Vanda Jacinto com o irmão, que saudosista, homenageia-o
Vanda Maria Jacinto
Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa
v.m.j@hotmail.com
Há dias assim, em que os
silêncios se fazem necessários, para que a nossa alma possa gritar suas
alegrias ou dores e depois voltar lentamente à calmaria.
Nesses últimos dias, os
meus silêncios têm sido mais frequentes. Entre um afazer e outro, tenho me
entregado às lembranças – mais do que deveria, talvez.
Difícil não recordar
momentos tão caros do meu viver enquanto família. Quem sabe pelo fato de estar
tão longe deles – meus familiares. Angustio-me a cada situação, sejam elas
alegres ou tristes, sempre me vejo desejosa e em devaneios… se eu pudesse estar aí com vocês… se não fosse tão longe… quem sabe um dia, se for possível nos
reunamos, pelo menos no Natal… se…
A história é sempre a mesma.
Dessa vez, lamentei mais.
Não bastassem as incontáveis perdas de amigos ou conhecidos, resultantes da
pandemia – o que, por si, já nos deixam fragilizados –, meu irmão mais velho,
passou pela transição há poucos dias.
Lógico que, mais uma vez,
não pude estar lá, prestando-lhe minhas homenagens. Fiquei aqui, perdida em
meus silêncios, que me transportaram para a minha infância… Incrível, embora
permeada de lutas, é desse tempo que sinto mais saudades!
Foi lá que me fortaleci,
meu irmão, e relembrei o quão grandiosa foi sua alma, sobrepondo-se às suas danações e peripécias
de criança e adolescente, e por que não dizer, também da vida adulta.
Um pouco mais tranquila
e, num interlóquio, questiono-me.
Seriam mesmo as
distâncias geográficas as principais causadoras das saudades que nos levam aos
silêncios interiores?
Nesse momento, sim. Mas
acredito também que estejam ligados à nossa necessidade de nos mantermos
calados diante de determinados estímulos do nosso dia a dia, não importando a
sua especificidade.
O que sei é que, desde há
muito, eles – os silêncios – têm sido uma constante em meus dias. Reconheço
firmemente que, a mim, eles fazem um grande bem e me permitem seguir adiante
com mais leveza. O silêncio é aparente, pois minha mente cruza distâncias, toca
rostos, traz uma fragrância, leva um abraço.
Ir além desses silêncios
que, aos poucos, vão revelando o meu “eu reagente”, diante dos acontecimentos,
só mesmo a escrita me permite extravasar tantos sentimentos.
Uma coisa é certa: na
grande escola da vida, estar em comunhão consigo é um dos privilégios humanos!
Em algum lugar, alguém já
escreveu:
“Aprender no silêncio
– da mãe, que se comunica com o filho,
Aprender no silêncio – do sábio, que contempla o novo dia,
Aprender no silêncio – de uma flor, que se abre à luz,
Aprender no silêncio – da madrugada, que descansa e se
refaz,
Aprender no silêncio – do sol, que se põe e nasce
diariamente,
Aprender no silêncio – da chuva, que purifica e fertiliza
profundamente…”
Ainda acrescentaria…
Aprender no silêncio - da alma, quando o 'eu' interior se
revela.
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