segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

DOM JOÃO BATISTA PORTOCARRERO COSTA


Por Élder Heronildes


     Neste dia, 6 de janeiro, veio-me à mente, a significação desta data, que ficara na memória por tanto tempo. Dia do falecimento do 2º Bispo de Mossoró, Dom João Batista PortoCarrero Costa,o Santo. Procurei o que me estava mais próximo que me fizesse reviver agradáveis momentos do passado, tendo Dom Costa como  figura central, sabendo que nunca  procurasse esta colocação. Deparei-me, então, com um recorte de um pequeno jornal, com uma foto de Dom João Batista Portocarrero Costa, o segundo Bispo da nossa Diocese, por quem tinha profunda estima e grande afeto, além da admiração e respeito. Invadiu-me, de repente, neste dia, com intensa e imensa saudade, parecendo até um paradoxo, sem o ser, uma satisfação e uma grande alegria. Senti-me bem e entusiasmado, pois aquele instante me fez voltar ao passado, uma volta no tempo, como se estivesse a vê-lo diante de mim como acontecera em diferentes ocasiões, lá no Palácio Episcopal, (que ele não queria que falasse em Palácio) quando era recebido com carinho, simpatia e afeto, juntamente com outros jovens, entre os quais, Dorian Jorge Freire, Pedro Batista de Melo, José Leite de Aragão Mendes, Jaime Hipólito Dantas, Danilo Escossia, João Batista Cascudo, entre outros que não me recordo no momento.
   
