sábado, 30 de setembro de 2017

Livro de Marcela Fernandes

                                                                               



Marcela Fernandes de Carvalho é carioca, tem dois filhos: Maria Flor e José; bisneta de Rodolfo Fernandes, o prefeito de Mossoró, que em 1927 botou Lampião e seu bando para correr da cidade, veio em junho deste ano - 90 anos após seu bisavô se tornar heroi da resistência - lançar um livro na linha infanto-juvenil, Lampião e o Vovô da Vovó na Cidade de Mossoró, pela Editora Escrita Fina. Assim, Marcela se apresenta: "Sou Marcela Fernandes (de mãe) Carvalho (de pai). Gosto de desenhar e de bordar meus desenhos que viram risco no pano. Lampião e o Vovô da Vovó na Cidade de Mossoró é o primeiro livro que escrevo, mas já ilustrei outros como A Linha e o Linho, de Gilberto Gil. E gostei demais de escrever. Descobri que escrever e bordar são coisas bem parecidas, pois criamos ponto a ponto uma trama encantada (...)
Marcela Fernandes concedeu entrevista na Revista Bzzz, de Natal, edição de setembro de 2017: 


     

Contracapa do livro, editado com o apoio da CIMSAL.

domingo, 24 de setembro de 2017

Feira do Livro de Mossoró



Hoje é o encerramento da XIII Feira do Livro de Mossoró, no Mossoró Partage Shopping. O responsável pela FLIM é o jornalista Rilder Medeiros, que há treze anos trava uma batalha para conseguir apoiadores e patrocínios para o evento, que conta com lançamentos de livros, palestras, contações de estórias, etc. Os visitantes têm a possibilidade de conseguir títulos de literatura internacional e local a partir de R$ 10,00. No stand da Fundação Vingt-un Rosado, o visitante pode adquirir livros e cordeis. 


Coleção Mossoroense no stand da Fundação Vingt-un Rosado




Stand da Editora Sarau das Letras



Ótimos títulos em promoção
                                                                     
Jornalista Rilder Medeiros com a colega Lúcia Rocha

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Separação, de Clauder Arcanjo



        Nesta quinta, dia 14 de setembro, Clauder Arcanjo lançará na sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras, em Natal, o seu novo livro de contos Separação, com textos dos críticos literários Hildeberto Barbosa Filho, da Paraíba, e de Nelson Patriota, de Natal.
        Clauder Arcanjo é engenheiro, gerente da Petrobras, editor da Sarau das Letras e apresentador do programa Pedagogia da Gestão.
        A seguir, o prefácio e a orelha do livro e o currículo literário de Clauder Arcanjo:
        


Prefácio

Clauder Arcanjo: de olho na ambivalência das separações...
                            *Hildeberto Barbosa Filho

