terça-feira, 27 de setembro de 2022

SOBRE A BIOGRAFIA DO TRIO MOSSORÓ




Capa do livro. Pedidos pelo whatsapp 84-99668.4906


ENTREVISTA DE LÚCIA ROCHA, CO-AUTORA DA BIOGRAFIA DE OSEAS LOPES, O CARLOS ANDRÉ, PARA MÁRIO GERSON, DA GAZETA DO OESTE:

1 – Como começou a ideia do livro?

Desde que conheci Oseas Lopes, quando produzi o programa Mossoró de Todos os Tempos, vi que ele era dono de uma trajetória de sucesso na música brasileira, tanto como cantor, compositor e produtor musical, incluindo dentre seus trabalhos como produtor, grandes intérpretes, a começar pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, algo que eu desconhecia. Como jornalista e me achando uma pessoa bem informada, que não sabia desse feito dele, passei a incentivá-lo a escrever sua história. Fui surpreendida também com a confissão dele, de que um primo meu, o radialista Canindeh Alves, havia sido seu descobridor, aquele que ouviu sua voz enquanto passava numa rua e o convidou a fazer um show de aniversário da Rádio Tapuyo. Oseas era apenas um rapaz de 17 anos de idade, pintor de carroceria de caminhão, que cantava enquanto exercia sua atividade profissional. Esse fato é excepcional. E único.   

2 – Você já vinha estudando o assunto ou a pesquisa tomou ainda mais forma quando da proposta em ajudá-lo na confecção da obra?

Mesmo morando em São Paulo sempre procurei ler tudo a respeito da terra e do Nordeste. Em São Paulo frequento até hoje o Centro de Tradições Nordestinas, que é um recanto do Nordeste, onde a gente encontra o melhor da gastronomia nordestina e ouve o melhor da música nordestina, lá a música do Trio Mossoró é executada por outras bandas, por exemplo. Conheço quase todo o repertório do Trio Mossoró e lia tudo a respeito dele, como fã. Oseas Lopes me era familiar pelo fato de que tocou e cantou na casa do meu avô materno, sanfoneiro, quando eu tinha apenas cinco anos de idade e essa imagem é muito presente em minha vida e na de quem lá estava. Foi levado por Canindeh Alves, que queria fazer um agrado no avô, então com mais de 80 anos de idade. Profissionalmente, a partir desse contato para a produção e gravação do Mossoró de Todos os Tempos e agora organizando a história de Oseas e de seus irmãos, Hermelinda e João Batista - João Mossoró - surpreendi-me com o volume de informações que encontrei nas redes sociais, no Google, em sites e blogs especializados em música regional e até mesmo em livros, onde eles têm um lugar de destaque, como pioneiros do ritmo forró de boa qualidade na região Sudeste.

3 – Como está sendo esta nova experiência?

      Por diversas vezes Oseas me chamou para ajudá-lo na feitura desse livro, eu dizia a ele, como digo a outros mossoroenses de destaque lá fora, vão escrevendo, vão se lembrando do que passaram e coloquem no papel, por enquanto estou ocupada com outros trabalhos, não desmerecendo nenhum talento da terra, lógico, mas como profissional eu tenho compromissos com clientes em São Paulo, para onde me mudei no inicio de 1991, então são 22 anos de convivência e relacionamento profissional com pessoas que precisam do meu trabalho e preciso sobreviver na profissão que escolhi para não ser mais um jornalista reclamando de má remuneração. De lá para cá, tudo o que fiz relacionado a Mossoró, foi muito mais na base da paixão pelas coisas da terra do que pela sobrevivência profissional. Então, Oseas foi escrevendo ele mesmo sua trajetória, já que faz uso do computador para troca de mensagens e a gente faz isso desde 2006, quase que diariamente. Em dezembro, eu estava fora quando o professor e escritor Almir Nogueira me ligou convidando-me a fazer parte do projeto do livro de Oseas. Naquele momento aceitei, já passei umas orientações para Almir sobre a logística desse trabalho, a ser desenvolvido por nós três, no que vem dando certo. Em meados de janeiro quando retornei a Mossoró, comecei a organizar o texto, pois Oseas é compositor e músico, não um escritor. E escrever livros é diferente, ele sabe fazer música. Eu, não. Tem jornalista que escreve maravihosamente bem, mas se não estudar, não capacitar para ser escritor, não será um bom escritor. Tem que ter um bom vocabulário, ser um bom leitor. O professor Almir é responsável por todo o material produzido por Oseas Lopes, como cantor, compositor, produtor musical e passou a pesquisar, conseguir capas, fotos, enfim. Oseas sempre participando de tudo, numa troca de ideias e informações via e-mail. Nesse período esteve duas vezes em Mossoró, quando nos reuníamos o dia inteiro, almoçávamos, inclusive. Uma vez que o texto que ele mandou estava organizado, em ordem cronológica para melhor situar o leitor, para que este não se perdesse na história, como realmente aconteceu, passei a pesquisar e encontrei farto material publicado nos grandes jornais do Rio de Janeiro, fotos e fatos que aconteceram que nem Oseas lembrava mais, como por exemplo, a participação dele no programa Os Trapalhões, onde atuou cantando uma música enquanto Didi e seus companheiros faziam uma bagunça em cena. Também descobri que a Rede Globo havia lançado uma séria de LPs com a trilha sonora de Os Trapalhões e para nossa surpresa no primeiro LP, uma faixa do Trio Mossoró e mais uma vez, Oseas nem lembrava mais. Fora outras informações que completam a história dos três irmãos, se não fosse esse trabalho de garimpar na internet e com contatos de Mossoró, Natal, São Paulo e Rio de Janeiro, jamais esse livro sairia completo. A gente corre até o risco de deixar de fora alguma informação relevante, como expliquei, na internet, há um volume imensurável de informações sobre os irmãos de Mossoró que no início dos anos 60 ousaram levar o nosso forró para o Rio de Janeiro. À época, Oseas tinha 21 anos de idade, Hermelinda 15  e João Batista 13 anos.

4 – Comente um pouco sobre o Trio Mossoró...

      O Trio Mossoró começou como que uma brincadeira aqui em Mossoró, a partir do convite de Canindeh Alves para Oseas se apresentar na comemoração do primeiro aniversário da Rádio Tapuyo, em 1º de maio de 1956. Como se saiu bem, cantou apenas duas músicas e, de tão aplaudido, logo foi contratado para ser cantor exclusivo da rádio, ou seja, não poderia cantar na Rádio Difusora, a pioneira da cidade, que tinha programas de auditório. Oseas era filho de um despachante do porto de Areia Branca, muito fã de Luiz Gonzaga, que passou a investir no filho, comprou sanfona, arrumou professor e esse rapaz ousou partir para vôos mais altos, tentar a sorte no Rio de Janeiro, onde Luiz Gonzaga imperava no forró, ao lado de Marinês, de Campina Grande, ou seja, pessoas daqui do Nordeste que foram e se deram bem, isso motivou o rapaz que achava Mossoró pequeno para seus sonhos.

