segunda-feira, 5 de outubro de 2020

SOBRE ENVELHECER


         

Por Ana Medeiros*


     Assistindo o vídeo de uma senhora, que falava das dificuldades de envelhecer no nosso país, cheguei a uma conclusão. Sou uma cidadã brasileira  no auge dos meus cinquenta e sete anos e vejo com preocupação a proximidade  da terceira etapa da minha vida, a chamada terceira idade. 
     Voltando no tempo, lembrei de uma jovem oriental que conheci no bairro da Liberdade, em São Paulo, há alguns anos. Yoko era seu nome, a mesma me falava com satisfação de seus pais, avós e bisavós e de como é envelhecer na terra do sol nascente. 
     Tiro aqui minhas conclusões. 
     Começando pela data comemorativa. No Brasil, comemora-se o Dia dos Avós retratando a importância da presença deles na vida dos netos em termo de amor, proteção e ajuda aos pais na educação dos pequenos. 
      No Japão, é festejado de forma solene o dia do respeito ao idoso, comemorado na terceira segunda- feira do mês de setembro. Trata-se de um feriado  dedicado aos idosos, quando os japoneses oram  pela longevidade, glorificam e reverenciam os mais velhos.
     No nosso país, infelizmente, a partir de certa idade é considerado falta de educação perguntar a idade a uma mulher, podendo causa-lhe constrangimento, como se viver muito fosse sinônimo de vergonha.
     Na tradição oriental é o oposto. A resposta de uma senhora com mais de sessenta anos a quem lhe pergunta a idade é respondida com prazer, porque na terra do sol nascente, a velhice é sinônimo de sabedoria e respeito.
     Envelhecer é natural a toda espécie. Idosos naquele país são tratados com reverência e atenção pelas experiências acumuladas ao longo da vida.   
     Tal e qual o professor, o idoso no Japão é considerado uma pessoa sábia, um mestre.
     
     Precisamos seguir esse exemplo e mudar essa realidade de desprezo, intolerância e a maneira de tratar nossos idosos com se fossem coisas sem 
serventia.
     Não posso, no entanto, ocultar-me de falar que nos dias atuais, devido a situação econômica no país e em todo o mundo, algumas coisas mudaram por lá. Sabe-se que o número de idosos no Japão é o maior em todo mundo e, como sempre, os menos favorecidos  precisam trabalhar mais e muitas vezes. 
     Não podendo assim permanecer em casa, cuidando dos parentes mais velhos. Mesmo assim, o governo disponibiliza hospitais para essa classe menos privilegiada que fica aos cuidados de cuidadores e sem a presença constante da família ao qual eram habituados. Ocasionando entre esses idosos a morte solitária, porém, deve-se ressaltar que nunca é por falta de cuidados descaso ou desamor.
     Essa situação involuntária muitas vezes faz com que o idoso desista da vida. Não deixa de ser triste  para os parentes que têm uma tradição milenar que é a dedicação a essas pessoas até o fim de suas vidas.
     Quem tem uma boa situação financeira não paga a terceiros para cuidar dos seus, apenas como se fosse por alívio de um fardo. Esse é o grande diferencial.
     Vamos, contudo, alimentar a esperança e reeducar nossos jovens e crianças, para mudar essa realidade.
     Quero também ressaltar que amo meu país e que faço referência ao país citado - Japão - por concordar com suas tradições e culturas no que diz respeito ao tratamento aos idosos.
     Devemos lembrar também que o idoso representa experiência acumulada, sabedoria conquistada, doação espontânea de uma vida em prol da família e da sociedade e que jamais existirá futuro nem presente sem passado. 
    Gratidão aos nossos idosos e antepassados.


*Ana Medeiros é dona de casa, avó, boleira e escreve nas horas vagas.     

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