            Se há uma forma narrativa que não deve compactuar com o excesso, esta forma é o conto, sobretudo o conto curto. Nele, os detalhes descritivos, as digressões reflexivas, os altos e baixos dos conflitos humanos, assim como outros elementos mais adequados à estrutura romanesca, tendem a prejudicar sua intensidade, tensão e significação, segundo Julio Cortázar, por excelência, suas categorias intrínsecas.
            Clauder Arcanjo, escritor norte-rio-grandense, possui plena consciência deste imperativo estético, observados os contos que integram a coletânea intitulada Separação, publicada com o selo da editora Sarau das Letras.
            Reunindo dezoito pequenas histórias focadas em motivo único, já entrevisto no próprio título, o autor procura pensar e problematizar o cotidiano das relações matrimoniais, num tom a que não falta a casca lúdica do estilo coloquial e numa perspectiva que mescla os sentimentos empáticos do narrador, em relação aos dramas vividos pelos personagens, a uma visão como que trágico-cômica em torno de suas experiências de encontros e desencontros, apegos e separações.
            O casamento desfeito, talvez pela rotina – “o túmulo do amor”, como diria Guimarães Rosa -, deixa-se explorar numa variação rítmica e temática que o descortina na transparência inevitável de sua banalidade, do seu despropósito e do seu absurdo. Pacto ou negócio, união ou vínculo, firmado no sentimento amoroso ou no interesse pragmático, não importa. Importa, sim, a cada narrador de cada caso, a constatação lógica de sua insustentabilidade, o desvio não raro grotesco e surpreendente que permeia a ambivalência das peripécias.
            Não fossem a distância irônica e os ingredientes humorísticos que conduzem, na mais das vezes, o movimento narrativo e as ações dos personagens, estaríamos diante da contingência trágica, marcada sobretudo pela fatalidade do destino e pela irresolução definitiva da crise existencial.
            O fato é que Clauder Arcanjo, desconstruindo pelo riso a gravidade do tema da separação, elabora uma análise dessa instituição social – o casamento – revirando-a pelo avesso, sem perder, contudo, a leveza da percepção e sem incidir, portanto, na visão amarga e corrosiva de um Tolstói, por exemplo, em A Sonata a Kreutzer, ou de um Dalton Trevisan, em tantas de suas fabulações novelísticas.
            Essa visão, colada severamente à realidade cotidiana de cada situação, com suas razões e causas diversificadas, imprime unidade expressiva e literária ao conjunto das peças reunidas. Por mais diferente que seja o pivô das múltiplas separações, há como que um fio uniforme que tece as rendas dramáticas de cada história. De outra parte, o estilo, emanado das fontes orais, calcado na simplicidade coloquial e atento à precisão de certos vocábulos, também reforça esta unidade e se põe em simetria direta com os conteúdos narrados.
            Um bom exemplo disto me parece o conto “Sexta separação”. A situação de Rosinha e Severino, principalmente, no desfecho, perfeitamente simétrica no seu desencontro, remete à ironia do destino, à armadilha das trapaças existenciais, ao jogo estúpido da vida, no qual – parece – todos somos perdedores... Destaco, ainda neste sentido, o das simetrias entre os personagens, o da unidade estilística e o das ocorrências imprevisíveis, a segunda, terceira e sétima separação.
            Todas, grosso modo, trazem, na sua fatura textual, ingredientes técnicos e literários que, associados aos aspectos psicológicos, éticos e sociais dos personagens e de seus enredos, formam uma espécie de partitura sinfônica em que os motivos recorrem numa cadência semântica, cuja pluralidade perceptiva e colorido das tonalidades, tende a alargar a compreensão do mundo, na medida em que nós – leitores – decerto nos encontramos a nós mesmos nos desencontros que presenciamos.
            O que mais pretende um escritor? Não seria este o desafio maior do texto literário? A imagem do real não nos serve para mensurá-lo melhor? Não nos serve para ampliá-lo? Trazendo à tona, à superfície manifesta da linguagem, as substâncias latentes que esta mesma linguagem quase sempre oculta e escamoteia?
            A estas indagações, o livro de Clauder Arcanjo responde afirmativamente. O contista, aqui, aparece de corpo inteiro no ato mesmo de narrar. Narrar, como quase não se faz mais hoje em dia, no artificial e hermético mapa da literatura contemporânea. Narrar histórias simples, comuns, triviais; histórias de todos os homens e todas as mulheres, histórias de todos os casamentos, histórias de todas as separações.
            Desenvolto nos diálogos, com seguro domínio das sequências narrativas, sem medo da linearidade e sem temer os riscos do começo, do meio e do fim, Clauder Arcanjo, com a sensibilidade de observador arguto do lado travesso da realidade e com a imaginação fabulatória dos antigos narradores, produz uma obra em que o anteparo documental em torno do ser humano e da sociedade se funde às exigências do valor estético.
            Se vale pelo que diz, e são muitos os saberes que se intercambiam no bojo das narrativas, vale principalmente pelo como diz, isto é, pela força da representação e pelo arranjo singular que os signos se propõem na composição formal e ideativa dos contos selecionados. Nesses contos, o escritor está, sim, de olho nas palavras, no corpo ambivalente das palavras, para, mais profundamente, ficar de olho na ambivalência das separações...

                        * Hildeberto Barbosa Filho é poeta e crítico literário paraibano. Mestre e Doutor em literatura brasileira. Professor titular aposentado da UFPB e membro da APL – Academia Paraibana de Letras.