Pouco tempo depois que chegou ao Rio de Janeiro, passou a cantar em programas de auditório da Rádio Nacional e Rádio Mayrink Veiga, que comandavam a audiência, num Rio de Janeiro onde o rádio era mais forte do que o novo veículo, a televisão. Ao sentir que estava na hora de chamar os irmãos, João e Hermelinda, com que vinha se apresentando em Mossoró nos últimos tempos, com a chegada deles no Rio de Janeiro, encontrou em João do Vale, grande compositor maranhense, o padrinho que precisavam para gravar o primeiro disco e, com a música Carcará, que tempos depois lançou Maria Bethânia, eles atingiram o ápice da carreira, vencendo o Troféu Euterpe, então a maior premiação da música popular brasileira, num grande evento no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de estrelas da MPB. Mossoró soube desse feito muitos anos depois, porque naqueles anos 60, não havia a comunicação de hoje, o Trio Mossoró nunca contou com o trabalho de divulgação de uma assessoria de imprensa, algo raro naquele tempo. No início dos anos 70, o forró foi perdendo espaço no Rio de Janeiro e em São Paulo para outros ritmos, como Jovem Guarda, por exemplo, então o trio foi extinto e Oseas Lopes adotou o nome artístico de Carlos André e gravou um LP em 1974, que vendem até hoje, mais de 2 milhões de discos, com a música que ficou famosa por Quebra Mesa, ainda bastante executada em todo o Nordeste. Os outros irmão até hoje também cantam em carreira solo. Hermelinda chegou a gravar música romântica com o nome Ana Paula, mas voltou para o forró. E João Batista adotou o nome João Mossoró e ficou no Rio de Janeiro, onde se apresenta cantando forró. 

5 – Qual a contribuição do trio para a música nordestina? Existe outra obra que fala sobre isso?

      Recentemente foi lançado o livro O Fole Roncou, de Carlos Marcello, o mesmo autor da biografia de Renato Russo. E o Trio Mossoró tem destaque com fotos dos integrantes e de algumas capas dos seus LPs, além de trinta páginas de texto dedicadas a trajetória deles. Esse livro conta toda a história do forró e já indico para quem gosta do gênero, é a maior prova de que o Trio Mossoró contribuiu para a música nordestina. O Dicionário Cravo Albim, de Música Popular Brasileira também registra a história dos irmãos mossoroenses e outras publicações nordestinas e do Rio Grande do Norte registram a contribuição deles, não somente como intérpretes, como compositores, pois todos os integrantes são compositores, por exemplo, João Mossoró tem letras lindas gravadas por artistas de relevância nacional. Hermelinda é autora de um grande sucesso de Elba Ramalho, como Toque de Fole, algo que eu não sabia, por exemplo. Os irmãos inspiraram outras bandas e trios no mesmo estilo musical, sem sombra de dúvidas e até mesmo a pessoas do sexo feminino, porque antes de Hermelinda passar a integrar o Trio Mossoró, o pai relutou, porque era do sexo feminino, no que Canindeh Alves, que havia sugerido ela ingressar na carreira artística, na mesma hora demoveu seu Messias, pais dele, porque Canindeh alegou que sua então namorada Ivanilda Linhares, trabalhava com ele na rádio. E Hermelinda honrou sua família, sua vida pessoal, porque era por demais assediada por outros artistas e apresentadores, mas nunca cedeu, nunca se envolveu com ninguém em troca de marketing de projeção pessoal. O autor de O Fole Roncou comenta esse assédio.        

6 – Quem está envolvido no projeto do livro, fora você e Oséas?

      É o professor Almir Nogueira, diretor da Biblioteca Municipal Ney Pontes, historiador, autor de outros livros sobre Mossoró. Agora que conclui a minha parte, ele está já envolvido com a diagramação e supervisionando tudo, desde capa, legendas das fotos e tudo o que envolver a parte gráfica. Oseas é nosso parceiro e é bom trabalhar com ele, super obediente, tem consciência de que tem uma bela história e que ela está em boas mãos.

7 – Pretende lançar quando? Como?

       Essa parte sobre lançamento está, especialmente, sob a responsabilidade de Almir. Como eu disse no inicio, sou muito ocupada com outras tarefas até fora do estado, meu compromisso com eles foi a parte do texto, organizar, pesquisar e dar o texto final. Mas acredito que no final de maio, antes mesmo do evento Mossoró Cidade Junina. Porque sugeri a Oseas fazer um lançamento durante todo o mês de junho, nos grandes eventos juninos do Nordeste. Como ele mora em Recife, poderá aproveitar o calendário de eventos juninos em Pernambuco, na capital e interior e estados vizinhos, como Campina Grande, Assu, Fortaleza, enfim, onde houver um evento público em que possa encaixar na programação, seria muito bom que ali estivesse ele com disposição para  tardes/noites de autógrafos. Oseas estará participando juntamente com Carlos Marcello, autor de O Fole Roncou, da Feira do Livro de Mossoró, no que vai enriquecer o conteúdo desta feira, isso me agradou bastante. Talvez seja um momento único na vida de Oseas onde a cidade poderá valorizar mais ainda o seu trabalho, o seu histórico, pois o rádio de Mossoró o prestigia bastante. Talvez Oseas seja um dos poucos talentos musicais deste país onde sua música seja executada com frequência, algo incomum em outras cidades, com seus conterrâneos. Como boa ouvinte de rádio posso garantir que não há um dia em que eu não ouça a voz de Oseas Lopes, seja no Trio Mossoró ou como Carlos André. Mesmo que eu esteja ausente da cidade, pois acompanho a programação local através do Iphone, onde quer que esteja.        

 8 – Você acredita que Mossoró reconheceu o valor desse trio?

        Na medida em que a cidade tinha informações vindas do sucesso da região Sudeste, sim. Em 1965, a Rádio Rural trouxe o Trio Mossoró, como celebridade, segundo Oseas. Vieram de avião, inclusive ele trouxe a família, esposa e filhos, com todas as despesas pagas pela rádio, ficaram no melhor hotel da cidade, no caso, o Esperança Palace Hotel.  Com certeza, o poder público da cidade recebeu melhor outros artistas, pois sabe-se de homenagens que foram feitas a artistas de outras cidades. Os integrantes do Trio Mossoró só vieram receber homenagem pelo poder público em 2009, através de projeto de uma vereadora que nem da cidade é, no caso a hoje prefeita Cláudia Regina.  A gente enxerga melhor o sucesso dos outros do que dos nossos conterrâneos, mesmo com toda tecnologia, com redes sociais, acho que hoje, Mossoró não sabe dos talentos da terra, não que não valorize. Mas a nossa imprensa só dá destaque quando alguém daqui chega a participar de um programa de televisão exibido em rede nacional, por exemplo. A Titina Medeiros, que fez sucesso na Globo, com uma novela recentemente é um exemplo claro. Precisou ir ao programa do Faustão para a imprensa de Natal chamar a atenção do poder público. Eu pergunto: onde estava a imprensa de Natal quando essa moça começou a se destacar em Natal mesmo, fazendo teatro? Por que chamar o poder público? A imprensa por si só pautando a moça, faria com que o poder público soubesse desse talento. Enfim. Vi muita gente começar em São Paulo, ralar muito, gente até do Nordeste e só merecer o destaque em sua cidade, quando não há mais nenhuma saída, a não ser reconhecer que são pessoas especiais, nasceram para a arte e assim seja. Não é uma situação de Mossoró. Há vinte anos, garanto que em Salvador, as rádios tocavam muito raramente Bethânia, Caetano e Gal, sempre à noite. Precisou estourar o axé em São Paulo e Rio de Janeiro para a própria Bahia, que é um celeiro de talentos, passar a executar a música baiana. Dá gosto você estar em Salvador e encontrar um Compadre Washington guiando um Mercedes conversível, coisas que antes não se via, por exemplo. Quero ainda ver um Reynaldo Bessa ser reconhecido em sua cidade, prestigiado quando faz um show e a mídia divulga, repercute, dá espaço para ele. Em São Paulo, ele lota os espaços públicos e faz parte da agenda cultural da prefeitura.

