trajetória deles. Esse livro conta toda a história do forró e já indico para quem gosta do gênero, é a maior prova de que o Trio Mossoró contribuiu para a música nordestina. O Dicionário Cravo Albim, de Música Popular Brasileira também registra a história dos irmãos mossoroenses e outras publicações nordestinas e do Rio Grande do Norte registram a contribuição deles, não somente como intérpretes, como compositores, pois todos os integrantes são compositores, por exemplo, João Mossoró tem letras lindas gravadas por artistas de relevância nacional. Hermelinda é autora de um grande sucesso de Elba Ramalho, como Toque de Fole, algo que eu não sabia, por exemplo. Os irmãos inspiraram outras bandas e trios no mesmo estilo musical, sem sombra de dúvidas e até mesmo a pessoas do sexo feminino, porque antes de Hermelinda passar a integrar o Trio Mossoró, o pai relutou, porque era do sexo feminino, no que Canindeh Alves, que havia sugerido ela ingressar na carreira artística, na mesma hora demoveu seu Messias, pais dele, porque Canindeh alegou que sua então namorada Ivanilda Linhares, trabalhava com ele na rádio. E Hermelinda honrou sua família, sua vida pessoal, porque era por demais assediada por outros artistas e apresentadores, mas nunca cedeu, nunca se envolveu com ninguém em troca de marketing de projeção pessoal. O autor de O Fole Roncou comenta esse assédio.        

6 – Quem está envolvido no projeto do livro, fora você e Oséas?

      É o professor Almir Nogueira, diretor da Biblioteca Municipal Ney Pontes, historiador, autor de outros livros sobre Mossoró. Agora que conclui a minha parte, ele está já envolvido com a diagramação e supervisionando tudo, desde capa, legendas das fotos e tudo o que envolver a parte gráfica. Oseas é nosso parceiro e é bom trabalhar com ele, super obediente, tem consciência de que tem uma bela história e que ela está em boas mãos.

7 – Pretende lançar quando? Como?

       Essa parte sobre lançamento está, especialmente, sob a responsabilidade de Almir. Como eu disse no inicio, sou muito ocupada com outras tarefas até fora do estado, meu compromisso com eles foi a parte do texto, organizar, pesquisar e dar o texto final. Mas acredito que no final de maio, antes mesmo do evento Mossoró Cidade Junina. Porque sugeri a Oseas fazer um lançamento durante todo o mês de junho, nos grandes eventos juninos do Nordeste. Como ele mora em Recife, poderá aproveitar o calendário de eventos juninos em Pernambuco, na capital e interior e estados vizinhos, como Campina Grande, Assu, Fortaleza, enfim, onde houver um evento público em que possa encaixar na programação, seria muito bom que ali estivesse ele com disposição para  tardes/noites de autógrafos. Oseas estará participando juntamente com Carlos Marcello, autor de O Fole Roncou, da Feira do Livro de Mossoró, no que vai enriquecer o conteúdo desta feira, isso me agradou bastante. Talvez seja um momento único na vida de Oseas onde a cidade poderá valorizar mais ainda o seu trabalho, o seu histórico, pois o rádio de Mossoró o prestigia bastante. Talvez Oseas seja um dos poucos talentos musicais deste país onde sua música seja executada com frequência, algo incomum em outras cidades, com seus conterrâneos. Como boa ouvinte de rádio posso garantir que não há um dia em que eu não ouça a voz de Oseas Lopes, seja no Trio Mossoró ou como Carlos André. Mesmo que eu esteja ausente da cidade, pois acompanho a programação local através do Iphone, onde quer que esteja.        

 8 – Você acredita que Mossoró reconheceu o valor desse trio?