Texto da orelha


          Se algo distingue o escritor dos não escritores é a perspicácia do olhar que o primeiro debruça sobre o tecido do seu meio social com uma incansável obstinação. É que, à diferença do olhar desinteressado do mero observador, o olhar do escritor costuma conduzi-lo por escaninhos, desvãos e sendas cercados, à primeira vista, de áreas de sombras ou de baixa luminosidade. Uma delas diz respeito ao estado da instituição matrimonial nos nossos dias, em torno da qual as uniões e desuniões se sucedem num ritmo frenético, ora favorecendo a um lado, ora a outro. Nada há de estranho, portanto, que a leitura que faça o escritor dessa instituição seja fortemente crítica. Daí que são inevitavelmente críticos os contos deste Separação, livro que anuncia a volta de Clauder Arcanjo, também romancista, cronista e poeta, a um gênero que ele explorou de modo livre em dois livros anteriores. Mas é recomendável que o venturoso leitor desses novos contos se desarme de expectativas cartesianas: nem toda relação culmina com a separação, nem toda separação se mantém como tal na caminhada que o olhar do autor faz sobre a sociedade dos nossos dias. Nesse aspecto, Separação é uma obra realista, isto é, uma obra que não se preocupa em dotar o real de tons uniformes; pelo contrário, sua paleta se compraz com a máxima variedade de tons, não obstante sua unidade temática. Porque a grande compensação para o leitor será o repertório de temas concernentes à crise da vida a dois, a qual, a exemplo de outros fundamentos sociais, atravessa tempos incertos. Trata-se, por isso, de um tema que está na vanguarda de toda obra de ficção realista. Em Separação, cada narrativa se estriba no binômio marido-mulher. Mas nem sempre são estes os únicos protagonistas da comédia matrimonial; filhos, parentes próximos, párocos, advogados e vizinhos podem intervir, tornando imprevisíveis os desfechos de cada episódio. Desconhecemos os motivos que levaram a essa ou aquela união ambientada na imaginária Licânia-Macondo do autor; em compensação, cada narrativa escancara o leque de motivos de parte a parte que levam – mas nem sempre – ao colapso do casamento. É com arte e artifícios que Clauder Arcanjo nos oferece seu rico repertório de causos relativos aos desacertos do amor. A narrativa final, de número 18, serve como uma espécie de síntese da obra, pois é nela que o autor se permite tecer uma observação mais refletida sobre o tema de que trata. Diz ele: “A maioria dos grandes casos de amor, como um bom romance, parecem inacabados”. O experiente leitor destas páginas não tardará a dar-se conta de que a graça das histórias aqui enfeixadas reside justamente nisso. Como acontece, aliás, na vida.

Nelson Patriota
Escritor e membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras



                        Currículo literário de Clauder Arcanjo



            Antonio Clauder Alves Arcanjo - Clauder Arcanjo - nasceu em Santana do Acaraú, Ceará, aos 3 de março de 1963. Engenheiro civil, gerente da Petrobras na Bacia de Campos, Rio de Janeiro; professor, editor-executivo da editora Sarau das Letras  com mais 210 livros publicados e apresentador, na TV Cabo Mossoró TCM, do Pedagogia da Gestão, programa este voltado, há mais de catorze anos, para a divulgação das boas ações de gestão, educação e cultura colhidas em chão potiguar. Membro da Academia Mossoroense de Letras - AMOL - membro e atual vice-presidente do Instituto Cultural do Oeste Potiguar - ICOP - da Sociedade Brasileira para Estudos do Cangaço - SBEC - sócio correspondente da Academia Paranaense da Poesia e da Academia Cearense de Língua Portuguesa - ACLP - bem como de diversas outras entidades. Clauder Arcanjo está radicado em Mossoró, há mais de trinta anos. Em 2016, recebeu o título de cidadão norte-rio-grandense, outorgado pela Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Norte.
Clauder Arcanjo é autor dos livros de contos Licânia - 2007 - e Lápis nas veias - 2009 - além das obras Novenário de espinhos – poemas - 2011 - Uma garça no asfalto – crônicas - 2014 - Pílulas para o silêncio/ Píldoras para el silencio - 2014 – aforismos poéticos –, vencedor do Prêmio Geir Campos, da União Brasileira dos Escritores/RJ. Em 2016, publicou o romance Cambono.
Clauder Arcanjo organizou, em parceria com David de Medeiros Leite, a obra Sarau das Letras — Entrevistas com escritores - 2015 - com Ângela Rodrigues Gurgel e Raimundo Antonio, a coletânea Café & Poesia: volume 1 - 2016. Também, é coautor dos livros: Semiose poética - 2017 - e Exercícios literários: Café & Poesia volume 1.
       Em 14 de setembro próximo, lançará, na sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras, o seu novo livro de contos Separação, com textos dos críticos literários Hildeberto Barbosa Filho (Paraíba) e de Nelson Patriota (RN).
No prelo, a novela O Fantasma de Licânia e a coletânea de resenhas literárias Carlos Meireles: ofício de bibliófilo.