Espero, sinceramente, que o mossoroense leia o nosso livro de Oseas Lopes e que saiba o quanto ele foi importante para a carreira de muita gente, inclusive.          

 9 – Comente um pouco sobre sua carreira...

        Sou formada em Ciências Sociais na UERN e Comunicação Social na UFRN. Ainda como estudante de jornalismo tive experiência profissional fazendo reportagens especiais, no O Mossoroense e no extinto Dois Pontos, de Natal. Por causa do meu bom texto, fui chamada por Osair Vasconcelos, para a TV Cabugi. Ao final do curso, desembarquei no TJ Brasil, no SBT, em São Paulo. No TJ recebi um convite irrecusável para cuidar da carreira de Mara Maravilha e ser diretora de palco do programa dela, também no SBT. Foi tudo muito rápido e achei interessante atuar no show business. Dois anos depois, tive que dar um tempo e retornei a Mossoró para acompanhar tratamento médico de mamãe, que estava com depressão à época. Em Mossoró, fui chamada para abrir a sucursal da TV Ponta Negra e capacitar os profissionais contratados. Oito meses depois, retornei para São Paulo, decidida em não mais trabalhar em regime de 24 horas, como vinha fazendo com Mara. Então, fui assessorar a banda Raça Negra, que à época vendia um milhão e meio de discos por ano. Uma experiência maravilhosa, onde comecei a pensar na possibilidade de escrever um livro com a história deles, muito bonita. Ainda devo esse livro a Luiz Carlos. Ainda no Raça Negra, passei a assessorar um empresário palestrante. Foi quando comecei a desenvolver no computador a história da empresa dele, de cosméticos. Ele só soube disso quando estava pronto, foi meu primeiro livro. Criei gosto pela coisa, participei de um curso para escritores e não perco as palestras de biógrafos na Bienal do Livro de São Paulo. De lá para cá, venho escrevendo livros na condição de ghost writer - escritor fantasma - que me dá suporte financeiro. Faço isso como hobby, pois quando a gente faz o que gosta, tudo é lazer. Posso dizer que desde que me graduei em jornalismo nunca mais trabalhei, vivo eternamente de férias. Só sei que o povo não está de férias quando passo em frente a um colégio e vejo pais esperando os filhos. Retornando a Mossoró para acompanhar tratamento médico de mamãe - que tem síndrome de pânico - escrever livros passou a ser minha principal atividade profissional. Em Mossoró já escrevi alguns, o mais interessante foi o de um empresário que não quis lançar. A proposta dele foi deixar para os seus descendentes sua história. Ao final do trabalho, ele gostou tanto do resultado, que me gratificou com um cheque. Não me devia mais nada, mas fez questão. Para Mossoró, acho que é algo raro. Esse cliente é uma pessoa muito especial. Provou que é um grande empresário, que honra sua história de sucesso e pessoal. Este ano tenho mais dois livros a lançar, espero que um deles na próxima feira do livro. São projetos meus. Devo registrar que em 2005 lancei em São Paulo e em Mossoró, o Catadora de Sonhos, que sabe-se lá como, chegou na França e mereceu reportagem no Le Monde. Acho-me uma grande incentivadora de escritores. Participo do desenvolvimento de livros de algumas pessoas em São Paulo. Nos próximos dias encontrarei pessoalmente com cinco deles, mas esse trabalho a gente desenvolve mesmo pela internet, que é uma excelente ferramenta de trabalho.

10 – Como Oséas está encarando relatar essa história de sua vida e, ao mesmo tempo, da vida do Trio Mossoró?

Acho que ele está fazendo isso para contar aos seus conterrâneos o seu feito, de menino sonhador, quando morava na beira do rio Mossoró, onde funcionou há algum tempo o Colégio Geo. Em cima do muro ele e dois amigos dividiam seus sonhos. Ele seria cantor famoso, um deles jogador e o outro da aeronáutica. Todos realizaram seus sonhos. Houve momentos no livro em que mandei e-mails para Oseas, pedindo mais detalhes de alguns fatos que ele achava irrelevante, por exemplo, e que nos aprofundamos e rendeu bons capítulos. Observa-se que Oseas foge ao assunto família, acho que por causa de três tragédias que ele viveu. A perda de dois irmãos, com menos de 30 anos de idade. O primeiro, Edson, o irmão mais bonito que ele diz que teve, em acidente numa plataforma da Petrobras, em Macau. Acidente presenciado por outro irmão, companheiro de trabalho, Cocota, que veio a ser assassinado com arma branca, aos vinte e poucos anos. Ele afirma que era o mais talentoso  para a música, morto numa festa de despedida quando ia se juntar aos irmãos no Rio de Janeiro. A terceira tragédia foi um acidente de moto com um filho, em Niterói, ainda adolescente, que teve parte da perna amputada e foi tão dramático extrair isso de Oseas, que preferi não incluir no livro. Por incrível que pareça, Oseas quis contar sua história para os conterrâneos, mas esse livro vai ter um público ampliado, em nível Nordeste e, por que não dizer, nacional, já que estará em breve nas estantes de todo o país. Quem mais descreve sua trajetória são os amigos artistas que enviaram depoimentos, gente como Luiz Vieira, Michael Sullivan, Zé Messias, o jurado mais famoso do Brasil; Cláudio Fontana, Alcymar Monteiro, Fernando Mendes e Raimundo Fagner, que se dispôs a ler o livro para então escrever algo, sendo assim, sugeri que seu texto irá para o prefácio e será bem-vindo, pois já colocou voz há alguns anos numa música de Oseas, Orós. São pessoas para quem Oseas produziu discos. Lamento o estado de saúde de Dominguinhos, também produzido por Oseas.              

11 – Considerações finais...

