domingo, 21 de junho de 2020

DAS MINHAS LEMBRANÇAS

:
Francisco Barbosa


Francisco Barbosa, artista plástico, artesão, retratista, escultor, restaurador e poeta.


Eu, primeiro neto da casa de meus avós maternos: Maria Raimunda, lavandeira e funcionária pública do Centro Educacional Jerônimo Rosado; e Raimundo Preto, salineiro e agricultor. Pois bem, em minha infância a caminho do roçado, Estrada da Raiz, Avenida Rio Branco, seguimento do Bairro Santa Helena, As Cajaranas, Doutorzinho, Canto do Junco e por diante.
Pés descalços, eu e meus irmãos corríamos e deitávamos no delicioso chão. Ainda se via restos de carvão dos antigos trens que iam para Grossos.
Meu avô passava primeiro mostrando como vencer o passadiço feito um emaranhado de varas e depois nós seguíamos. Ele moreno, magro, cabelo liso, um legítimo caboclo. Calças compridas, camisa meio aberta de botões, um cassetete nas costas com suas bolsas de palha e um saco cheio de legumes como ele falava, calçava 'apregatas' - alpargatas feitas de pneus Sim, de pneus. Confeccionadas pelo meu outro avô paterno, João Carão.
Em 1996, inspirou-me esse poema:

No Roçado de Vovô

Quando íamos ao roçado
Na limpa da plantação
Juremas pra todo lado
Jitiranas pelo chão
Terreno já bem molhado
Machado e enxada na mão

Saíamos bem cedinho
Em busca estrada afora
Gorjeavam os passarinhos
No belo romper da aurora
Cantavam os sabiás nos ninhos
Lindas lembranças de outrora

Contente vovô andava
Fininha a neblina caía
Conforme o tempo passava
Estrada à frente eu corria
Imensamente gostava
Da manhã molhada e fria

Chegava à cerca e pulava
De mufumbo feita estacote
A bolsa e o bornó pendurava
Tinha um gancho no barrote
O rancho também somava
Um fogão no chão e um pote .

Dedico esse poema aos meus primos Mateus, Andreia, Raquel e André. Por terem nascido em Natal e não sentiram o cheiro do suor, seu olhar, sua voz, não comeram pamonha, milho, fubá, pão de milho. Aquele num prato enrolado em um pano e um tijolo em cima, também as melancias e não chuparam caju, que ele trazia para nós. Sintam-se terem vivido. Ofereço-os. 

                      Arte de Antônio Barbosa


1 comentário:

  1. Sou fão dos irmãos Barbosa, ainda bem que eles sabem disso. Nutrimos uma de bela amizade!, com tanta liberdade que me saceio em sua mesa de cozinha, admirando suas diversas obras prontas ou em fase de criação...

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