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Comentários sobre a obra de Clauder Arcanjo:

Em Novenário de espinhos, de Clauder Arcanjo, sentimos indubitavelmente o poeta místico. Todavia, há que dizer que esse místico pleno, sem fingimento, está longe da solidão monástica de eras passadas, sendo, pelo contrário, o homem-cidadão-poeta-irmão que não recusa o mundo, as tensões das dualidades, a dissonância do viver num planeta agora mais que nunca também crucificado de injustiças, fomes e outros males. «Nos espinhaços das favelas,/A rebeldia dos proscritos./ Obra por nós Cristo./Nos sabugos da memória,/A saga dos malquistos.» Coexistente, o seu acto de pensar, ou mesmo de esquadrinhar nos corredores de Hermes, coloca-o na problemática do conhecimento, aqui parecendo até desamparado de tutela divina, tão bem colocada nestes versos «Não cantarei/ A dor profunda/ Não tenho chave para tais guardados».
Poeta Eduardo Aroso
(Coimbra-Portugal)

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         A Editora LetraSelvagem inaugura luminosamente a drummondiana coleção "Boca de Luar", com os textos primorosos de Clauder Arcanjo. É literatura que confirma o autor na mais nobre linhagem da crônica brasileira, em que se inscrevem Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz e João Ubaldo Ribeiro, para citar apenas três honrosas companhias.
Escritor Edmílson Caminha
(Brasília-DF)

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         Clauder Arcanjo manifesta estilo pessoal quando inocula as expressões líricas com as reminiscências sentimentais depositadas no seu espírito norte-rio-grandense.
Escritor e crítico literário Fábio Lucas
(São Paulo-SP)

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         Em formato de novela-folhetim, Clauder Arcanjo constrói com originalidade, linguagem requintada e domínio de expressão uma trama labiríntica, em que o cotidiano dos moradores da fictícia cidade de Licânia é retratado capítulo a capítulo numa invenção surpreendente e desconcertante. Narrativa desenvolta e segura, em que realidade e ficção se entrelaçam, seduzindo o leitor com a força e a palavra de Adamastor Serbiatus Calvino (Cambono), Maria Abógada, Benarenard Péricles, Acácio, Jacinto Gamão, Gerardo Arcanjo, entre outros personagens capazes de fazer tremer as paredes de Licânia com seus uivos de paixão.
Escritora Marília Arnaud
(João Pessoa-PB)

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Dos veces bueno
         Hay en España un dicho conocido por todos y muy repetido: Lo bueno si es breve, es dos veces bueno. Supongo que, en Brasil, habrá alguno igual o parecido. Y, en todo caso, eso se cumple en esta colección de relatos cortos, que es Separação, de Clauder Arcanjo. Son relatos breves, con diálogos exactos y medidos, y con desenlace a la vuelta de pocas líneas. Por eso, y porque están escritos con bella sencillez, los he leído de un tirón en esta tarde serena en la ciudad de Salamanca. Son dos veces buenos.
Don Fructuoso Mangas
(Salamanca, Espanha)






