sábado, 18 de janeiro de 2020

O PIANO DE ARI DUARTE

David Leite, ao centro da foto.



David de Medeiros Leite
é professor da UERN e Doutor pela Universidade de Salamanca (Espanha).
davidmleite@hotmail.com

Jovem casal Izabel Fernandes e Ricardo Giorgio nos convida para jantarmos em sua casa. Porém, acrescentam que, a mim, caberá a tarefa de falar aos presentes sobre um piano que adorna a sala deles. Para chegarem a essa especificidade, qual seja, a de que eu conhecia um pouco da história daquele instrumento musical, não foi difícil, sabedores de meu parentesco com Ari Duarte, antigo proprietário, e, por conseguinte, o interesse por sua atuação no cenário musical de Mossoró.
Não me fiz de rogado, aceitei comentar, em tom de conversa, o que sabia a respeito do piano e de algumas nuances imbricadas com sua aquisição e uso.
Em primeiro lugar, vamos comentar um pouco acerca da família responsável pela aquisição do piano. Francisco Duarte Filho - 1905 – 1973 - e Maria Salem Duarte - 1914 – 1978 - tiveram três filhos: Ari Salem Duarte - 1932 – 1992; Arita Salem Duarte - 1935 – 2014 - e Cid Salem Duarte - 1936 – 2000. Vale frisar que Ari era gravado com i, ao contrário do que aparece na denominação de edifício da cidade: Ary Salem.
O mossoroense Duarte Filho cursou Medicina no Rio de Janeiro e, canudo na mão, regressou ao torrão. Arrastava-se, em sua terra natal, o esforço de se erguer um hospital. Duarte encampa a ideia e, em 1938, inaugura o primeiro nosocômio de Mossoró: Hospital de Caridade. Duarte Filho também se envolve em política partidária, chegando a ocupar a prefeitura da cidade, ainda na década de 1930, episódio que retratamos no livro que organizamos em parceria com o saudoso Lupercio Luiz de Azevedo: Duarte Filho – Exemplo de Dignidade na Vida e na Política (Mossoró: Sarau das Letras, 2005); secretário de Estado de Saúde e senador da República, cuja eleição ocorreu em 1966, porém Duarte faleceu um ano antes de concluir o mandato.
Duarte Filho e Maria Salem educaram os filhos dentro de padrões da época. Arita e Cid, seguindo a carreira do pai, cursaram medicina em Recife (PE). Para tanto, contaram com o apoio e a infraestrutura necessários, como apartamento montado na capital pernambucana, entre as décadas de 1950 e 1960.
Ari desejou seguir uma carreira diferente dos irmãos: quis estudar música. Numa primeira etapa em Recife e, posteriormente, no Rio de Janeiro. Contou com o irrestrito apoio dos pais. O que os irmãos dispuseram para seguirem nos estudos de medicina foi proporcionado a Ari no concernente à sua carreira de musicista. E isso merece destaque, pois estamos abordando uma época em que os preconceitos, sobre quem desejava seguir uma carreira que não fosse nas áreas de medicina, engenharia e direito, eram exacerbados.
Tive oportunidade de ouvir, do próprio Ari, fragmentos de diálogos dele com os pais, em relação aos instrumentos que precisou adquirir. Quando, por exemplo, Ari ainda estava no Rio de Janeiro, pela intensidade dos estudos, teve que ser providenciado um piano vertical (ou piano de armário), instalado que foi em seu apartamento. Nessa ocasião, começou a tratar, com os pais, sobre a possibilidade de adquirir um piano de cauda, para sua futura Escola de Música em Mossoró, e, logo em seguida, foi providenciado.
Na segunda metade da década 1950 (não sei precisar a data), o piano tcheco, de marca Petrof, chegou a Mossoró. Numa primeira etapa, ficou na casa de Duarte Filho, prédio no qual, hoje, funciona o gabinete da Prefeitura, e se denomina Palácio da Resistência.
No começo dos anos 1960, Ari retorna a Mossoró e monta a Escola Santa Cecília, especificamente na Rua Cunha da Mota. Na Escola Santa Cecília, existiam dois pianos: o vertical e o de cauda, Petrof. O primeiro servia para Ari ministrar aulas, já o segundo era reservado para concertos. E, durante quase uma década, Ari escalou, para apresentações em solo mossoroense, pianistas que foram seus professores no Rio de Janeiro. A Escola dispunha de um miniauditório, e os concertos eram didaticamente organizados, com folder, etc.
A Escola Santa Cecília deixou de funcionar em 1974. Ari seguiu ensinando em uma das salas da casa dos pais. Essa penúltima fase de Ari, como professor de piano clássico, no hoje Palácio da Resistência, perdurou até 1986, quando o sodalício foi entregue à municipalidade, fruto de doação (isso mesmo: o Palácio da Resistência foi doado à municipalidade) dos herdeiros de Rodolfo Fernandes.
Ari volta a morar no prédio em que funcionou a Escola Santa Cecília e, apesar do ritmo mais lento, ainda seguiu ministrando aulas. E os dois pianos, claro, ao seu lado.
Ari Duarte faleceu, em 1992, de enfarto fulminante, quando caminhava numa calçada perto de sua residência.
Nessa última fase de Ari, em meio a descontraídas conversas, ouvi dele considerável preocupação quanto ao destino de seu piano Petrof. Numa dessas oportunidades, chegou a cogitar vendê-lo, recorrendo a anúncios em jornais, para alguém do sudeste, alegando que, se assim procedesse, lhes pagariam o que realmente valeria aquele instrumento. Mas, suas intenções foram aniquiladas por tão repentina morte.
Nessas coincidências do destino, após considerável tempo, seus sobrinhos, filhos da irmã Arita, resolvem vendê-lo ao casal Izabel e Ricardo. Além do investimento da compra, investiram na recuperação física do instrumento, que, agora, voltou a sonorizar outro lar mossoroense.
Na noite em que fiz tais considerações, acrescentei aos presentes que, apesar de tratar-se de um instrumento musical, a trajetória daquele piano Petrof, ou do piano de Ari Duarte, tem muito a ver com a história do ensino da música clássica em Mossoró, que, um dia, será dignamente resgatada, e registrada.
O jovem músico Joabe Willamys, também convidado para o referido jantar, nos brindou com um ótimo repertório, mesclando músicas clássicas e populares.
Noite que nos fez reviver a saga daquele piano e que, certamente, encheria de felicidades o seu antigo regente: Ari Salem Duarte.

