quarta-feira, 10 de março de 2021

MULHERES NA PANDEMIA

 


Por Ana Medeiros

        Falar que a mulher é frágil, não tem lógica. A mulher é guerreira por excelência, já nasce com a missão de ir à luta. Quando feliz, compartilha e comemora, porém, se o problema é grave como esse que nos assola, perde o sono, ajoelha, reza, ora e chora. Tudo o faz discretamente, sem causar pânico ou alarde, mesmo porque a denominaram pilar que sustenta a construção. 
      Ah! Mas quantos pensamentos passa pela sua cabeça? Precisa encontrar soluções, pois tem lá um inimigo que rodeia  a sua casa,  sua família, há também um esposo desempregado ou simplesmente não há esposo, é tão-somente ela com um fardo a carregar. 
      Tem filho adolescente ou não, porém, totalmente inconsequente, que entra e sai, não se protege, coloca em risco a vida de avós, pais e a sua própria. Ela preocupa-se com a contaminação, pois não tem condição, teme por sua vida e, mais ainda, por deixar sua prole sem proteção. Até nessas horas, seu pensamento em relação a si mesma é egoísta. Família sempre em primeiro lugar. Crianças sem escola. Aulas, só remotas, mas, como acompanhá-las? Se falta até alimentação...
      Como pagar uma internet? E quando consegue, como acompanhar os filhos? Se tem que trabalhar... É pai e mãe em tempo integral. O medo a apavora ao tomar ônibus, trem ou metrô lotado, porém, se arriscar é preciso. Tem contas a pagar.
       A saúde, ninguém sabe a quantas anda, tendo em vista que seus exames de rotinas - taxas, prevenções, diabetes - foram mais uma vez adiados. Não há tempo para isso agora, tudo fica em segundo plano mais uma vez. O motivo é a pandemia. 
       Em alguns casos o companheiro até existe, tem condições financeiras, mas diante da situação, tudo mudou de repente. O esposo não se vira sozinho, saindo de fininho, deixando para ela os problemas e exigindo soluções.
        A mulher tem o dom de carregar o mundo nas costas, achando pouco os seus problemas, chama para si os dos outros. Com seu coração de manteiga, preocupa-se com o vizinho, se tem criança com fome, se estão jogadas na rua ou fora da escola. Toma para si as dores de outra Maria que chora, porque mulher é feita de sentimentos, não importa se é doutora, professora, frentista, poetisa, diarista. 
        Enfim, não tem raça, cor religião ou classe social, somos todas iguais, guerreiras por natureza, mestras por convicção e leoas  na hora de defender nossos filhos e nossa sobrevivência. Somos incondicionais  no amor materno. Hoje já escalamos alguns degraus, já não somos submissas, porém, falta muito para chegarmos ao topo.  
        Ainda existem mulheres escravizadas, abusadas, maltratadas, desvalorizadas  e assassinadas  em nome do machismo e crueldade masculina, pois, ainda não se deram conta que lugar de mulher é em qualquer lugar, é onde ela quiser.
        Minha homenagem individual e coletiva a todas nós, mulheres, mães, avós, filhas, netas, amigas, vizinhas, pobres, ricas, bem sucedidas, famosas, mulheres dos morros, comunidades, sítios, sertões, cidades, litorais ou de qualquer parte.
        Que todas nós possamos nos juntar em uma corrente de fé, sonhos e esperanças. Lembre-se, não somos sexo frágil,  também não somos rochas o tempo inteiro. Somos amantes, amigas, companheiras que choram, sofrem e se desesperam, caem, mas consegue levantar, secar as lágrimas e seguir nesta difícil travessia.             Lidamos com a vida e  a morte no nosso dia a dia, porque somos simplesmente as mulheres da pandemia.

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