domingo, 3 de setembro de 2017

Leitura de Domingo com Dorian Jorge Freire





Presença de Helen

Por Dorian Jorge Freire


   Lembra-nos ainda - não faz muito tempo - quando surgia em Natal uma poetisa, diferente, ensaiando ousados vôos, triturando velhas regras e fórmulas, pisando venerados tabus, seguindo no verso livre e desenvolto à escola modernista. Era Helen Ingersoll, uma desconhecida filha de Mossoró, descendente de estrangeiros. De um momento para outro, num espaço de tempo nada considerável, a guria de porte altivo e palestra cheia de calor que toda Mossoró conheceu encontrava a poesia e se encaminhava cônscia de suas responsabilidades e dona de sua arte pelos caminhos das letras.
Apareceram, então, debates acalorados, discussões intempestivas sobre Helen. As opiniões de seus conterrâneos sobre sua poesia eram as mais apaixonadas e diversas entre si. Uns, viam na poetisa Helen Ingersoll uma jovem de inteligência brilhante, de espírito lúcido, de poética extraordinária. Outros, secamente, procuravam inutilmente não tomar conhecimento da existência da poetisa, desdenhando-a e criticando-a com acrimonia. Helen era para estes últimos, uma menina endiabrada, terrivelmente fria e calculista, extravagante no seu realismo pornográfico.
Helen, entretanto, não era nada disso. Era o meio termo entre as opiniões em choque. Era, apenas, uma moça realmente dona de uma inteligência brilhante, de um espírito irrecusavelmente superior, endiabrada e entusiasmadíssima com a descoberta de si mesma. Era, tão-somente, uma poetisa de fato que aparecia.
Depois desapareceu Helen. Seu nome pouco a pouco se ausentou dos suplementos literários dos jornais natalenses. Seu lugar foi ocupado por outros de menor importância e quase nenhuma significação.
A poetisa viajara para o Rio e desaparecera no emaranhado da Cidade Maravilhosa. Alguns afirmavam mesmo que em Helen a poesia fora uma febre passageira, um impulso efêmero, uma criancice inconsequente. Ela não passava agora, segundo eles, de assídua leitora de poetas modernistas, além de ótima funcionária e aluna exemplar.
Agora me chega às mãos um jornalzinho editado no Distrito Federal, pelos alunos do conhecido Educandário Rui Barbosa. Seu nome é “Pátio” e Helen Ingersoll é sua diretora.
Helen existe e continua poetisa, já não é a mesma de ontem; o que lhe faltava antes, agora ela o possui: maior experiência, firmeza. Conseqüência. Pudemos notar maior segurança no seu estilo de cronista admirável. Maior força nas suas expressões poéticas de tanta beleza. Aquele entusiasmo de outrora deu lugar a uma segurança invejável em tudo que ela escreve. Quer nos seus poemas, quer nos registros sobre teatro que aquele jornal publica, quer num substancioso trabalho sobre forma e essência na poesia, quer nas notas de redação por ela escritas, verificamos o progresso indisfarçável que se vai operando naquela que nós não titubeamos em denominar de filha mais ilustre de Mossoró.
Em “Pátio”, Helen impera. Em todos os cantos notamos sua presença, em todas as páginas verificamos sua influência. Desde o artigo de fundo ao comentário jocoso, do poema moderno à crônica leve, do comentário ligeiro ao estudo complexo e sério. Helen está, enriquecendo com sua inteligência aquele mensário, honrando com sua presença aquele punhado de jovens capazes e destemidos.
Enganaram-se, portanto, os borocochós da literatura caseira, os impenitentes “intelectuais conterrâneos” que afirmavam momento a momento que Helen desaparecera e inexistia como expressão literária. Enganaram-se redondamente, porque Helen Ingersoll, a mossoroense altiva e graciosa, inteligente e valorosa, continua honrando sua terra e se impondo firmemente como um valor indiscutível e de primeira grandeza na geração brasileira de “novíssimos”.
Pelas páginas desse jornal, queremos que chegue até Helen de Patu (um dos pseudônimos da poetisa) os nossos aplausos francos e sinceros. Nossas congratulações pelo aparecimento do jornal e votos de felicidades e vida longa para ele, além de felicitações a todos os que compõem a esclarecida direção do “Pátio”, o jornal de Helen.


