sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

REFAZENDO CAMINHOS

 



Por Vanda Maria Jacinto*
E-mail: v.m.j@hotmail.com


       O dia amanhecera nublado, com previsão de chuva fina durante toda manhã. Em outros tempos, esse seria um bom motivo para mudarmos os planos, arquitetados na noite anterior.
         No entanto, com ou sem chuva, iríamos sim, até Pedreira - cidade próxima de onde estávamos - que, como o próprio nome sugeria, era um local de vasto comércio de pedras ornamentais, aliás, muito apreciado por você, mãe.
       Refazer, vez em quando, os passeios que fazíamos juntas era necessário para aplacar a saudade que aportava no peito, sempre que voltamos por aqui. E, mesmo conscientes de que o que vai na memória já teve o seu tempo, no tempo que foi, estamos sempre revolvendo o passado, resgatando cada palavra, cada sorriso ou cada gesto seu.
        Nosso querido irmão sempre nos proporciona esses bons momentos! E lá fomos.
        Mal pegamos a estrada, e a chuva reiniciara, talvez conspirando a favor dos nossos desejos, pois, numa velocidade menor, teríamos a chance de observar melhor a paisagem que resplandecia em vários tons de verde, contrastando com o céu acinzentado.
       Assim foi o percurso de ida. Naturalmente entre uma paisagem e outra, íamos linkando o agora aos momentos vividos com você. Às vezes, os olhos marejavam de saudade, pois ainda doía sua ausência em nossas vidas. 
       Lógico que, envolvidos pelas lembranças e no embalo de belas canções, chegamos ao destino, mais rápido do que imaginávamos.
       Paramos para o almoço que, diga-se de passagem, estava delicioso, porém a ansiedade em alcançar o destino era maior. “Barriga cheia, pé na areia”, como você sempre dizia… E, lá estávamos, novamente na estrada. Dessa vez, sem interrupção.
        Chegamos!
        Aparentemente tudo igual, até mesmo o olhar extasiado dos clientes diante da variedade de artesanato que se renova em cada ano.
        A chuva não dava trégua, caía copiosamente. No entanto, a cada instante, os visitantes iam aumentando, dificultando o livre acesso entre as lojas. 
        O colorido das pedras semipreciosas hipnotizava a todos, não apenas os que ali estavam pela primeira vez, mas a mim, principalmente, que, esquecendo os atropelos monetários vigentes, queria levar tudo o que via. Uma verdadeira loucura. O entra e sai das pessoas nas lojas era constante. 
         No vai e vem de guarda-chuvas e o burburinho característico das lojas, parecia ouvir os seus comentários admirados.
       Enquanto finalizava as compras, percebi, nos fundos da loja, um espaço aberto, com vista para um rio que descia caudaloso, devido às fortes chuvas na região, local onde outrora tiramos fotos juntas. Tinha que registrar aquele momento.
        Esquecida do tempo, distraí-me e só voltei do devaneio com a zoada de crianças brincando. Percebi que os meninos não estavam por perto e saí à procura deles, encontrando-os já na saída da loja.
        A chuvarada forte nos impedia de continuar o passeio.
        D
ecidimos voltar, até porque já havíamos gasto um bocado. 
        Novamente na estrada... Só mudamos o repertório musical, mas as conversas sempre voltadas para você, mãe querida, cuja lembrança será eterna. Muito mais de que as cintilantes pedrinhas, trazidas no porta-malas, nossos corações brilhavam também por sentir sua presença junto a nós – sempre.

*Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa


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