 Em Mossoró e região, há muitas histórias interessantes que merecem o registro em livro, mas infelizmente, as pessoas não valorizam o quanto deveria, concluindo que o poder público que poderia investir nisso, não o faz e nem incentiva. Penso em desenvolver ao longo do tempo, outras biografias de gente de Mossoró ou que a adotou como sua cidade e aqui cresceu, desenvolveu-se e ganhou destaque profissional em alguma área. Gostaria muito de escrever a biografia de Bartô Galeno, por exemplo, a gente já vem há um tempinho conversando sobre isso. Mantenho sempre contato com ele e sei do seu sucesso a partir de São Paulo e Rio de Janeiro. Se alguém duvidar, é só passar em alguns locais em São Paulo e Rio de Janeiro e ver faixas anunciando seus shows. Mas em Mossoró, cidade que ele adotou aos dez anos de idade, o sucesso dele chegou através de Fausto Silva, o Faustão, tanto criticado como apresentador, mas que tem o dom de pesquisar e garimpar esses talentos. Gostaria de escrever sobre Elizeu Ventania e tenho que correr contra o tempo, porque as pessoas que conviveram mais com ele estão partindo. Porém, fica a pergunta, para quem vou vender o livro de Elizeu Ventania?  Livro é caro, livro dá trabalho e, costumo dizer, livro pesa muito. Tente embarcar com uma caixa de livros para lançar em outra cidade e saberá. Lamento, profundamente, o momento que vem passando a Fundação Vingt-un Rosado, como lamento o acervo de Dorian e de Raibrito, homens que enquanto vidas tiveram, batalharam pela nossa cultura, nossa história, foram documentaristas e historiadores de um passado bem recente, hoje ignorado, não apenas pelo poder público, mas pelos que fazem a cidade. Quantos já leram suas obras? São riquíssimas. Não me canso de relê-los. O livro Memórias de Um Retirante, de Raimundo Nonato, obra publicada por Vingt-un, é melhor do que Os Sertões e Vidas Secas, juntos. Desenvolvi meu texto lendo Dorian Jorge Freire, algo que nenhuma faculdade ensina. Imagino como sua família abriu mão de um mínimo de conforto enquanto o pai colecionava livros caros.      
Maio de 2013

 


Messias e Joanita Lopes, pais de Oseas, Hermelinda e João Mossoró. 

CASCUDO PARA INICIANTES

Por Lúcia Rocha, jornalista


Embora reconhecido internacionalmente, Câmara Cascudo faleceu sem que a maioria de seus conterrâneos conhecessem sua obra. A juventude, principalmente, sequer sabe que seus livros são testemunhas de que esse grande folclorista viveu com intensidade pelos sertões. Senão não teria escrito com tantos detalhes tudo que se refere a folclore e o sertão.

Filho único de um dos homens mais ricos de sua época, Cascudo foi criado por duas amas, a quem se deve seu interesse pelo folclore, pois não cansava de ouvi-las cantando as cantigas de ninar. Adolescente ainda, estudou em um externato feminino, depois em um colégio religioso, para conviver com meninos. Mais adiante pegou dois professores particulares selecionados pelo grupo familiar entre os mais qualificados da comunidade. O pai, então, bancou um jornal para que Cascudo publicasse seus escritos.

Cascudo iniciou o curso superior na Escola de Medicina da Bahia. Em seguida transferiu-se para o Rio de Janeiro, dando continuidade ao curso, até o quarto ano. Isso, por volta de 1922, quando assistiu a Semana de Arte Moderna e iniciou um relacionamento de amizade com Mário de Andrade, que trouxe ao Rio Grande do Norte. Mas Cascudo desistiu do curso médico e ingressa na Faculdade de Direito do Recife, onde passou a conviver com intelectuais e artistas.

O pai de Cascudo era um homem tão rico que chegou a ter mais de mil afilhados. O pai, que dissera a Cascudo o que era o sertão e o levara ainda menino na serra de Martins, em busca de clima. O pai que fizera um cinema em Natal com sessões diárias que só iniciavam depois que sua esposa chegasse, morreu pobre e, para sobreviver, Cascudo teve que lecionar, tornando-se depois destacado folclorista e etnógrafo. Um nome tão conhecido entre seus conterrâneos, quanto no exterior.

O mais admirável em sua obra é a riqueza de detalhes com que escrevia, sobretudo com as coisas relacionadas ao sertão.

O leitor encontra em cada capítulo de Tradições Populares da Pecuária Nordestina uma descrição de tudo o que diz respeito ao bumba-meu-boi, vaqueiros, curandeiros, figuras lendárias, o aboio e  vocabulário sertanejo.

Cascudo consegue descrever nos mínimos detalhes a fazenda de gado: a casa de taipa, suas divisões físicas. “...Muitas e muitas casas tinham apenas duas portas, a de entrada e a dos fundos, pegada à cozinha”; a respeito dos cômodos:  “... o quarto grande era, em boa percentagem, despensa. Guardavam ali os queijos...”; sobre o cardápio: “... bebia-se pouquíssimo leite puro, cru ou cozido, leite era com alguma coisa, leite com jerimum, com batata – indigesto demais – com farinha...”; sobre rotina: “Os homens acordavam ao quebrar da barra para a labuta do curral...”; sobre costumes: “antes de dormir a meninada lavava os pés e ficava ouvindo a conversa dos grandes...”;  ou então: “almoço às nove, jantar às três ou quatro, ceia às seis...”; profecias:  “... bodes e carneiros, en rolados na denominação comum de capados, anunciavam chuvas quando investiam nos chiqueiros, brincavam com as cascas de feijão e sabugos de milho...”, leitura: “... jornais não apareciam nas fazendas comuns de meio termo. Livros, eram as novelas...”.

Cascudo compara o senhor do engenho do fazendeiro, pelo trabalho executado, expondo a diversidade do ambiente de formação de seus homens. Compara o trabalho humano, escravo até 1888 e o regime de tarefa contratual ou jornaleiro.

As disparidades entre a vida do senhor do engenho e a de seus homens: alimentação, indumentária e divertimentos.

Segundo Cascudo, a festa mais tradicional do ciclo de gado nordestino é a vaquejada. Opinião que não difere da de quem conhece e admira tal esporte. “Mas na vaquejada se fazia também muitos negócios: vendia-se e trocava-se”.

Continua sobre vaquejada: “A reunião de tantos homens, essência de divertimentos, distância vencida, tudo concorria para aproveitar-se o momento. Era a derrubada, prova legítima de habilidade e força, torneio sagrado de famas, motivo de cantadores que imortalizavam a façanha”. Assim, resume Cascudo, o que ainda hoje se cultiva como sendo em algumas regiões uma autêntica festa nordestina.

O bumba meu boi, boi catemba, bumba, boi de reis, boi bumbá, reis do boi - como é conhecido em algumas regiões - é por demais conhecido e amado no sertão agreste e litoral, nas fazendas e nos engenhos de açúcar. As figuras centrais são de dois vaqueiros negros: Birico e Mateus, Fidélis e Bastião ou Gregorio, posteriormente incluíam elementos femininos - homens vestidos de mulher - Catarina ou Rosa. As ‘damas’ são rapazes sob a roupa feminina.

Cascudo cita que o cavalo é o animal favorito. Além do mais, é companheiro aliado do homem e do vaqueiro. Andar a cavalo e tê-lo era título de elevação social e ninguém montava sem permissão do dono.

Eis o Cascudo reconhecido mundialmente e, ainda, desconhecido de jovens que não receberam, talvez, o estímulo e  acessos necessários à sua obra.

Luís da Câmara Cascudo nasceu em Natal, em 30 de dezembro de 1898 e faleceu também em Natal, em 30 de julho de 1986, foi historiador, folclorista, antropólogo, biógrafo, advogado e jornalista. Deixou mais de 150 obras.