O Mossoroense, 02 de dezembro de 1951. Cópia de Maria Lúcia da Escóssia.
  


sábado, 2 de setembro de 2017

XLII Encontro Café & Poesia

Por Lúcia Rocha
luciaro@uol.com.br



Convite


        Aconteceu numa manhã de sol do primeiro sábado de setembro, mais um encontro do projeto Café&Poesia, que reuniu convidados no auditório da CDL - Câmara de Diretores Lojistas, no centro de Mossoró.
        O convite veio do escritor, engenheiro Clauder Arcanjo via whatsapp e lá fui para o primeiro desses encontros que organiza há um tempinho e, reencontramos amigos que há muito não nos víamos.

        Lilia Souza é uma fluminense de Volta Redonda, que veio de Curitiba, aonde leciona literatura. Simpática, veio falar sobre vida e poesia de Cecília Meireles, que nasceu no Rio de Janeiro, em 1901. Lilia contou uma breve história de Cecília Meireles, que perdeu o pai faltando três meses para nascer, sendo ele funcionário do Banco do Brasil e falecido com 26 anos de idade. Aos três anos, Cecília Meireles mais uma vez foi visitada pela morte, que desta vez levou sua mãe, professora primária, ficando a garota sob os cuidados da avó materna, de origem portuguesa.
         Em breves intervalos, enquanto contava a vida e obra de Cecília Meireles, sua poesia era lida por alguns presentes ao evento. Clauder Arcanjo também participou ativamente distribuindo livros de autores locais e a revista Nós, do RN com o auditório, especialmente, editados em sua editora, a Sarau das Letras, que tem participado ativamente na revelação de novos autores na literatura mossoroense e da capital.
        Em 1921, Cecília Meireles casou-se com o pintor, Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Viúva, casou-se em 1940 com o professor Heitor Grillo.
        Cecília Meireles, continuou a palestrante, Lilia Souza, além de poetisa, foi professora primária e universitária, palestrante, conferencista, cronista, com apenas o diploma de Magistério ou o referente a antiga Escola Normal. Autodidata, também foi jornalista. O seu amor pelos livros e crianças - teve três filhos - a fez fundar  a primeira biblioteca infantil no Brasil, em 1934. Quem decorou o que hoje seria uma brinquedoteca, foi seu primeiro esposo, artista plástico. Essa biblioteca infantil propiciava atividades temáticas para as crianças. "Cecília Meireles também estudou canto, tocava violão e violino. Era uma grande estudiosa de literatura de um modo geral e ministrou cursos de literatura no Brasil e no exterior. Também era uma estudiosas das culturas orientais, ao falecer em 1964, deixou textos infantis e teatrais. Cecília Meireles era um dos maiores nomes na poesia brasileira, dona de uma extensa bibliografia, seu nome ainda é aclamado", disse Lilia Souza.
       Ao final da sua apresentação sobre Cecília Meireles, a professora Lilia Souza leu o poema Traseunte, antes de ser servido um café com lanches para os presentes.
       O Café&Poesia é uma idealização das escritoras Fátima Feitosa e Ângela Rodrigues Gurgel em dezembro de 2013 e, segundo Ângela, sempre teve o apoio irrestrito de Clauder Arcanjo, através da sua editora Sarau das Letras e do Programa Pedagogia da Gestão, exibido pelo Canal 10, da TCM - TV Cabo Mossoró. "Sem dúvida Clauder é o nosso maior e mais entusiasta apoiador, incentivador, divulgador e membro. Desde o seu nascimento, em dezembro de 2013, o Café&Poesia estabeleceu uma parceria com a Sarau das Letras e tem sido uma espécie de útero onde são gestados os novos escritores e a Sarau a parteira que dá luz/vida as produções destes amantes da literatura".
       O evento Café&Poesia é realizado mensalmente e tem o apoio cultural da Livraria Independência, Editora Sarau das Letras, Repet, Sabino Palace Hotel, projeto LerMAIS, TCM 10, Unigráfica e PéDireito.    


                                                
Professora Lilia Souza


Plateia do Encontro Café & Poesia