Por
Vanda Maria Jacinto*
E-mail: v.m.j@hotmail.com
O dia amanhecera nublado, com
previsão de chuva fina durante toda manhã. Em outros tempos, esse seria um bom
motivo para mudarmos os planos, arquitetados na noite anterior.
No entanto, com ou sem chuva, iríamos
sim, até Pedreira - cidade próxima de onde estávamos - que, como o próprio nome
sugeria, era um local de vasto comércio de pedras ornamentais, aliás, muito
apreciado por você, mãe.
Refazer, vez em quando, os passeios
que fazíamos juntas era necessário para aplacar a saudade que aportava no
peito, sempre que voltamos por aqui. E, mesmo conscientes de que o que vai na
memória já teve o seu tempo, no tempo que foi, estamos sempre revolvendo o
passado, resgatando cada palavra, cada sorriso ou cada gesto seu.
Nosso querido irmão sempre nos
proporciona esses bons momentos! E lá fomos.
Mal pegamos a estrada, e a chuva
reiniciara, talvez conspirando a favor dos nossos desejos, pois, numa
velocidade menor, teríamos a chance de observar melhor a paisagem que
resplandecia em vários tons de verde, contrastando com o céu acinzentado.
Assim foi o percurso de ida.
Naturalmente entre uma paisagem e outra, íamos linkando o agora aos momentos vividos
com você. Às vezes, os olhos marejavam de saudade, pois ainda doía sua
ausência em nossas vidas.
Lógico que, envolvidos pelas
lembranças e no embalo de belas canções, chegamos ao destino, mais rápido do
que imaginávamos.
Paramos para o almoço que, diga-se de
passagem, estava delicioso, porém a ansiedade em alcançar
o destino era maior. “Barriga cheia, pé na areia”, como
você sempre dizia… E, lá estávamos, novamente na estrada. Dessa vez, sem
interrupção.
Chegamos!
Aparentemente tudo igual, até mesmo o
olhar extasiado dos clientes diante da variedade de artesanato que se renova em cada ano.
A chuva não dava trégua, caía
copiosamente. No entanto, a cada instante, os visitantes iam aumentando,
dificultando o livre acesso entre as lojas.
O colorido das pedras semipreciosas
hipnotizava a todos, não apenas os que ali estavam pela primeira vez, mas a
mim, principalmente, que, esquecendo os atropelos monetários vigentes, queria
levar tudo o que via. Uma verdadeira loucura. O entra e sai das pessoas nas
lojas era constante.
No
vai e vem de guarda-chuvas e o burburinho característico das lojas, parecia
ouvir os seus comentários admirados.
Enquanto
finalizava as compras, percebi, nos fundos da loja, um espaço aberto, com vista
para um rio que descia caudaloso, devido às fortes chuvas na região, local onde
outrora tiramos fotos juntas. Tinha que registrar aquele momento.
Esquecida
do tempo, distraí-me e só voltei do devaneio com a zoada de crianças brincando.
Percebi que os meninos não estavam por perto e saí à procura deles,
encontrando-os já na saída da loja.
A
chuvarada forte nos impedia de continuar o passeio.
Decidimos
voltar, até porque já havíamos gasto um bocado.
Novamente
na estrada... Só mudamos o repertório musical, mas as conversas sempre voltadas
para você, mãe querida, cuja lembrança será eterna. Muito
mais de que as cintilantes pedrinhas, trazidas no porta-malas, nossos corações
brilhavam também por sentir sua presença junto a nós – sempre.
*Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa
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