terça-feira, 8 de setembro de 2020

CENTENÁRIO DE VINGT-UN PARTE 1

 

Vingt-un, em 1937 


Por Lúcia Rocha
luciaro@uol.com.br

        Jerônimo Vingt-un Rosado Maia era o filho 

caçula do farmacêutico, Jerônimo Rosado e Isaura 

Rosado Maia. Nasceu em 25 de setembro de 1920, portanto, estamos comemorando o centenário de seu nascimento.
      Vingt-un ficou órfão do pai ainda criança, aos dez anos de idade e foi criado pela mãe e irmãos, que já atuavam nas empresas do pai, uma farmácia e uma empresa de extração de gesso.      
      Vingt-un Rosado estudou no Colégio Diocesano Santa Luzia e desde cedo, mostrava ser um garoto inteligente, que gostava de leitura, inclusive, aos catorze anos conheceu alguém que o influenciaria para sempre, o historiador, Luís da Câmara Cascudo, que veio palestrar para os estudantes do Diocesano e encantou em especial, nosso Vingt-un, que naquela palestra foi picado pelo mosquito da cultura.
     Quando tinha dezessete anos de idade, em 1937, Vingt-un recebeu correspondência de Câmara Cascudo, com uma missão, a de escrever o primeiro livro sobre a história de Mossoró. Disse Cascudo na carta: “Lembre-se que Mossoró ainda não tem história e que você está na obrigação moral de ser o primeiro mossoroense que levantará do olvido as tradições de sua grande terra”, ou seja, que levantará do esquecimento.
     E assim, Vingt-un passou a pesquisar edições antigas dos jornais de Mossoró e lançou em 1940, aos vinte anos de idade, o livro com o título Mossoró, custeado por sua mãe.
    Veja a responsabilidade que Câmara Cascudo colocou na mente de um garoto, adolescente, com dezessete anos de idade, ser o primeiro historiador da sua cidade. Era apenas um jovem. E o que um garoto faz com dezessete anos de idade? Pois foi assim que nasceu o primeiro livro sobre Mossoró.
      E o mais interessante de tudo, tempos depois, já adulto, com uma carreira consolidada, Vingt-un cria a coleção mossoroense e sai à caça de novos escritores, ele mesmo desempenhando o papel de editor, sugerindo temas de livros para pessoas que acreditava que podiam escrever livros e até viver da profissão de escritor. Vingt-un foi um grande motivador de uma geração de talentos e lançou essas pessoas no mercado de livros.
     Interessante é que Vingt-un era ávido para lançar livros, mas nunca reeditou seu livro Mossoró. Deu oportunidade a Deus e o mundo, lançou escritores não somente de Mossoró, mas de estados vizinhos como Ceará e Paraíba. Mas, somente após sua passagem desta para outra vida, a Coleção Mossoroense publicou uma segunda edição do livro Mossoró, lançado por Vingt-un Rosado, aos vinte anos de idade, em 1940. 
    Ainda na adolescência, Vingt-un afastou-se de Mossoró, tendo passado uma temporada de estudos preparatórios para o vestibular em Recife, capital pernambucana, não tendo conseguido aprovação em três vestibulares, de onde partiu para o vestibular de engenharia agrônoma, na Escola Superior de Lavras, em Minas Gerais, onde foi aprovado. 
    Em Minas Gerais, Vingt-un conhece aquela que viria a ser esposa, companheira, parceira e mãe dos seus cinco filhos: Maria Lúcia, Dix-sept Sobrinho, Lúcia Helena, a Telena; Isaura Ester e Leila. Dois deles são médicos e conhecidos na cidade, como doutor Dix-sept e doutora Leila.
     Mesmo vindo de uma família política e que até hoje ocupa cargos relevantes na cidade e no estado, sua maior contribuição para a cultura e literatura potiguar, foi a criação da Coleção Mossoroense, que já publicou mais de quatro mil títulos, escritos por autores de Mossoró e região. A Coleção Mossoroense está ligada à Fundação Vingt-un Rosado.
    Vingt-un foi um intelectual a serviço de Mossoró que entrou para a história do Rio Grande do Norte e jamais será esquecido por seus feitos também na área acadêmica, pois a antiga ESAM – Escola Superior de Agronomia de Mossoró - hoje UFERSA, Universidade Federal Rural do Semi Árido – nasceu de um seu ideal, desde quando era estudante na ESAL, em Lavras. Com os irmãos mais velhos já ocupando cargos relevantes na vida pública, especialmente Dix-huit e Vingt, nosso Vingt-un pôde assistir a construção da ESAM, em 1967.
     Vingt-un não somente idealizou a ESAM, como acompanhou toda sua construção e ajudou a carregar material em carro de mão, tão grande era sua vontade de ver ser erguido a estrutura física daquela faculdade que, há cinco décadas tem servido de banco acadêmico para uma geração de estudantes órfãos de ensino superior de qualidade numa região castigada pela estiagem.
    Vingt-un exerceu a função de professor e diretor da ESAM, à época em que oferecia apenas dois cursos, agronomia e topografia, atraindo para a cidade, jovens de estados vizinhos.
    Depois de aposentado das funções de servidor público, Vingt-un passou a se dedicar exclusivamente à Coleção Mossoroense. Tinha sede de livros, passou a ser intitulado um soldado na batalha da cultura mossoroense. Mas isso, já fazia há muito tempo, a partir da eleição do irmão, Dix-sept Rosado, em 1947, para a prefeitura de Mossoró, estimulando o crescimento cultural com a criação de espaços mantenedores da cultura, como biblioteca e o museu, o que aconteceu logo que o irmão prefeito tomou posse em 1948.
     Desde jovem, Vingt-un era preocupado com a cultura da cidade, parecia que estava planejando desde já, a função de guardião da cultura mossoroenses, pois se esforçou e colaborou com a preservação histórica e literária da cidade, hoje, a gente observa esses dois equipamentos, o Museu Histórico Lauro da Escóssia e a Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte e, podemos dizer que são frutos do ideal de um jovem sonhador aos vinte e sete anos de idade. 
   Agora, pergunto ao ouvinte: qual a sua idade? O que você fez ou está fazendo para deixar como legado na sua cidade?
    Se não fez nada, ainda está em tempo. Colabore com os autores locais, adquira livros que contam a história da cidade e de seus personagens. Dessa forma, já estará colaborando para a preservação da nossa memória.  
    Vingt-un Rosado rebatizou a cidade com o título O País de Mossoró.     



  

    
  

 

 


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