        Na medida em que a cidade tinha informações vindas do sucesso da região Sudeste, sim. Em 1965, a Rádio Rural trouxe o Trio Mossoró, como celebridade, segundo Oseas. Vieram de avião, inclusive ele trouxe a família, esposa e filhos, com todas as despesas pagas pela rádio, ficaram no melhor hotel da cidade, no caso, o Esperança Palace Hotel.  Com certeza, o poder público da cidade recebeu melhor outros artistas, pois sabe-se de homenagens que foram feitas a artistas de outras cidades. Os integrantes do Trio Mossoró só vieram receber homenagem pelo poder público em 2009, através de projeto de uma vereadora que nem da cidade é, no caso a hoje prefeita Cláudia Regina.  A gente enxerga melhor o sucesso dos outros do que dos nossos conterrâneos, mesmo com toda tecnologia, com redes sociais, acho que hoje, Mossoró não sabe dos talentos da terra, não que não valorize. Mas a nossa imprensa só dá destaque quando alguém daqui chega a participar de um programa de televisão exibido em rede nacional, por exemplo. A Titina Medeiros, que fez sucesso na Globo, com uma novela recentemente é um exemplo claro. Precisou ir ao programa do Faustão para a imprensa de Natal chamar a atenção do poder público. Eu pergunto: onde estava a imprensa de Natal quando essa moça começou a se destacar em Natal mesmo, fazendo teatro? Por que chamar o poder público? A imprensa por si só pautando a moça, faria com que o poder público soubesse desse talento. Enfim. Vi muita gente começar em São Paulo, ralar muito, gente até do Nordeste e só merecer o destaque em sua cidade, quando não há mais nenhuma saída, a não ser reconhecer que são pessoas especiais, nasceram para a arte e assim seja. Não é uma situação de Mossoró. Há vinte anos, garanto que em Salvador, as rádios tocavam muito raramente Bethânia, Caetano e Gal, sempre à noite. Precisou estourar o axé em São Paulo e Rio de Janeiro para a própria Bahia, que é um celeiro de talentos, passar a executar a música baiana. Dá gosto você estar em Salvador e encontrar um Compadre Washington guiando um Mercedes conversível, coisas que antes não se via, por exemplo. Quero ainda ver um Reynaldo Bessa ser reconhecido em sua cidade, prestigiado quando faz um show e a mídia divulga, repercute, dá espaço para ele. Em São Paulo, ele lota os espaços públicos e faz parte da agenda cultural da prefeitura.

Espero, sinceramente, que o mossoroense leia o nosso livro de Oseas Lopes e que saiba o quanto ele foi importante para a carreira de muita gente, inclusive.          

 9 – Comente um pouco sobre sua carreira...

        Sou formada em Ciências Sociais na UERN e Comunicação Social na UFRN. Ainda como estudante de jornalismo tive experiência profissional fazendo reportagens especiais, no O Mossoroense e no extinto Dois Pontos, de Natal. Por causa do meu bom texto, fui chamada por Osair Vasconcelos, para a TV Cabugi. Ao final do curso, desembarquei no TJ Brasil, no SBT, em São Paulo. No TJ recebi um convite irrecusável para cuidar da carreira de Mara Maravilha e ser diretora de palco do programa dela, também no SBT. Foi tudo muito rápido e achei interessante atuar no show business. Dois anos depois, tive que dar um tempo e retornei a Mossoró para acompanhar tratamento médico de mamãe, que estava com depressão à época. Em Mossoró, fui chamada para abrir a sucursal da TV Ponta Negra e capacitar os profissionais contratados. Oito meses depois, retornei para São Paulo, decidida em não mais trabalhar em regime de 24 horas, como vinha fazendo com Mara. Então, fui assessorar a banda Raça Negra, que à época vendia um milhão e meio de discos por ano. Uma experiência maravilhosa, onde comecei a pensar na possibilidade de escrever um livro com a história deles, muito bonita. Ainda devo esse livro a Luiz Carlos. Ainda no Raça Negra, passei a assessorar um empresário palestrante. Foi quando comecei a desenvolver no computador a história da empresa dele, de cosméticos. Ele só soube disso quando estava pronto, foi meu primeiro livro. Criei gosto pela coisa, participei de um curso para escritores e não perco as palestras de biógrafos na Bienal do Livro de São Paulo. De lá para cá, venho escrevendo livros na condição de ghost writer - escritor fantasma - que me dá suporte financeiro. Faço isso como hobby, pois quando a gente faz o que gosta, tudo é lazer. Posso dizer que desde que me graduei em jornalismo nunca mais trabalhei, vivo eternamente de férias. Só sei que o povo não está de férias quando passo em frente a um colégio e vejo pais esperando os filhos. Retornando a Mossoró para acompanhar tratamento médico de mamãe - que tem síndrome de pânico - escrever livros passou a ser minha principal atividade profissional. Em Mossoró já escrevi alguns, o mais interessante foi o de um empresário que não quis lançar. A proposta dele foi deixar para os seus descendentes sua história. Ao final do trabalho, ele gostou tanto do resultado, que me gratificou com um cheque. Não me devia mais nada, mas fez questão. Para Mossoró, acho que é algo raro. Esse cliente é uma pessoa muito especial. Provou que é um grande empresário, que honra sua história de sucesso e pessoal. Este ano tenho mais dois livros a lançar, espero que um deles na próxima feira do livro. São projetos meus. Devo registrar que em 2005 lancei em São Paulo e em Mossoró, o Catadora de Sonhos, que sabe-se lá como, chegou na França e mereceu reportagem no Le Monde. Acho-me uma grande incentivadora de escritores. Participo do desenvolvimento de livros de algumas pessoas em São Paulo. Nos próximos dias encontrarei pessoalmente com cinco deles, mas esse trabalho a gente desenvolve mesmo pela internet, que é uma excelente ferramenta de trabalho.

