Por Élder Heronildes
Neste dia, 6 de janeiro, veio-me à mente, a significação
desta data, que ficara na memória por tanto tempo. Dia do falecimento do 2º
Bispo de Mossoró, Dom João Batista PortoCarrero Costa,o Santo. Procurei o que
me estava mais próximo que me fizesse reviver agradáveis momentos do passado,
tendo Dom Costa como figura central,
sabendo que nunca procurasse esta
colocação. Deparei-me, então, com um recorte de um pequeno jornal, com uma foto
de Dom João Batista Portocarrero Costa, o segundo Bispo da nossa Diocese, por
quem tinha profunda estima e grande afeto, além da admiração e respeito.
Invadiu-me, de repente, neste dia, com intensa e imensa saudade, parecendo até
um paradoxo, sem o ser, uma satisfação e uma grande alegria. Senti-me bem e
entusiasmado, pois aquele instante me fez voltar ao passado, uma volta no
tempo, como se estivesse a vê-lo diante de mim como acontecera em diferentes
ocasiões, lá no Palácio Episcopal, (que ele não queria que falasse em Palácio)
quando era recebido com carinho, simpatia e afeto, juntamente com outros jovens,
entre os quais, Dorian Jorge Freire, Pedro Batista de Melo, José Leite de
Aragão Mendes, Jaime Hipólito Dantas, Danilo
Escossia, João Batista Cascudo, entre outros que não me recordo no momento.
Dando sequencia àquela satisfação, nada mais oportuno do que
fazer a leitura das palavras de Dorian Jorge Freire, sobre Dom João Costa, por
representar, como sempre ocorre, em se tratando de Dorian, de uma peça
maravilhosa, literariamente bem escrita, impecavelmente bem elaborada, de
grande beleza e de maior significação no relevo do ser humano, digno dos
maiores e mais ardentes aplausos e louvores, como era Dom Costa, serenidade,
bondade, compreensão e amor personalizados numa pessoa só.
Por isso, achei por bem transcrever o texto de Dorian e
arquivá-lo no computador para, quando o desejasse, renovar a sua leitura e
dá-la ao conhecimento de outros, se for o caso, como agora.
Dom João Batista
Portocarrero Costa, nasceu a 7 de junho de 1904 em Santo Antão da Vitoria, e
faleceu no dia 6 de janeiro de 1959, também no Estado Pernambuco.
Eis o que disse Dorian:
“ No mundo de aberrações em que vivemos tão agraciado pela
misericórdia divina e no entanto tão esquecido de Deus, a própria presença de
alguém como Dom João Costa valia como uma bênção do céu.
Poucas vezes teremos visto alguém reunir tantas qualidades
positivas como o nosso falecido bispo reuniu. Raras vezes tivemos a felicidade
de conhecer alguém que sendo tão grande, tão desmesuradamente grande, era tão
humilde, tão generoso, tão bom e puro como as crianças, os poetas e os loucos.
Silencioso, quieto, as mãos postas, lábios cerrados, e os
olhos fixos, ele era a mensagem de paz no mundo conturbado e enfurecido.
Ninguém mais inteligente e mais puro no seu silencio. Não
silencio superior de um vaidoso. Não silencio desonroso de um sarcástico. Mas
silencio puro, sábio e bom, de um homem de intensa e santa vida interior.
Era o grande, o moderno orador por excelência. Não daqueles
oradores xaroposos e vazios, não daqueles tambores que soam alto, mas que são
ocos. Era o orador que tinha coisas a dizer, que sabia o que dizer, que sabia o
que necessitava dizer e que falando maravilhosamente, era entendido por sábios
e ignorantes, a sua palavra, divinamente inspirada, encontrava abrigo nos
corações mais puros e impenetráveis.”
Volteando mentalmente a memória e sentindo palpitar o coração
pelas intensas vibrações das reminiscências, em se tratando do meu querido e
sempre lembrado Bispo Dom João Costa, não me contive e achei por bem, completar
com belíssimas palavras do grande memorialista martinense, e mossoroense de
coração, Raimundo Nonato da Silva:
“Homem de alta
cultura. Filosofo. O mais encantador dos oradores. Suavidade de expressão.
Imagens luminosas. Palavra fácil, fluente, ricas de colorido verbal. Ouvi-lo
era alguma coisa de fascinante. Um mágico da palavra. Um dominador de orações.
“
As vezes, sentados no sofá da sala principal do Palácio, que
ele preferia sempre referir-se como uma
simples casa, surpreendentemente, quando notávamos, ele já estava à nossa
frente. Não ouvíamos o menor ruído, sequer o mais leve som de alguém caminhando.