Ari Duarte


NÃO É PERMITIDO O ÚLTIMO ADEUS


  
Por Lindomarcos Faustino Vieira

      Todas as pessoas sabem que a vida é apenas uma passagem aqui na terra e um dia teremos que deixar este mundo, mas ninguém se prepara ou está preparado para o último dia. A vida não deixa ninguém dar adeus a quem amamos, temos que ser forte, mas as lágrimas vão rolarem, por nosso coração ficar aflito, não há uma segunda chance.
        O dia que partiremos não sabemos, então viva como se fosse morrer amanhã, ninguém estará preparado para dar adeus, para ter a última conversa, para contar o último segredo e para ouvir a última vez a música que marcou nossa vida.
        Não é permitido o último adeus, pois não saberemos quando será este momento, é proibido pela lei da vida dar adeus, por qual motivo temos que partir e deixar a saudade por recompensa? Desejaria tanto ter a última hora ao lado daquela pessoa que no passado foi importante, meu Deus como a vida é breve, somente os momentos são eternos, então viva como se nunca fosse mais ver aquela pessoa e como fosse naquele instante o seu último adeus.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

DOM JOÃO BATISTA PORTOCARRERO COSTA


Por Élder Heronildes


     Neste dia, 6 de janeiro, veio-me à mente, a significação desta data, que ficara na memória por tanto tempo. Dia do falecimento do 2º Bispo de Mossoró, Dom João Batista PortoCarrero Costa,o Santo. Procurei o que me estava mais próximo que me fizesse reviver agradáveis momentos do passado, tendo Dom Costa como  figura central, sabendo que nunca  procurasse esta colocação. Deparei-me, então, com um recorte de um pequeno jornal, com uma foto de Dom João Batista Portocarrero Costa, o segundo Bispo da nossa Diocese, por quem tinha profunda estima e grande afeto, além da admiração e respeito. Invadiu-me, de repente, neste dia, com intensa e imensa saudade, parecendo até um paradoxo, sem o ser, uma satisfação e uma grande alegria. Senti-me bem e entusiasmado, pois aquele instante me fez voltar ao passado, uma volta no tempo, como se estivesse a vê-lo diante de mim como acontecera em diferentes ocasiões, lá no Palácio Episcopal, (que ele não queria que falasse em Palácio) quando era recebido com carinho, simpatia e afeto, juntamente com outros jovens, entre os quais, Dorian Jorge Freire, Pedro Batista de Melo, José Leite de Aragão Mendes, Jaime Hipólito Dantas, Danilo Escossia, João Batista Cascudo, entre outros que não me recordo no momento.
   
