terça-feira, 31 de dezembro de 2019

LIVRO DA DÚVIDA


            O educador, gestor e líder João Maria Souza da Silva, um dos criadores e apresentadores do programa Pedagogia da Gestão,  no Canal 10, da TCM, está estreando no mundo literário, com o Livro da Dúvida, que será lançado em Natal, no  dia 5 de fevereiro, a partir das 19, no Coffee Shop São Braz, na Rua Campos Sales, 672 A, no bairro Tirol. Valor do exemplar: R$ 50,00.
      João Maria residiu em Mossoró, período em que serviu a Petrobras, chegando à direção-geral da empresa, fez um círculo de amizade que merece um lançamento na cidade, pois continua vindo semanalmente apresentar o Pedagogia da Gestão, programa com conteúdo cultural e literário, que divulga arte, especialmente a música local, prestigiando músicos que se apresentam semanalmente no programa.
       O Pedagogia da Gestão está no ar desde há mais de uma década, foi o primeiro programa a entrar na grade de programação da TCM.
       

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

PAULO COELHO

Imagem: Cândido Oliveira

Por Paulo Coelho
       Antonio era um funcionário de uma repartição pública em uma pequena cidade do interior.Certa tarde, viu dois galos brigando. Com pena dos animais, foi até o meio da praça para separá-los, sem dar-se conta que estava interrompendo uma luta de galos-de-briga. Irritados, os espectadores espancaram Antonio. Um deles ameaçou-o de morte, porque estava quase ganhando, e ia receber uma fortuna em apostas.
Com medo, Antonio resolveu deixar a cidade. As pessoas estranharam quando ele não apareceu no emprego - mas como havia vários candidatos para o posto, esqueceram rápido o antigo funcionário.
Depois de três dias viajando, Antonio encontrou um pescador.
- Onde você está indo? - perguntou o pescador.
- Não sei.
Compadecido da situação do homem, o pescador levou-o para sua casa. Depois de uma noite de conversas, descobriu que Antonio sabia ler, e propôs um trato: ensinaria o recém-chegado a pescar, em troca de aulas de alfabetização.
Antonio aprendeu a pescar. Com o dinheiro dos peixes, comprou livros para poder ensinar ao pescador. Lendo, aprendeu coisas que não conhecia.
Um dos livros, ensinava marcenaria, e Antonio resolveu montar uma pequena oficina. Ele e o pescador compraram ferramentas, e passaram a fazer mesas, cadeiras, estantes, equipamentos de pesca.
Muitos anos se passaram. Os dois continuavam a pescar, e contemplavam a natureza durante o tempo que passavam no rio. Os dois também continuavam a estudar, e os muitos livros desvendavam a alma humana. Os dois continuavam a trabalhar na marcenaria, e o trabalho físico os deixava saudáveis e fortes.
Antonio adorava conversar com os fregueses. Como agora era um homem culto, sábio, e saudável, as pessoas lhe pediam conselhos. A cidade inteira começou a progredir, porque todos viam em Antonio alguém capaz de dar boas soluções aos problemas da região.
Os jovens da cidade formaram um grupo de estudos com Antonio e o pescador, e logo espalharam aos quatro ventos que eram discípulos de sábios. Um dos jovens perguntou, certa tarde:
- Antonio resolveu abandonar tudo para dedicar-se a busca da sabedoria?
- Não - respondeu Antonio. - Eu tinha medo de ser assassinado na cidade onde vivia.
Mas os discípulos aprendiam coisas importantes, e logo transmitiam a outras pessoas. Um famoso biógrafo foi chamado para relatar a vida dos Dois Sábios, como eram agora conhecidos. Antonio e o pescador contaram o que tinha acontecido.
- Mas nada disso reflete a sabedoria de vocês - disse o biógrafo.
- Nada de especial aconteceu em nossas vidas.
O biógrafo escreveu durante cinco meses. Quando o livro foi publicado, transformou-se num grande êxito de vendas. Era uma maravilhosa e excitante história de dois homens que buscam o conhecimento, largam tudo que faziam, lutam contra as adversidades, encontram mestres secretos.
- Não é nada disso - disse Antonio, ao ler sua Biografia.
- Sábios precisam ter vidas excitantes - respondeu o biógrafo. - Uma história tem que ensinar algo, e a realidade nunca ensina nada.
Antonio desistiu de argumentar. Sabia que a realidade era o que ensinava tudo que um homem precisa saber, mas não adiantava tentar explicar isso.
"Que os tolos continuem vivendo com suas fantasias", disse para o pescador. E ambos continuaram a ler, escrever, pescar, trabalhar na marcenaria, ensinar os discípulos, fazer o bem. Só prometeram nunca mais tornar a ler livros sobre vida de santos, já que as pessoas que escrevem este tipo de livro não compreendem uma verdade bem simples: tudo que um homem comum faz em sua vida o aproxima de Deus.