Publicado no jornal O MOSSOROENSE , em 29 de novembro de 1987

CASCUDO NA INTIMIDADE

Quem era Luís da Câmara Cascudo na intimidade? Segundo sua filha Ana Maria, a mãe de Cascudo, dona Sinhazinha, contou-lhe que Cascudo foi uma criança que lia demais, era bastante namorador e que jamais viu uma pessoa tão amiga dos amigos como ele. Quando estudava medicina em Salvador, transferiu-se para o Rio de Janeiro, mas só estudou até o quarto ano, não prosseguindo o curso, porque o pai faliu. Cascudo teve que migrar para Recife, onde fez o curso de Direito e lecionava ao mesmo tempo. Ele gostaria de ter concluído o curso de medicina, pois não gostou de ter feito Direito, lembra Ana Maria. Certa vez, Cascudo a viu atuando como promotora e disse que aquilo era muito difí cil, não sabia como a filha conseguia atuar. Ana Maria é advogada e jornalista, à época do elogio, fora a promotora mais jovem do Brasil.

Cascudo só teve dois filhos porque tinha medo do mundo, das guerras. Achava que todo homem devia ter uma filha porque era amor à primeira vista e um dia esta seria filha e mãe do próprio pai.

Ele adorava champanhe e em todas as refeições tomava vinho. Apreciava as comidas regionais, bem como as internacionais, principalmente, enlatados: biscoitos ingleses, salsichas, presunto, queijo do reino, bolo inglês e chocolates americanos. A música lhe  marcou muito porque recebia tanto a regional como a clássica ao mesmo tempo. Cantores famosos cantaram para ele. Gostava de dançar tudo, de twisty a baião. Tocava piano e uma das maiores emoções que teve na vida foi, certa vez, estar tocando em casa, quando marinheiros americanos passavam na hora e fizeram coro, acompanhando-o. Cascudo os fez entra e foi ‘aquela farra’.

Cascudo conheceu a futura esposa, Dália, através de uma de suas irmãs mais velhas, de quem era amigo. Cascudo tinha então, dezesseis anos de idade e Dália, apenas cinco. Ele chegou até a presenteá-la com uma boneca. Como era uma pessoa super tímida, Dália sempre procurou se atualizar, saber tudo para não fazer feio frente ao Príncipe do Tirol, como Cascudo à época era conhecido, visto ser um dos rapazes mais ricos de Natal e por morar no bairro do Tirol. Cascudo passou a andar com uma lapela com a inscrição Dália, mas dizia que namorava a irmã dela, para conquistá-la.

Cascudo e Dália casaram-se em 1929, tendo ele trinta anos e ela, dezesseis. Como era machista, não deixou a esposa prosseguir os estudos escolares. Para isso, contratou professores particulares que lhes davam aulas de português, francês e latim.

Como viajava bastante, quando Cascudo voltava ficava até altas horas conversando com Dália, contando as novidades. Mas ela não acreditava em nada do que ele dizia. Jurava que nunca havia traído-a. Nem mesmo em Maria Boa, onde andava sempre.

Além de galanteador, gostava de falar sobre etiqueta e ele próprio fugia à regra. Era sempre metido na roda das moças e dos netos. Camila lembra que na festa de Bodas de Ouro a fez trocar o vestido porque achou feio.

Certa vez, Cascudo viajara e Dália mandou passar um pano na biblioteca. Quando retornou, ficou com raiva e a ameaçou de separação. Passou um mês sem lhe dirigir a palavra.

Ana Maria recorda que a primeira imagem que tem do pai é sentada no seu colo, ouvindo estórias de trancoso. Acompanhava-o aos foguedos populares com Djalma Maranhão. Em Areia Preta, ouvia estórias de pescadores que conversavam com o pai, sentado numa rede, com todos ao redor ou tomando banho de piscina na casa do ex-governador Sílvio Pedrosa, em Pirangi, falando em inglês e francês. São boas recordações que traz consigo, como também ir ao cinema, assistir filmes juntos, ir ao teatro, onde ele lhe explicava música clássica, ópera e outros gêneros.

Para Ana Maria, era prazeroso ser filha de Cascudo, como também foi péssimo. Sempre lhe cobravam inteligência. Aos sete anos de idade, discutiu com uma professora do Colégio Imaculada Conceição porque fez um trabalho e a mesma mandou os parabéns ao pai, pelo mesmo. Na verdade, Cascudo se encontrava em Portugal e a discussão foi grande. O pai a incentivava muito nos estudos. Dizia que estudar era um bem para si próprio, nunca para os outros e que todo indivíduo deveria estudar.

Quando Ana Maria voltava da faculdade e tinha algo para contar ao pai, caso ele estivesse na biblioteca, tinha que esperar que de lá saísse. Pois Dália não deixava ninguém interrompê-lo.

Cascudo foi professor da filha, na Faculdade de Direito, mas não a ajudava em nada. Quando fazia algum trabalho para sua disciplina, ele ficava curioso e perguntava onde encontrara aquilo.

Ficava chateado quando a filha não levava os namoros muito a sério. Queria que namorasse os rapazes da terra, de família conhecida e jamais com militar para não levá-la para longe. Mesmo assim, Ana se casou com um militar paulista, enviuvando pouco depois.

O problema de surdez teve início quando retornou da África, em 1963. Reclamava do ouvido, mas achava que foi do sol africano. Naquele ano, nasceu a primeira neta, Daliana, filha de Ana Maria. Daliana é psicóloga e já foi coordenadora do Memorial Câmara Cascudo, em Natal. Conta Daliana que, além da inteligência, o que mais lhe marcou do avô foi sua humildade. Cascudo recebia a todos da mesma maneira, desde um chefe de estado a um pescador do Canto do Mangue. Conhecia os ancestrais de todo mundo. Daliana tinha o avô como um pai, pois morou com ele até se casar. A família sempre morou junta: filha, genro e netos. Fernando, o outro filho de Cascudo, saiu de casa cedo para estudar em Recife. Fernando foi um dos diretores da extinta Rede Manchete de Televisão, no Rio de Janeiro, onde mora.

Daliana tomou um grande susto quando soube da fama de homem culto e intelecto do avô. Sendo este bastante humilde, nunca pensou que fosse tão famoso e, a partir dali, passou a admirá-lo mais ainda, do ponto de vista intelectual.

Do relacionamento amoroso e afetivo que mantinham, o avô passou a ajudar Daliana nas tarefas escolares. Lia os livros dele, bem como os indicava aos amigos. Certa vez, Cascudo viu Daliana lendo Agatha Christie e quis saber do que se tratava. No outro dia já tinha devorado a coleção inteira da autora. Daliana era a neta mais querida e se relacionava bem demais com o avô. A diferença de idade nunca foi problema para a diversidade de assuntos que comentavam. Nunca deixou os filhos frequentarem sua biblioteca para não deixá-la em desordem, o mesmo não acontecendo com os netos. Cascudo não teve controle sobre estes. Como era extravagante em relação a comida, tinha sempre a vigilância constante de Dália. Devido sua alta taxa de glicose, não podia exagerar no açúcar, porém comia chocolate com os netos. Escondido.

Daliana não chegou a conhecer os pais de Cascudo. Quando nasceu, o bisavô já havia falecido. Sempre soube que a bisavó, dona Sinhazinha, conheceu-a ainda bebê. Daliana admira o bisavô, Coronel Cascudo, porque ele deu todas as condições para que o filho fizesse o que quisesse. Cascudo teve tudo que quis. Como sempre queria ter livros estrangeiros, o pai comprou uma máquina para microfilmar os livros que quisesse. Antes mesmo que  chegassem ao Brasil.