Tínhamos a impressão que levitava. E levitava mesmo, pois era um Santo, que
enchia de indescritível alegria os corações daqueles jovens e pecadores
admiradores, que direcionavam os seus olhares, como que petrificados, àquela
imponente e humilde figura, exemplar perfeito da bondade, delicadeza e ternura
humanas.
Saíamos de lá
encantados. Encantamento que nos acompanhava e engrandecia os nossos jovens
corações, prolongando esses sentimentos durante as nossas vidas, até hoje.
Sorriso suave, como as palavras. Conhecendo nossos hábitos de
fumadores, com delicadeza impulsionava um lado de uma bonita e singela caixinha que estava sempre em cima de uma
mesinha, no centro da sala, de lá
fazendo saltar um cigarro atrás do
outro, na correspondência dos visitantes
fumantes, que sabia quais.
Os minutos e as horas iam passando, sem que ninguém desse por
isso, pois as palavras que ouvíamos apascentavam os nossos corações, alguns
mais rebeldes do que outros, suavizavam os nossos pensamentos, harmonizando e acalentando
os nossos espíritos, refreando os nossos impulsos, que eram frequentes e ele
sabia. Sentíamo-nos felizes, sem exceção. Aquelas palavras meigas e divinais
faziam bem a todos nós. Só em lembra-las ainda fazem e são penetrantes. Como
são.
Parecia que havíamos combinado, pois dizíamos logo ao
sairmos; estou me sentindo feliz. Dom Costa me fez bem. Mais uma vez, penetrou
em nossos mais íntimos sentimentos, fazendo vibrar os nossos corações. Todas as
vezes saiamos dali satisfeitos, alegres com o sentimento de pureza
invadindo-nos pelas palavras sabias, amorosas, suaves e cativantes do nosso
Santo Bispo Dom Costa. Parecendo envolto em uma aureola, só transmitia amor, os
seus olhos eram penetrantes e percorriam através dos nossos, todo o nosso
corpo, dando um sentimento de forte presença interior em todos nós.
Estava ele, logo em seguida entendemos, com o propósito de
criar em Mossoró, a Congregação Mariana de São Tarcísio, pincipalmente composta
de jovens. Com gestos simples, palavras singelas, recheada de candura, envoltas
em uma humildade contagiante e penetrante, que atingiam o mais intimo de nossos
corações; esclareceu o que desejava e
pedia, num comovente apelo, que o ajudássemos na concretização daquilo
que ele considerava uma importante missão. Há muito que desejava tornar
realidade esse sonho, acalentado por muito tempo. Embora reticente, parecia ter
pressa, sem, contudo denotar, mesmo de leve, qualquer exigência quanto aos
resultados, pois fugia ao seu feitio, suave e sereno, comportamento dessa
natureza.
A Congregação, como desejava o nosso Santo Bispo, foi criada
e consolidada aquelas aspirações, funcionando com “standar” e tudo a que tinha
direito. A sua alegria era visível, demostrando-a
em todas as ocasiões e momentos de vivencia da congregação de São Tarcísio.
E lá estavam, dentre os que me lembro, João Batista Cascudo
Rodrigues, Dorian Jorge Freire de Andrade, Elder Hronildes da Silva Danilo
Escóssia, Aragão Mendes, entre outros.
Deve-se acentuar um fato de maravilhosa significação. No
momento em que ele, o Bispo, ia participar de um evento religioso, por exemplo
de uma procissão, fazia questão da presença formal dos jovens integrantes da
congregação.
Lembro-me, como se hoje fora, da procissão de Santa Luzia
quando os jovens, em forma, conduzindo o “standart” se posicionavam logo atrás
do Pálio em que ele se encontrava. Enquanto não sentia, olhando sempre para
trás, que a congregação estava
formalmente presente, logo arás, não iniciava o cortejo religioso.
Meu Deus, como aquele simples gesto sensibilizava
profundamente a todos nós, gerando uma corrente vibratória em louvor silencioso
e sentido àquele Santo que se inseria com fervor nos corações daquela juventude
e dos mossoroenses de uma maneira geral.
Choramos, em silencio, cada um nos seus lugares, quando de
sua saída de Mossoró e, muito mais, quando soubemos do seu falecimento. Pode-se
dizer, e digo sem pestanejar, Mossoró teve a
feliz graça de receber e abrigar em seu seio, por um bom período, um
Santo: Dom João Batista Portocarrero Costa. Neste momento de saudade, sozinho,
as lágrimas não se contém e saem dos olhos. A saudade também faz renascer o
amor. O amor a um Santo que queria bem.
Mossoró/ 06/01/2020
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