    Dando sequencia àquela satisfação, nada mais oportuno do que fazer a leitura das palavras de Dorian Jorge Freire, sobre Dom João Costa, por representar, como sempre ocorre, em se tratando de Dorian, de uma peça maravilhosa, literariamente bem escrita, impecavelmente bem elaborada, de grande beleza e de maior significação no relevo do ser humano, digno dos maiores e mais ardentes aplausos e louvores, como era Dom Costa, serenidade, bondade, compreensão e amor personalizados numa pessoa só.
     Por isso, achei por bem transcrever o texto de Dorian e arquivá-lo no computador para, quando o desejasse, renovar a sua leitura e dá-la ao conhecimento de outros, se for o caso, como agora.
     Dom João Batista Portocarrero Costa, nasceu a 7 de junho de 1904 em Santo Antão da Vitoria, e faleceu no dia 6 de janeiro de 1959, também no Estado Pernambuco.
Eis o que disse Dorian:
“ No mundo de aberrações em que vivemos tão agraciado pela misericórdia divina e no entanto tão esquecido de Deus, a própria presença de alguém como Dom João Costa valia como uma bênção do céu.
Poucas vezes teremos visto alguém reunir tantas qualidades positivas como o nosso falecido bispo reuniu. Raras vezes tivemos a felicidade de conhecer alguém que sendo tão grande, tão desmesuradamente grande, era tão humilde, tão generoso, tão bom e puro como as crianças, os poetas e os loucos.
Silencioso, quieto, as mãos postas, lábios cerrados, e os olhos fixos, ele era a mensagem de paz no mundo conturbado e enfurecido.
Ninguém mais inteligente e mais puro no seu silencio. Não silencio superior de um vaidoso. Não silencio desonroso de um sarcástico. Mas silencio puro, sábio e bom, de um homem de intensa e santa vida interior.
Era o grande, o moderno orador por excelência. Não daqueles oradores xaroposos e vazios, não daqueles tambores que soam alto, mas que são ocos. Era o orador que tinha coisas a dizer, que sabia o que dizer, que sabia o que necessitava dizer e que falando maravilhosamente, era entendido por sábios e ignorantes, a sua palavra, divinamente inspirada, encontrava abrigo nos corações mais puros e impenetráveis.”
Volteando mentalmente a memória e sentindo palpitar o coração pelas intensas vibrações das reminiscências, em se tratando do meu querido e sempre lembrado Bispo Dom João Costa, não me contive e achei por bem, completar com belíssimas palavras do grande memorialista martinense, e mossoroense de coração, Raimundo Nonato da Silva:
 “Homem de alta cultura. Filosofo. O mais encantador dos oradores. Suavidade de expressão. Imagens luminosas. Palavra fácil, fluente, ricas de colorido verbal. Ouvi-lo era alguma coisa de fascinante. Um mágico da palavra. Um dominador de orações. “
      As vezes, sentados no sofá da sala principal do Palácio, que ele preferia  sempre referir-se como uma simples casa, surpreendentemente, quando notávamos, ele já estava à nossa frente. Não ouvíamos o menor ruído, sequer o mais leve som de alguém caminhando. Tínhamos a impressão que levitava. E levitava mesmo, pois era um Santo, que enchia de indescritível alegria os corações daqueles jovens e pecadores admiradores, que direcionavam os seus olhares, como que petrificados, àquela imponente e humilde figura, exemplar perfeito da bondade, delicadeza e ternura humanas.
 Saíamos de lá encantados. Encantamento que nos acompanhava e engrandecia os nossos jovens corações, prolongando esses sentimentos durante as nossas vidas, até hoje.
      Sorriso suave, como as palavras. Conhecendo nossos hábitos de fumadores, com delicadeza impulsionava um lado de uma bonita e singela   caixinha que estava sempre em cima de uma mesinha, no centro da sala,  de lá fazendo saltar  um cigarro atrás do outro, na correspondência  dos visitantes fumantes, que sabia quais. 