10 – Como Oséas está encarando relatar essa história de sua vida e, ao mesmo tempo, da vida do Trio Mossoró?

Acho que ele está fazendo isso para contar aos seus conterrâneos o seu feito, de menino sonhador, quando morava na beira do rio Mossoró, onde funcionou há algum tempo o Colégio Geo. Em cima do muro ele e dois amigos dividiam seus sonhos. Ele seria cantor famoso, um deles jogador e o outro da aeronáutica. Todos realizaram seus sonhos. Houve momentos no livro em que mandei e-mails para Oseas, pedindo mais detalhes de alguns fatos que ele achava irrelevante, por exemplo, e que nos aprofundamos e rendeu bons capítulos. Observa-se que Oseas foge ao assunto família, acho que por causa de três tragédias que ele viveu. A perda de dois irmãos, com menos de 30 anos de idade. O primeiro, Edson, o irmão mais bonito que ele diz que teve, em acidente numa plataforma da Petrobras, em Macau. Acidente presenciado por outro irmão, companheiro de trabalho, Cocota, que veio a ser assassinado com arma branca, aos vinte e poucos anos. Ele afirma que era o mais talentoso  para a música, morto numa festa de despedida quando ia se juntar aos irmãos no Rio de Janeiro. A terceira tragédia foi um acidente de moto com um filho, em Niterói, ainda adolescente, que teve parte da perna amputada e foi tão dramático extrair isso de Oseas, que preferi não incluir no livro. Por incrível que pareça, Oseas quis contar sua história para os conterrâneos, mas esse livro vai ter um público ampliado, em nível Nordeste e, por que não dizer, nacional, já que estará em breve nas estantes de todo o país. Quem mais descreve sua trajetória são os amigos artistas que enviaram depoimentos, gente como Luiz Vieira, Michael Sullivan, Zé Messias, o jurado mais famoso do Brasil; Cláudio Fontana, Alcymar Monteiro, Fernando Mendes e Raimundo Fagner, que se dispôs a ler o livro para então escrever algo, sendo assim, sugeri que seu texto irá para o prefácio e será bem-vindo, pois já colocou voz há alguns anos numa música de Oseas, Orós. São pessoas para quem Oseas produziu discos. Lamento o estado de saúde de Dominguinhos, também produzido por Oseas.              

11 – Considerações finais...

 Em Mossoró e região, há muitas histórias interessantes que merecem o registro em livro, mas infelizmente, as pessoas não valorizam o quanto deveria, concluindo que o poder público que poderia investir nisso, não o faz e nem incentiva. Penso em desenvolver ao longo do tempo, outras biografias de gente de Mossoró ou que a adotou como sua cidade e aqui cresceu, desenvolveu-se e ganhou destaque profissional em alguma área. Gostaria muito de escrever a biografia de Bartô Galeno, por exemplo, a gente já vem há um tempinho conversando sobre isso. Mantenho sempre contato com ele e sei do seu sucesso a partir de São Paulo e Rio de Janeiro. Se alguém duvidar, é só passar em alguns locais em São Paulo e Rio de Janeiro e ver faixas anunciando seus shows. Mas em Mossoró, cidade que ele adotou aos dez anos de idade, o sucesso dele chegou através de Fausto Silva, o Faustão, tanto criticado como apresentador, mas que tem o dom de pesquisar e garimpar esses talentos. Gostaria de escrever sobre Elizeu Ventania e tenho que correr contra o tempo, porque as pessoas que conviveram mais com ele estão partindo. Porém, fica a pergunta, para quem vou vender o livro de Elizeu Ventania?  Livro é caro, livro dá trabalho e, costumo dizer, livro pesa muito. Tente embarcar com uma caixa de livros para lançar em outra cidade e saberá. Lamento, profundamente, o momento que vem passando a Fundação Vingt-un Rosado, como lamento o acervo de Dorian e de Raibrito, homens que enquanto vidas tiveram, batalharam pela nossa cultura, nossa história, foram documentaristas e historiadores de um passado bem recente, hoje ignorado, não apenas pelo poder público, mas pelos que fazem a cidade. Quantos já leram suas obras? São riquíssimas. Não me canso de relê-los. O livro Memórias de Um Retirante, de Raimundo Nonato, obra publicada por Vingt-un, é melhor do que Os Sertões e Vidas Secas, juntos. Desenvolvi meu texto lendo Dorian Jorge Freire, algo que nenhuma faculdade ensina. Imagino como sua família abriu mão de um mínimo de conforto enquanto o pai colecionava livros caros.      
Maio de 2013

 


Messias e Joanita Lopes, pais de Oseas, Hermelinda e João Mossoró. 

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