Foto de Manuelito Pereira
Por Francisco
Obery Rodrigues
Quero, inicialmente, esclarecer que a sabedoria a que me refiro nesta
crônica não é a da cultura adquirida em universidades, ou resultante da leitura
de livros de filósofos, historiadores ou grandes romancistas. Claro que essa
leitura ajuda, mas não é condição sine
qua non. A sabedoria de que trato é a da experiência de vida e a do bom
senso na convivência humana, no trato com os seus concidadãos. É a dos homens
que agem na vida com prudência, com temperança.
Embora o título desta crônica seja Os Homens de Sabedoria de Mossoró, desejo esclarecer que muitos nomes citados
não são mossoroenses, mas radicados na cidade.
Plutarco foi um filósofo
grego que viveu no primeiro século da nossa Era Cristã. Diz-se que seus sábios
ensinamentos, sobretudo sobre a Moral, serviram de guia para muitos cidadãos
que desejavam levar uma vida rigorosamente ética. Estes passaram a ser chamados Cidadãos de Plutarco.
Já a Bíblia apresenta os Capítulos
Provérbios e Ssbedoria, cuja autoria é atribuída ao Rei Salomão, filho de
Davíd, capítulos ricos de ensinamentos para meditação e para uma boa conduta,
tanto dos filhos em relação a seus pais, como destes em relação à sua família e
às pessoas com quem convivem na sua comunidade.
Em minha cidade, Mossoró, havia, no
passado, pessoas de reputação ilibada, homens com muita experiência de vida,
que eram exemplos de dignidade no comportamento profissional, moral e cívico.
Antigamente, quando uma pessoa tinha um problema sério, para cuja solução
necessitava de um aconselhamento, era ao Vigário, ou ao Juiz, ou a um desses
cidadãos a quem recorria em busca de uma orientação. O Professor Raimundo Nonato da
Silva em um dos seus quase quarenta livros, fala sobre o assunto. No meu
entender, cidadãos de sabedoria eram aqueles que sempre estavam, fosse no seu
local de trabalho ou no seu próprio lar, a serviço do próximo.
Quando eu falo em cidadãos “daquele
tempo”, refiro-me às pessoas respeitadas no meio em que viviam, na sua
coletividade Eram homens de exemplar conduta, qualquer que fosse a sua
profissão, e de reconhecida probidade.
Em Mossoró, entre os cidadãos de
reconhecida “sabedoria”, pelo que li e ouvi dos mais velhos, no meu tempo,
estavam homens como Jeremias da Rocha (1848-1881), fundador do segundo jornal
do Nordeste – O Mossoroense; Doutor Jerônimo Rosado (1890-1930), farmacêutico,
respeitado chefe da numerosa família Rosado e um grande estudioso dos
problemas de Mossoró; Cel. Miguel Faustino do Monte, que considero o maior
mossoroense nascido em Sobral, Ceará. Grande empresário e benfeitor da Igreja,
do Ginásio Santa Luzia e da família - parentes e amigos que trouxe de Sobral e
em Mossoró deu guarida; Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro, médico
humanitário, abolicionista e político. Governou o município de 1890 a 1922);
Cel. Bento Praxedes Fernandes Pimenta (1848-1910), comerciante, jornalista e
abolicionista; Dr. Eliseu Viana (1890-1960), educador, dramaturgo e musicista.
E aqueles que conheci pessoalmente: Major
Francisco Romão Filgueira, falecido em setembro de 1958, quando eu já tinha 34
anos, foi figura de destaque da campanha abolicionista. Outro que também
conheci foi o senhor Tertuliano Ayres Dias, alto, corpulento, farta cabeleira
branca com grossos bigodes, Venerável da Maçonaria. Sua fisionomia, por si só,
já impunha respeito e confiança; Ezequiel Fernandes de Souza, um dos fundadores
da grande empresa que foi Alfredo Fernandes & Cia., cidadão circunspecto,
correto e de elevado conceito; Dr. Jerônimo Vingt-un Rosado, homem de cultura,
agrônomo, antropólogo, paleontólogo, historiador, o maior impulsionador da
cultura em Mossoró. Tive o privilégio de ser seu amigo. Limito-me a mencionar
esses, mas outros nomes também houve, de igual padrão moral. Outros que merecem
ter seus nomes nesta relação foram os srs. Pedro Fernandes Ribeiro, um dos principais sócios
da firma Alfredo Fernandes Indústria e Comércio, homem sério e de elevado
conceito; e João Almino de Souza, de
incontestável integridade, com os quais tive a honra de dialogar,
principalmente o primeiro. Foram cidadãos de bem, com muita experiência e
sabedoria da vida.
Conforme Platão, ela, a sabedoria, seria “o
uso do saber em proveito do homem”. O “saber”, no caso, seria restrito aos
sábios? Não sei. A experiência acumulada ao longo de uma vida virtuosa, de
constante observação do comportamento humano, mesmo que limitado ao seu mundo,
não seria uma forma de obtê-la? Não poderia referir-se também a uma pessoa sobre
cujo conceito trato aqui?
Assim, dentro dessa premissa, incluiria aqui,
ainda, como tal, o mestre Francisco João de Castro. Não sei onde nasceu; sei
que morava no bairro Bom Jardim, era marceneiro e devia ter apenas o curso
primário. Era casado, tinha filhos que trabalhavam na mesma profissão e lhe
eram obedientes. Amigo do meu pai, aparecia sempre em nossa casa envergando
terno completo, talvez com vários anos de uso – paletó, gravata e chapéu de
feltro - vindo da missa dominical, sobraçando uma Bíblia. Se lia a Bíblia é
possível que conhecesse outros livros. Moreno, mais ou menos um metro e
setenta, um pouco corcunda, bigode brando, Papai o admirava pela ponderação de
suas palavras e tal admiração também me contagiou, mesmo sendo apenas um
adolescente. Não seria o mestre Chico João também um homem de sabedoria, assim
como outros que tive o privilégio de conhecer, como o também marceneiro e
violinista Vicente Gomes Bezerra, outro amigo do meu pai e frequentador da
nossa casa. E o músico erudito que foi Joaquim Ribeiro Freire, mestre da banda
municipal em determinado período? Seu
filho Bruno era agrônomo e foi meu colega no Banco do Brasil. Suas filhas
Maristela e Dalva Stela eram musicistas. Sei que Dalva, foi professora na
Universidade Federal do Ceará. Possuo um livro seu, excelente, sobre a história
da música em Mossoró.
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