    Dando sequencia àquela satisfação, nada mais oportuno do que fazer a leitura das palavras de Dorian Jorge Freire, sobre Dom João Costa, por representar, como sempre ocorre, em se tratando de Dorian, de uma peça maravilhosa, literariamente bem escrita, impecavelmente bem elaborada, de grande beleza e de maior significação no relevo do ser humano, digno dos maiores e mais ardentes aplausos e louvores, como era Dom Costa, serenidade, bondade, compreensão e amor personalizados numa pessoa só.
     Por isso, achei por bem transcrever o texto de Dorian e arquivá-lo no computador para, quando o desejasse, renovar a sua leitura e dá-la ao conhecimento de outros, se for o caso, como agora.
     Dom João Batista Portocarrero Costa, nasceu a 7 de junho de 1904 em Santo Antão da Vitoria, e faleceu no dia 6 de janeiro de 1959, também no Estado Pernambuco.
Eis o que disse Dorian:
“ No mundo de aberrações em que vivemos tão agraciado pela misericórdia divina e no entanto tão esquecido de Deus, a própria presença de alguém como Dom João Costa valia como uma bênção do céu.
Poucas vezes teremos visto alguém reunir tantas qualidades positivas como o nosso falecido bispo reuniu. Raras vezes tivemos a felicidade de conhecer alguém que sendo tão grande, tão desmesuradamente grande, era tão humilde, tão generoso, tão bom e puro como as crianças, os poetas e os loucos.
Silencioso, quieto, as mãos postas, lábios cerrados, e os olhos fixos, ele era a mensagem de paz no mundo conturbado e enfurecido.
Ninguém mais inteligente e mais puro no seu silencio. Não silencio superior de um vaidoso. Não silencio desonroso de um sarcástico. Mas silencio puro, sábio e bom, de um homem de intensa e santa vida interior.
Era o grande, o moderno orador por excelência. Não daqueles oradores xaroposos e vazios, não daqueles tambores que soam alto, mas que são ocos. Era o orador que tinha coisas a dizer, que sabia o que dizer, que sabia o que necessitava dizer e que falando maravilhosamente, era entendido por sábios e ignorantes, a sua palavra, divinamente inspirada, encontrava abrigo nos corações mais puros e impenetráveis.”
Volteando mentalmente a memória e sentindo palpitar o coração pelas intensas vibrações das reminiscências, em se tratando do meu querido e sempre lembrado Bispo Dom João Costa, não me contive e achei por bem, completar com belíssimas palavras do grande memorialista martinense, e mossoroense de coração, Raimundo Nonato da Silva:
 “Homem de alta cultura. Filosofo. O mais encantador dos oradores. Suavidade de expressão. Imagens luminosas. Palavra fácil, fluente, ricas de colorido verbal. Ouvi-lo era alguma coisa de fascinante. Um mágico da palavra. Um dominador de orações. “
      As vezes, sentados no sofá da sala principal do Palácio, que ele preferia  sempre referir-se como uma simples casa, surpreendentemente, quando notávamos, ele já estava à nossa frente. Não ouvíamos o menor ruído, sequer o mais leve som de alguém caminhando. Tínhamos a impressão que levitava. E levitava mesmo, pois era um Santo, que enchia de indescritível alegria os corações daqueles jovens e pecadores admiradores, que direcionavam os seus olhares, como que petrificados, àquela imponente e humilde figura, exemplar perfeito da bondade, delicadeza e ternura humanas.
 Saíamos de lá encantados. Encantamento que nos acompanhava e engrandecia os nossos jovens corações, prolongando esses sentimentos durante as nossas vidas, até hoje.
      Sorriso suave, como as palavras. Conhecendo nossos hábitos de fumadores, com delicadeza impulsionava um lado de uma bonita e singela   caixinha que estava sempre em cima de uma mesinha, no centro da sala,  de lá fazendo saltar  um cigarro atrás do outro, na correspondência  dos visitantes fumantes, que sabia quais. 
Os minutos e as horas iam passando, sem que ninguém desse por isso, pois as palavras que ouvíamos apascentavam os nossos corações, alguns mais rebeldes do que outros, suavizavam os nossos pensamentos, harmonizando e acalentando os nossos espíritos, refreando os nossos impulsos, que eram frequentes e ele sabia. Sentíamo-nos felizes, sem exceção. Aquelas palavras meigas e divinais faziam bem a todos nós. Só em lembra-las ainda fazem e são penetrantes. Como são.
Parecia que havíamos combinado, pois dizíamos logo ao sairmos; estou me sentindo feliz. Dom Costa me fez bem. Mais uma vez, penetrou em nossos mais íntimos sentimentos, fazendo vibrar os nossos corações. Todas as vezes saiamos dali satisfeitos, alegres com o sentimento de pureza invadindo-nos pelas palavras sabias, amorosas, suaves e cativantes do nosso Santo Bispo Dom Costa. Parecendo envolto em uma aureola, só transmitia amor, os seus olhos eram penetrantes e percorriam através dos nossos, todo o nosso corpo, dando um sentimento de forte presença interior em todos nós.
       Estava ele, logo em seguida entendemos, com o propósito de criar em Mossoró, a Congregação Mariana de São Tarcísio, pincipalmente composta de jovens. Com gestos simples, palavras singelas, recheada de candura, envoltas em uma humildade contagiante e penetrante, que atingiam o mais intimo de nossos corações; esclareceu o que desejava e  pedia, num comovente apelo, que o ajudássemos na concretização daquilo que ele considerava uma importante missão. Há muito que desejava tornar realidade esse sonho, acalentado por muito tempo. Embora reticente, parecia ter pressa, sem, contudo denotar, mesmo de leve, qualquer exigência quanto aos resultados, pois fugia ao seu feitio, suave e sereno, comportamento dessa natureza.
      A Congregação, como desejava o nosso Santo Bispo, foi criada e consolidada aquelas aspirações, funcionando com “standar” e tudo a que tinha direito. A sua alegria era visível,  demostrando-a em todas as ocasiões e momentos de vivencia da congregação de São Tarcísio.
E lá estavam, dentre os que me lembro, João Batista Cascudo Rodrigues, Dorian Jorge Freire de Andrade, Elder Hronildes da Silva Danilo Escóssia, Aragão Mendes, entre outros.
Deve-se acentuar um fato de maravilhosa significação. No momento em que ele, o Bispo, ia participar de um evento religioso, por exemplo de uma procissão, fazia questão da presença formal dos jovens integrantes da congregação.
Lembro-me, como se hoje fora, da procissão de Santa Luzia quando os jovens, em forma, conduzindo o “standart” se posicionavam logo atrás do Pálio em que ele se encontrava. Enquanto não sentia, olhando sempre para trás, que a congregação  estava formalmente presente, logo arás, não iniciava o cortejo religioso.
Meu Deus, como aquele simples gesto sensibilizava profundamente a todos nós, gerando uma corrente vibratória em louvor silencioso e sentido àquele Santo que se inseria com fervor nos corações daquela juventude e dos mossoroenses de uma maneira geral.

   Choramos, em silencio, cada um nos seus lugares, quando de sua saída de Mossoró e, muito mais, quando soubemos do seu falecimento. Pode-se dizer, e digo sem pestanejar, Mossoró teve a  feliz graça de receber e abrigar em seu seio, por um bom período, um Santo: Dom João Batista Portocarrero Costa. Neste momento de saudade, sozinho, as lágrimas não se contém e saem dos olhos. A saudade também faz renascer o amor. O amor a um Santo que queria bem.

Mossoró/ 06/01/2020

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