Por Vanda Maria Jacinto
Escritora, autora do livro Rabiscando os caminhos da prosa
E-mail: v.m.j@hotmail.com
Enquanto organizava o quarto, colocando em ordem os objetos
espalhados no dia anterior, passei rapidamente em frente ao espelho, porém com
tempo suficiente para dar uma olhadinha e observar que ainda estava vestida com
a roupa que uso para a caminhada diária.
E, como espelho é espelho – algo magnetizante –, não me
contive e voltei para dar mais uma espiadinha. Dessa vez, olhei-me demoradamente.
Conferi o meu visual só para constatar que estava cada vez mais difícil perder
peso. Já sabia! A balança me mantém informada diariamente. Mas sou
perseverante, vou continuar a caminhar, mesmo não gostando desse exercício. Eu
preciso!
Ajeitei ligeiramente as madeixas já grisalhas, e ia desviando
o olhar, na intenção de voltar as atividades, quando, magicamente, o meu
reflexo me fez ficar. Descobri que o meu 'arsenal de cosméticos anti-idade' não
anda surtindo o efeito desejado. Só para ter absoluta certeza do meu 'descobrimento', aproximei um pouco mais do espelho, até o meu rosto quase
colar na sua superfície lisa, refletiva e fria. Não gostei do que vi,
principalmente porque as marcas vincadas pareciam verdadeiras crateras.
Simplesmente assustadoras.
Diante daquilo que representava a real imagem ficou
impossível não me lembrar da rainha – bruxa, na estorinha da Branca de Neve –
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”
Logicamente, que não me atrevi a repetir tal pergunta, de
repente podia ouvir algo desagradável e ficar ainda pior. Mas, como sou
brasileira e não desisto nunca, dei umas boas gargalhadas, e isso resolveu,
temporariamente, o meu problema! Acho.
Entre um afazer e outro, vez por outra, me pegava frente ao
meu 'amigo espelho', descobrindo novas marcas do tempo.
Embora tenha sacudido a cabeça, na intenção de espanar para
longe as preocupações inerentes ao meu atual estado estético, ainda assim me
encontrava indignada. Em consequência disso, fiquei olhando para o meu reflexo
no espelho, mesmo que, com a imagem invertida, pensando se a sua função – a do
espelho – seria apenas essa mesmo, ou seja, alertar as pessoas vaidosas que o
tempo não perde tempo!
Às vezes, quero crer que sim, pois o uso de espelhos pelas
mulheres, remonta aproximadamente ao ano de 6000 a.C., sem contar que o uso dos
espelhos d’água para refletir imagens é mais antigo ainda, pois desde que o
mundo é mundo se sabe do seu uso.
Dizem ainda que os primeiros espelhos eram de cobre, e foram
fabricados na Mesopotâmia. A China passou a fabricá-los com bronze; e, só no
ano de 77 d.C., passaram a ser confeccionados com vidro e uma lâmina de ouro em
um dos seus lados. Com certeza, nessa época o objetivo era atender apenas a
vaidade humana. Posteriormente, o ouro foi substituído por outras substâncias,
dentre elas o alumínio e a prata, barateando assim o seu custo.
Antigamente, os móveis, de um modo em geral, exibiam um
exagero impressionante de espelhos no seu layout.
Eram comuns em guarda-roupas, penteadeiras, cristaleiras, porta-chapéus, etc.
Minhas lembranças me reportam ao período da infância, quando,
nos dias de chuva, minha mãe corria de um lado para outro cobrindo aquela
infinidade de espelhos, pois dizia que atraiam raios.
Bem, se o espelho, em algum tempo, foi apenas mais um
acessório da toalete feminina, não sei; mas, hoje, com certeza, se faz uso
deles em inúmeras situações.
Na arquitetura, os espelhos são utilizados para valorizar
ambientes, bem como ampliar espaços pequenos. Na arte milenar, da decoração e
harmonização de ambientes – Feng Shui –, os espelhos se fazem presentes de
forma especial; em alguns dos ramos da Física também presenciamos o uso de
espelhos; enfim, não pretendo me estender nesse particular.
O que posso afirmar, com certeza, é que o espelho sempre teve
um que de especial na minha vida. Fosse por causa dos medos dos raios, ou
quando ainda meninota fazendo caras e bocas e rindo de mim mesma ou, depois,
quando jovem, me embelezando para a vida. Ou, como hoje, para conferir minhas
medidas e, agora, também as rugas.
Mas é para refletir o meu avesso, que mais gosto dele, ou
seja, quando procuro nele o meu EU verdadeiro, não apenas a imagem exterior
refletida, mas o que sou em essência!
Nada é mais verdadeiro do que a própria imagem refletida no
espelho, literalmente.
Quando estiver diante de um, procure ver além do seu reflexo.