Dália escrevia bem. Era quem tratava da correspondência do marido nos últimos anos. Cuidava bastante de Cascudo e tinha precaução em dar-lhe más notícias, especialmente, as fúnebres. Para isso o preparava antes. Dália morou no mesmo casarão da Rua Junqueira Aires, com uma irmã de criação de Cascudo, além de uma empregada de muito tempo.

VISITAS ILUSTRES - Cascudo recebia em sua residência a visita de pessoas de todas as classes sociais, inclusive, algumas importantes e famosas. Ele e família conheceram artistas, chefes de estado, escritores, personalidades e celebridades de todas as áreas, porque essas visitas eram constantes e programadas por órgãos do governo. Destas visitas, a neta Daliana ri quando recorda que Roberta Close foi visitá-lo e não o avisaram que a mesma era um travesti. Cascudo a beijou bastante e quando a mesma foi embora, ele fez os maiores elogios, disse que nunca viu mulher tão bonita como aquela. Quando o alertaram que se tratava de um homem, Cascudo não acreditou. Ele disse que todos estavam enganados.

Em outra ocasião, Diógenes da Cunha Lima o visitava e quis saber da empregada de Cascudo, se ela achava o patrão um homem preparado. Ele disse que não. Porque vivia estudando. Que ainda estava se preparando.

Daliana admirava o avô de diversas formas: primeiro porque foi à luta quando o pai perdeu tudo. Como gostava de lecionar, era uma honra ser chamado de professor. O que gostaria de ter do avô é a humildade e a capacidade intelectual que atingia todo mundo e  era entendido por todos. Apesar de ter um gênio forte, não chegava a ser empecilho para ninguém. Para ela, sua grande virtude foi a diversidade de sua obra.

Cascudo sempre tinha histórias e estórias para contar e nunca cansava ninguém, pois era um excelente orador. Passou muitas histórias e estórias para os filhos e estes para os netos.

Beijava homens e mulheres sem distinção. Quando achava uma pessoa bonita, dizia logo, não poupava elogios, independente do sexo. Gostava também de mulheres vaidosas.

Foi através do neto Newton, que Cascudo começou a gostar de futebol  tornando-se torcedor do Vasco da Gama. O avô lhe contava muitas histórias sobre sua infância e todo dia, pela manhã e à noite o abençoava gesticulando com a mão em forma de cruz.

Newton foi incumbido pelo avô desde cedo a comprar charuto e chocolate, escondido da avó e mexia em tudo. Como fazia talha em madeira, o avô expunha na biblioteca com o maior prazer.

À exemplo de sua mãe, Ana Maria, sempre cobravam de Newton estudos no colégio pelo fato de ser neto de Cascudo. Queriam que fosse o melhor aluno. Procurava, então, estudar muito para saber de tudo. Uma vez, estava numa festa quando alguém perguntou: “Neto de Cascudo bebe?” Newton respondeu que Cascudo também bebia.

Newton achava o avô tão humilde e simples, que quando recebia uma condecoração ou prêmio, perguntava se merecia aquilo. Newton também levava os amigos para conversar com o avô e, quando estavam acompanhados das namoradas, Cascudo as chamavam de ‘vítimas’. Às vezes o levava na Rampa e lá, Cascudo tomava um conhaque, fumava um charuto e depois de um passeio na praia voltavam para casa.

Quando recebia a visita de um Presidente da República dizia ao neto:

- Você viu? Um presidente veio visitar o avô!

Cascudo recebeu em sua casa a visita de quatro presidentes: Getúlio Vargas, Juscelino Kubstschek, Costa e Silva e João Figueiredo.

Quando da visita de Figueiredo, Cascudo quis saber dele, quem teve a idéia da visita, tendo o mesmo respondido:

- Às vezes, um presidente tem boas idéias.

Cascudo deu ao presidente o livro Rede de Dormir e o recomendou para ler nas horas de insônia, tendo o mesmo respondido:

- Só me dá insônia mulher feia e cavalo manco.

Câmara Cascudo também enveredou pela política. Contou ao neto que o colocaram numa chapa para deputado estadual a  contragosto. Não deu um passo durante a eleição e, eleito, aceitara porque achava que ia fazer algo pela cultura. Três dias depois tinha o mandato cassado.

Uma vez Newton ouviu do avô: “Ainda bem que fiquei pobre para ser professor, porque talvez papai não gostasse”. Espirituoso, alegre e teimoso, Cascudo detestava cortar unhas, cabelos e tomar remédio.

A última obra seria Prelúdio da Noite, onde falaria sobre a morte, não o fazendo porque não sabia ditar, somente batia à máquina, porém não tinha mais condições.

Newton está concluindo um livro sobre o avô famoso, onde não cita uma obra sequer dele. Chamar-se-á Luis da Câmara Cascudo, Meu Inesquecível Avô, que será prefaciado por Enélio Petrovich e terá ‘orelhas’ de Diógenes da Cunha Lima. Quando o mostrou ao avô há dois anos, este ficou muito emocionado.

Camilla Cascudo Barreto nasceu na mesma data do avô, setenta e dois anos depois. Tem boas recordações dele, principalmente pelas preferências culinárias. Cascudo adorava ‘raivas’, ‘suspiros’, beterrabas com açúcar, iogurte, Toddynho e desenhos animados, especialmente A Pantera Cor de Rosa, que assistia comendo Leite Moça. Camilla acha que nos últimos tempos, ele só não ouvia a voz humana, mas quanto a música devia ouvir alguma coisa. Talvez gostasse tanto da pantera, porque não há vozes nesse desenho, só a música. Ela fez um livro escondida do avô, No Reino das Joaninhas, e publicou aos nove anos de idade. Ele não gostou de não ter-lhe contado nada, mas ficou emocionado demais e orgulhoso da neta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

DE LOYOLA SOBRE DORIAN JORGE FREIRE

 


Por Ignácio de Loyola Brandão 
Jornal O Estado de São Paulo, em 16 de setembro de 2005. 


        Nos tempos do jornal Última Hora éramos jovens, 20 e poucos anos, presunçosos, sonhadores, despreocupados, atrevidos e felizes. Achávamos que pertencíamos a uma casta que mudava a cara da mídia. Era um prazer sentar-se no banco da frente dos jipes azuis e circular; ser jornalista conferia status, provocava inveja. Mas dávamos duro. Trabalhar com Samuel Wainer, um mito, era um prazer, com um preço. Ganhávamos pouco. A UH pagava mal, estava em crise provocada pela polêmica Carlos Lacerda x Samuel.