Os minutos e as horas iam passando, sem que ninguém desse por isso, pois as palavras que ouvíamos apascentavam os nossos corações, alguns mais rebeldes do que outros, suavizavam os nossos pensamentos, harmonizando e acalentando os nossos espíritos, refreando os nossos impulsos, que eram frequentes e ele sabia. Sentíamo-nos felizes, sem exceção. Aquelas palavras meigas e divinais faziam bem a todos nós. Só em lembra-las ainda fazem e são penetrantes. Como são.
Parecia que havíamos combinado, pois dizíamos logo ao sairmos; estou me sentindo feliz. Dom Costa me fez bem. Mais uma vez, penetrou em nossos mais íntimos sentimentos, fazendo vibrar os nossos corações. Todas as vezes saiamos dali satisfeitos, alegres com o sentimento de pureza invadindo-nos pelas palavras sabias, amorosas, suaves e cativantes do nosso Santo Bispo Dom Costa. Parecendo envolto em uma aureola, só transmitia amor, os seus olhos eram penetrantes e percorriam através dos nossos, todo o nosso corpo, dando um sentimento de forte presença interior em todos nós.
       Estava ele, logo em seguida entendemos, com o propósito de criar em Mossoró, a Congregação Mariana de São Tarcísio, pincipalmente composta de jovens. Com gestos simples, palavras singelas, recheada de candura, envoltas em uma humildade contagiante e penetrante, que atingiam o mais intimo de nossos corações; esclareceu o que desejava e  pedia, num comovente apelo, que o ajudássemos na concretização daquilo que ele considerava uma importante missão. Há muito que desejava tornar realidade esse sonho, acalentado por muito tempo. Embora reticente, parecia ter pressa, sem, contudo denotar, mesmo de leve, qualquer exigência quanto aos resultados, pois fugia ao seu feitio, suave e sereno, comportamento dessa natureza.
      A Congregação, como desejava o nosso Santo Bispo, foi criada e consolidada aquelas aspirações, funcionando com “standar” e tudo a que tinha direito. A sua alegria era visível,  demostrando-a em todas as ocasiões e momentos de vivencia da congregação de São Tarcísio.
E lá estavam, dentre os que me lembro, João Batista Cascudo Rodrigues, Dorian Jorge Freire de Andrade, Elder Hronildes da Silva Danilo Escóssia, Aragão Mendes, entre outros.
Deve-se acentuar um fato de maravilhosa significação. No momento em que ele, o Bispo, ia participar de um evento religioso, por exemplo de uma procissão, fazia questão da presença formal dos jovens integrantes da congregação.
Lembro-me, como se hoje fora, da procissão de Santa Luzia quando os jovens, em forma, conduzindo o “standart” se posicionavam logo atrás do Pálio em que ele se encontrava. Enquanto não sentia, olhando sempre para trás, que a congregação  estava formalmente presente, logo arás, não iniciava o cortejo religioso.
Meu Deus, como aquele simples gesto sensibilizava profundamente a todos nós, gerando uma corrente vibratória em louvor silencioso e sentido àquele Santo que se inseria com fervor nos corações daquela juventude e dos mossoroenses de uma maneira geral.

   Choramos, em silencio, cada um nos seus lugares, quando de sua saída de Mossoró e, muito mais, quando soubemos do seu falecimento. Pode-se dizer, e digo sem pestanejar, Mossoró teve a  feliz graça de receber e abrigar em seu seio, por um bom período, um Santo: Dom João Batista Portocarrero Costa. Neste momento de saudade, sozinho, as lágrimas não se contém e saem dos olhos. A saudade também faz renascer o amor. O amor a um Santo que queria bem.

Mossoró/ 06/01/2020

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

BREVE HISTÓRIA DOS GRUPOS MUSICAIS DE MOSSORÓ



Uma Breve História dos Grupos Musicais de Mossoró, Volume 1, de Marcos Batista, filho do saudoso Maestro Batista, com 286 páginas, é um belo resgate da história de 58 grupos musicais formados na cidade, de 1900 a 1979, contendo um enorme acervo fotográfico.
 Valor: R$ 40,00.