        Quando a edição era fechada, às 11 da noite, um grupo saía para jantar e fazer a via-sacra dos bares, boates, táxi-dancings, botecos, terminando na Praça da República, às 5 da manhã.
        Podia-se sentar ali tranqüilamente e até dormir nos bancos.
        Nossa turminha: Dorian Jorge Freire, redator principal do jornal, colunista de destaque que barbarizava com a sua 
Revista dos Jornais. Dorian foi um pioneiro, ombusdman da imprensa, quando essa palavra ainda não existia. Luis Thomazzi, setorista da Assembléia Legislativa de São Paulo, cheio de fontes e de informantes. David Auerbach, que assinava uma coluna política como Davi Barreto. Domingos Gioia (o pai dele tinha sido um pastor famoso na igreja Batista), repórter. José Roberto Penna, repórter, depois foi para a revista Quatro Rodas ese celebrizou pelos roteiros detalhados das estradas brasileiras, uma inovação na época. Afonso de Souza, repórter político, ficou conhecido depois que se plantou por uma semana na frente da casa de Carvalho Pinto até ele conceder uma entrevista que negava. Arley Pereira, do esporte, especialista em MPB e em teatro de revista.
       Eventualmente, agregavam-se o Moracy Du Val, repórter, crítico e ator de teatro; o José Eugênio Soares, hoje Jô Soares, que fazia a coluna de teatro e televisão e dirigia um Gordini; o mistério era como ele conseguia entrar no minicarro; o boêmio Otavio, dos mais cáusticos cartunistas da imprensa (uma vez, desenhou Nossa Senhora Aparecida com a cara do Pelé e a Cúria quase fechou o jornal), Gilberto di Pierro, colunista político, da noite e da sociedade, assim como Mário Glauco Patti, especialista em automóveis que chegou a diretor do Autódromo de Interlagos. Thomazzi, Penna, Afonsinho, Gioia e Otavio já morreram.
        Este é um curto trecho do making of do meu primeiro livro Depois do Sol, publicado em 1965, e que terá agora segunda edição. Quarenta anos depois! O trecho estava pronto, em prova, quando recebi a notícia vinda de Mossoró.          Dorian Jorge Freire morreu no fim de agosto.
        Entre os seus pedidos, feitos em 
longa agonia, estava um para Maria Cândida, mulher dele.
        Que fosse ela a me ligar e transmitir a notícia! Havia naquele pedido do Dorian uma ironia, uma brincadeira, a última comigo. Porque desde que ele se foi de São Paulo era eu quem ligava para transmitir notícias sobre a turma. Quem fazia o que, quem casava, ou descasava, tinha filhos e assim por diante.
        Claro que sempre fui eu a dar a 
notícia da morte de cada um dos amigos. Conversava com ele por meio da mulher, já não dava para entender sua fala.
Um dia, ele brincou: 'Tem vezes que você me liga, só para dizer quem morreu! Parece o arauto da morte.' Maria Cândida, semanas atrás, não me encontrou, eu estava no interior do Rio Grande do Sul e não tenho celular. O filho me encontrou, dias depois para comunicar: Dorian se foi.'           Naqueles anos de jornal, todas as noites, Dorian saía de sua mesa com os jornais debaixo do braço, passava por mim, me via escrevendo. Eu usava a máquina do jornal, não tinha dinheiro para comprar uma. Ele sabia que eu sonhava escrever romances, contos e batia nas minhas costas: 'Pensa que vai ser Machado de Assis? Graciliano Ramos?' Ria e saíamos juntos.
Eu ficava irritadíssimo e pensa
va: 'Ele vai ver!' Trinta anos mais tarde, ele me recebeu em Natal, Rio Grande do Norte.
Sua primeira frase: 'Não chegou a Graciliano, nem a Machado, mas caminhou direito ao seu modo. Eu queria te provocar, te deixar com raiva, para que você aceitasse o desafio.
         Fez carreira para me desmentir?' Rimos, nos abraçamos.
         Ele já tinha sofrido seu primeiro AVC. De toda a equipe do jornal, Dorian era quem mais lia.
         Um erudito sem pernosticismo, um bem informado, lúcido.
        Sua coluna 
Revista dos Jornais
era a revisão diária do que acontecia na imprensa; ele se antecipou décadas ao inventar o ombudsman. Não tinha contemplação nem com o Estadão, todopoderoso, nosso rival, a quem ele mais combatia, não aceitava a linha do jornal.
        Dorian era íntegro. Católico, 
admirava Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, com quem manteve correspondência. Lia Charles Maurras, François Mauriac e Paul Claudel. Tinha fé, mas não era carola. Um dia, decepcionado com a política, com a traição de colegas de um jornal que ele ajudou a fundar e teve curta duração - o jornal foi massacrado pela ditadura - vendo as portas fechadas e a cidade cada vez mais violenta, inviável, a qualidade de vida se esvaindo, Dorian teve um gesto de coragem. Voltou à cidade natal, Mossoró. Teve problemas imensos de saúde e nos últimos anos viveu à sombra de sucessivos AVCs. Com um dedo só, penosamente, manteve uma coluna muito lida no jornal local.
Não destilava amargura, era 
contemplativo. Publicou dois livros, Dias de Domingo Veredas do Meu Caminho. Foi eleito para a Academia Riograndense do Norte de Letras, ali recebido com pompa e júbilo. Leu todos os meus livros e dos 27 que escrevi e gostou apenas de meia dúzia. Era rígido, ríspido, autêntico, a amizade não afetava o julgamento crítico. Melhor assim, sabia dizer a verdade, essa coisa tão difícil, quase impossível no Brasil de hoje. Nenhuma hipocrisia. Muita lealdade. Tinha orgulho de meus livros, como se fossem dele. Devo a Dorian a indicação de leituras fundamentais e o exemplo de resignação e força. Em nenhum momento ele se entregou, se queixou. Nenhuma lamúria em suas cartas e artigos redigidos com enorme esforço. Nenhuma autopiedade. Dorian se foi, o grupo de UH
se reduziu. E de repente constato que não tenho nenhuma fotografia ao lado de um amigo tão chegado. Fico com as memórias, enquanto eu tiver lembranças. A Praça da Redenção onde ele morava se chama hoje Praça Dorian Jorge Freire. A solidão se inicia quando os amigos verdadeiros se vão. ?

CAFÉ & POESIA NO PÁTIO DA UERN


 

terça-feira, 6 de setembro de 2022

MONOTONIA




Por Francisco Obery Rodrigues 


       Em nossa vida os momentos felizes são aqueles em que tudo está bem: saúde, economia, harmonia familiar.
       Nada a lamentar ou a reclamar.
       Há outros, entretanto, quando não estamos plenamente felizes, há qualquer coisa a toldar a nossa ventura/aventura de viver.
       No meu livro “Crônicas Anacrônicas”, na crônica “Tarde Gris”, falo sobre isso. 
       Agora, neste dia, neste momento, há dentro de mim uma
 
inexplicável melancolia.


 

                       MONOTONIA

 

 

Há um vazio dentro de mim

difícil de exprimir. 

Vou tentar fazê-lo. 

Trata-se da melancolia pesada,

Que ocorre neste fim de tarde,

da tarde de uma sexta-feira vazia, monocórdica até.

Um desalento, quase uma amargura. Indefiníveis. 

Qual a razão desta sensaboria

da monotonia deste quase anoitecer?  

Na verdade, não sei bem o que acontece comigo

nesta tarde gris.

Não encontro motivos

que justifiquem este acabrunhamento.

Há sim, um vazio dentro de mim,

um desalento, assim como um desconforto.

Procuro o que fazer

Conversar com alguém,

Que saiba ouvir e falar.

Não há aqui, agora, esse alguém

Capaz de me tirar deste torpor. 

Ler, ouvir música, escrever?

Escrever o quê?

Nada me atrai,

Nada me tira desta insipidez.

Decidi: vou tentar escrever uma poesia

Na poesia mora o encantamento,

mora o belo.

Todavia, o tédio continua

Mas, e o um tema para uma poesia,

de uma bela poesia não me ocorre.

Escrever uma poesia sobre o quê? 

Ah! Uma poesia sobre a Paz

A Paz de Espírito, sobretudo.

A Paz de Espírito... Talvez resolvesse. 

Tentando afastar este desconsolo,

Quebrar esta monotonia.

Pensei:

Vou buscar o Silêncio

Abrigo para o coração

     Nele, Deus se manifesta.

     Mas, como encontrar o Silêncio?

     Uma voz me diz:

     A poesia embala a alma

     Conforta o coração

     Traz Silêncio, é paz.

.

O SILÊNCIO é tão sagrado, imprescindível como a Felicidade e a Paz, conforta o espírito.

É propício à oração.

A oração eleva a Deus.

Quando Deus a acolhe

É o fim da MONOTONIA,

O espírito em PAZ.

 

    Natal, 10.04.2020/ver. em 10.05.2020 - F.O.Rodrigues.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ATITUDE

 


Vanda Jacinto

 

Por Vanda Maria Jacinto

Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa.

v.m.j@hotmail.com

 

Depois de um 'longo e tenebroso inverno', distante dos bancos escolares, aos vinte e nove anos, resolvi voltar aos estudos.

Fiz o Curso Supletivo de 1º Grau, em Natal – cidade onde residia – estudando em casa e sozinha. Paguei as disciplinas em duas vezes. Aproveitava as horas vagas da tarde para estudar, haja vista pela manhã estar ocupada com os afazeres domésticos e filhos.

Minha alegria foi por curto espaço de tempo, pois, novamente, hibernei nos estudos. Em 1982, engravidei da caçula. Nova trégua nas letras e a transferência do meu esposo para Mossoró no ano seguinte.

Quando aqui cheguei, os novos ares de Mossoró – diga-se de passagem quentes – e a força e estímulo dos meus sogros, verdadeiros pais, fizeram-me voltar aos estudos. Assim, providenciei a matrícula no Curso Normal, na Escola Estadual Jerônimo Rosado. Iniciava ali a realização de mais um sonho: ser professora.

Num primeiro momento, tudo me extasiava. O fato de ter conseguido a vaga – algo difícil à época – a estrutura da escola em si, grande e moderna, embora antiga, a exigência do fardamento… Eu ia usar uniforme novamente.

A verdade é que não me continha de felicidade. Não via a hora de iniciar as aulas, que demorariam, pois estávamos no final do ano.

Um dos meus presentes de fim de ano foi o uniforme. Mandei fazer duas blusas brancas e uma saia azul marinho, pregueada. Comprei dois pares de meia soquete branca e um par de sapatos mocassim preto, sem contar com o material escolar – caderno universitário, lápis, canetas, borracha, régua – enfim, o necessário para começar.

Contei as semanas, os dias e os minutos até chegar o dia D. Meu coração batia acelerado a cada passo dado na segunda rampa do prédio. Sim, a segunda rampa, pois as salas foram organizadas pela faixa etária das alunas, e a sala a mim destinada seria a penúltima, a de letra H.

Até certo ponto achei bom, pois quase não havia desnível de idade, mas, é claro, eu era uma das mais velhas.

Foi emocionante entrar numa sala de aula depois de tanto tempo. Ocupei a segunda cadeira da penúltima fila, próxima aos janelões da sala.

Uma das professoras daquele dia nos organizou, exigindo que assim ficássemos em suas aulas. Curiosamente, permaneci no lugar que ocupara desde o início. Achei ótimo. E optei por ele. Só me levantava na hora do intervalo, quando ia ao banheiro ou beber água.

Muita coisa era diferente do meu tempo de criança: achava o cúmulo as alunas ficarem transitando na sala em plena aula, ao invés de prestarem atenção às explicações.

Certo dia, fiquei na sala no intervalo. Daí, uma garota veio me perguntar se eu era normal ou doente. Virei assunto da turma, sem querer… Achavam estranho que eu só ficasse sentada o tempo todo. Não adiantaria me explicar.

Um dos meus propósitos quando voltei a estudar era o de não perder tempo, ou seja, tinha que aprender e recuperar tudo o que havia deixado de lado lá atrás. E assim eu seguia.

Alguns professores eram exigentes demais. Tentava dar conta de tudo, casa, filhos e estudos.

Certo dia, ao receber um trabalho com a nota oitenta e dois, fui procurar a professora para que me justificasse, anotando os erros, já que não havia nenhuma anotação. Indignada, ela o arrebatou de minhas mãos e não me disse nada. No dia seguinte me entregou com a nota noventa, rasurando a anterior. Quando abri o trabalho, nenhuma anotação. Voltei ao bureau e lhe disse que não queria a alteração da nota e, sim, a correção do conteúdo. Mais enfezada ainda, ela guardou o trabalho na pasta e me mandou sentar.

Ao término de sua aula, algumas alunas vieram até minha carteira e me chamaram de louca, por contrariar aquela professora. E perguntaram: você sabe quem é ela? Eu, inocente, disse: Não. Ela é Socorro de Tal. É a pior professora aqui do colégio. Ela vai te marcar, responderam, ainda atônitas com a minha atitude. Nos dias que se seguiram, notei que a professora me ignorava nas aulas. Contudo, ainda aguardava com calma o seu parecer.

Não entendia o que queriam dizer com 'marcar'. O que sei é que estudei feito louca.

Chegara o dia da prova e nada de ela devolver o trabalho. Os dias se passaram e, no final do bimestre, os esperados resultados chegaram. Fui fechando nas notas em todas as disciplinas. Na aula dela, meu coração acelerou; as meninas me olhavam a cada nome chamado. O meu sempre foi um dos últimos – Vanda.

Só tinha um depois do meu. Ela deixou o meu por último. Antes de me nomear, começou dizendo que não havia entendido os questionamentos daquela aluna, mas que o resultado da prova tinha respondido as suas dúvidas. Entregou o trabalho e a prova, parabenizando-mr. Chorei de emoção, não pelas notas, mas pela atitude dela.

E, embora ela continuasse como o 'bicho-papão' do colégio, sempre respeitei seus posicionamentos. Quando no último ano do curso, submeti-me ao Concurso Público do Estado, para professora, e passei em segundo lugar, encontrei-me com ela no centro da cidade. Ao cumprimentá-la, ela me abraçou e disse: procurei o seu nome na lista dos aprovados por procurar, mas sempre tive a certeza que lá estaria. Parabéns.

Nesse momento, percebi que o meu caminho tinha sido bem trilhado até ali. Buscar saber onde errava para não incidir no erro, dedicando-me ao máximo aos estudos, em cada tempo livre, seguindo orientações e exigências dos professores, foram atitudes que me levaram ao sucesso. Fizeram-me realizar o sonho de ser professora. Este tipo de atitude procurei estimular em meus filhos e lanço mão até hoje em tudo o que faço – dar sempre o meu melhor.